São Paulo – As lindas paisagens alagoanas serão o cenário do próximo livro do escritor Gilberto Abrão. Paranaense de Curitiba, filho de mãe e pai sírios, o autor já escreveu outros dois livros, ambos com temática árabe. O que o universo das arábias tem a ver com o clima quente das Alagoas? Isso é o que Abrão pretende descobrir em suas pesquisas na terra dos marechais, iniciadas em fevereiro, na capital do estado, Maceió. O ponto de partida para tanto é a relação entre cangaço e imigrantes da comunidade, principalmente aqueles que vieram da Síria e do Líbano.
“Sei que muitos mascates árabes acompanhavam os cangaceiros, até para vender seus produtos”, afirma Abrão. “A partir daí, vou conduzir a minha pesquisa sobre a presença árabe em Alagoas”, explica. A escolha pelo estado, e não por outro do Nordeste onde também houve registros do cangaço, como Pernambuco, onde nasceu o mais famoso dos cangaceiros, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi puramente sentimental. “Adoro essa terra: as praias, o clima, as pessoas, a comida, tudo”, diz Abrão. “Foi uma forma de conciliar a pesquisa com alguns dias de descanso também”.
Uma das primeiras atividades do escritor em Maceió é uma visita à Fundação Pierre Chalita, na próxima quarta, dia 29 de fevereiro. Trata-se de um espaço com museu de arte brasileira criado por seu patrono, o artista plástico e arquiteto Pierre Chalita, em 1980. Falecido em 2010, Chalita tinha ascendência árabe. “Serei recebido por representantes da fundação, que vão me ajudar com outros contatos”, explica Abrão.
Segundo o escritor, ambientar um romance de temática árabe no Nordeste foi também uma forma de fugir do óbvio. “Basta uma caminhada por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e até Curitiba para encontrar referências da comunidade numa loja, restaurante ou até mesmo nome de rua”, explica ele. “Não é o caso das capitais nordestinas, o que só aumentou a minha curiosidade”, explica.
O fruto da curiosidade de Abrão, ou seja, seu terceiro romance, deve ser lançado, de acordo com o autor, em meados de 2013.
Antes de se lançar no atual projeto, Abrão escreveu Mohamed, o latoeiro, pela editora Primavera Editorial, em 2009, e O Muçulmano e a Judia, pela Companhia Editora Nacional, em 2011. O primeiro trabalho narra a saga do sírio Mohamed, que se muda para o Brasil na década de 1920. Já o segundo traz uma história de amor “com fundo político”, nas palavras do escritor.
Alguma pista mais sobre o terceiro romance, além do fato de que a obra terá árabes e cangaceiros no enredo? “Ainda não, estou começando a organizar outras ideias agora, a serem reforçadas pela pesquisa em Alagoas”, diz. Seja como for, Abrão garante que, nos intervalos de seu trabalho, entre um mergulho e outro no mar de Pajuçara, em Maceió, inspiração é o que não vai faltar.