São Paulo – O mercado árabe é prioritário para a Brasil Foods (BRF), nova empresa do setor de alimentos criada pela fusão da Sadia e da Perdigão. A afirmação foi feita ontem (19), pelo presidente da Sadia e copresidente do Conselho Administrativo da BRF, Luís Fernando Furlan, durante coletiva de imprensa em São Paulo. “Já temos um terreno no Oriente Médio, mas ainda não sabemos onde vamos abrir a nova fábrica”, disse Furlan, referindo-se ao projeto de instalar uma unidade produtiva nos países árabes, que está aguardando novas coordenadas.
Para o gerente do Departamento de Desenvolvimento de Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rodrigo Solano, a instalação de uma fábrica nos países árabes será bastante positiva para o fortalecimento da BRF no mercado árabe. “Um dos caminhos para empresas brasileiras é justamente estabelecer parcerias, joint-ventures nos países onde pretendem aumentar sua participação de mercado. Hoje existe a concessão de vários benefícios para empresas brasileiras que queiram se estabelecer nos países árabes”, afirmou Solano.
Os países árabes já estão entre os maiores mercados das duas companhias. De acordo com informações da assessoria de imprensa da Sadia, as exportações para o Oriente Médio responderam por 31% das exportações da companhia. A empresa não divulgou volume, nem receita exportada, porém, segundo relatório do Ministério do Desenvolvimento, em 2008 a Sadia exportou mais de R$ 50 milhões apenas para a Arábia Saudita, que é o maior mercado árabe para os alimentos processados do Brasil. Já a Perdigão divulgou que em 2008 os países do Oriente Médio foram destino de 25,6% das exportações da empresa.
A nova empresa já apresenta faturamento líquido anual de R$ 22 bilhões, 42 fábricas distribuídas por dez estados brasileiros e escritórios comerciais em dezoito países. A BRF emprega 116 mil funcionários, é a maior produtora e exportadora mundial de carnes processadas e a terceira maior exportadora brasileira. “Estamos criando uma grande multinacional brasileira de produtos processados e uma das três maiores empregadoras do país, atrás apenas da Vale e da Petrobras”, disse Furlan. Segundo ele, não haverá fechamento de fábricas e espera-se um aumento da demanda e, por conseqüência, da produção, devido aos esforços combinados das duas companhias para ampliação dos negócios.
Em relação aos consumidores, tanto a Sadia quanto a Perdigão garantem que não devem ocorrer mudanças e que serão mantidas todas as marcas e produtos oferecidos atualmente. “Queremos lançar novos produtos no exterior, mas as marcas tradicionais vão continuar. A BRF será marca institucional, mas vamos continuar com as marcas Sadia, Perdigão, Batavo”, disse o presidente da Perdigão e copresidente da nova empresa, Nildemar Secches.
Apesar da otimização dos meios de produção e da logística resultantes da fusão, não há indicação de redução de preços para o consumidor. De acordo com Secches, o principal motivo de não haver diminuição nos custos é o fato de as empresas serem apenas uma parte da cadeia produtiva, que envolve também os distribuidores, atacadistas e vendedores do varejo.
Em relação a uma possível concentração de mercado, Secches admitiu que a Brasil Foods terá uma fatia significativa de vários segmentos do setor de alimentação, mas destacou que ainda não se conhecem as dimensões da fatia de mercado referente à nova empresa. Segundo ele, uma parte significativa da atuação das companhias é no exterior.
“A BRF vai poder produzir mais, vender mais e exportar mais. Vamos privilegiar o crescimento e ser mais competitivos”, disse Furlan.
Acertando o passo
Num primeiro momento, enquanto o processo de unificação da estrutura operacional e de logística estiver em andamento, as duas empresas passarão a coexistir. Cada uma manterá seu próprio conselho administrativo e ambas as marcas permanecerão no mercado. Uma empresa especializada em gestão será contratada para ajudar na transição, que ocorrerá de forma gradual.
Os acionistas da Perdigão passam a controlar 68% das ações da BRF, e os da Sadia, 32%. Juntas, Sadia e Perdigão totalizam hoje 63 mil acionistas. Este grupo será responsável pela tomada de decisões da nova empresa, que terá administração profissionalizada. Os três mil produtos alimentícios da BRF serão vendidos em todo o Brasil e em mais de 100 países.