Roma – A reforma da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o combate à instabilidade nos preços dos alimentos em todo o mundo estão na pauta de José Graziano da Silva, o novo diretor geral da agência. O ex-ministro brasileiro será o primeiro latino-americano a ocupar o cargo, o mandato vai de janeiro de 2012 a julho de 2015. Com um sorriso fácil no rosto e muito confiante, Graziano falou pela primeira vez à imprensa nesta segunda-feira (27), após o resultado das eleições deste domingo, durante a 37ª Conferência da entidade, que vai até 02 de julho, em Roma.
Ciente das divergências profundas entre os 191 países membros da entidade, Graziano disse que a FAO deve continuar promovendo reformas internas com o objetivo de alcançar o mínimo de acordo entre as diversas áreas e as nações, principalmente em questões fundamentais para a promoção do desenvolvimento econômico e social e, consequentemente, a superação da pobreza e da fome do mundo. Para o novo diretor geral, sua eleição foi um bom exemplo, justamente por conta da transparência no processo e do apoio dos quatro candidatos aos dois finalistas: Graziano e o ex-chanceler espanhol Miguel Moratinos.
Segundo Graziano, a entidade deve estar preparada para enfrentar questões chaves como a instabilidade nos preços dos alimentos, que segundo ele é pior do que se pensa e não está restrita aos países africanos ou pobres, com inflação elevada, por exemplo, mas atinge também nações desenvolvidas. O diretor disse que em países árabes, por exemplo, onde a importação chega a 80% dos alimentos consumidos, a instabilidade nos preços tem sido notada e deve ser acompanhada. Mas para ele, a solução passa por uma maior estabilidade e reformas na economia mundial, caso contrário “sempre haverá reflexo na cotação de preços das matérias-primas para a indústria alimentícia”.
Meio ambiente e transgênicos
Para o novo diretor da FAO, a América Central e o Caribe merecem atenção da entidade no novo cenário ambiental que se desenha. Com os desastres naturais mais frequentes naquela região, ações de emergência no que diz respeito à segurança alimentar e outros campos de atuação da FAO terão de ser incorporadas ao cotidiano da entidade.
O meio ambiente e a produção de biocombustíveis foram outras questões levantadas durante a coletiva de imprensa, principalmente a indústria brasileira, que usa a cana-de-açúcar para produzir açúcar e etanol. Em tom de brincadeira, Graziano citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que no Brasil as lavouras de cana não desmatam a floresta, e que a distância entre a Amazônia e a zona produtiva canavieira é mais ou menos como a distância entre o Vaticano e o Kremlin, em Moscou. No entanto, o novo diretor demonstrou preocupação quando o assunto é a expansão da produção de cana, tanto no Brasil como em outros países não adequados ao cultivar. “A FAO deve acompanhar”, disse.
Sobre os transgênicos, outro tema tratado por Graziano, o diretor citou o exemplo brasileiro da Universidade de Campinas (Unicamp), que tem um trabalho sério de pesquisa no segmento, com o uso de plantas transgênicas para pesquisas também no setor farmacológico e não restrito apenas ao agronegócio. “Não podemos descartar a biotecnologia e a transgenia para a produção de alimentos. São os novos caminhos que a tecnologia oferece”, disse. O que Graziano diz ser um problema é o monopólio da produção de sementes, ainda nas mãos de poucos. “É o monopólio das sementes e não a transgenia o problema.”