São Paulo – O Brasil tem elementos que o condicionam a ser um líder global no combate às mudanças climáticas, mas tem desafios que podem prejudicar o seu papel e até o cumprimento das suas próprias metas contra as mudanças climáticas. Nesta quinta-feira (10), o combate ao aquecimento foi o tema central do 6º seminário Imprensa Internacional organizado em São Paulo pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Professor e coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo), Guarany Osório afirmou que o desafio do mundo ainda é conseguir manter o aquecimento global entre 1,5ºC e 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Se o Acordo de Paris for cumprido, disse, o aquecimento será de entre 2,1ºC e 2,8ºC. Ou seja, acima do limite. Se o acordo não tivesse sido aprovado, o aquecimento seria de aproximadamente 4ºC.
Limitar o aquecimento até 2º acima dos níveis pré-industriais tem uma razão: acima deste patamar, os ecossistemas começam a “disparar” gatilhos de ponto de não retorno. Quando isso acontece, os biomas não conseguem mais se regenerar e passam a perder flora e fauna.
No mundo, o principal desafio se relaciona à energia. No Brasil, a maior parte de geração de energia é limpa, mas o País deve combater as emissões decorrentes de desmatamento e as queimadas. “Se o Brasil não reduzir o desmatamento, principalmente na Amazônia, o Brasil corre o risco de não cumprir sua meta de redução de emissões no ano em que seriará a COP30”, disse Osório sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada em Belém, no Pará, no ano que vem.
Mudança do clima é um dos problemas
As metas do Brasil são de redução de 48% das emissões até 2025, de 53% até 2030 e zerar até 2050, sempre em relação aos patamares de emissão registrados em 2005. O professor destacou, ainda, que não há solução para aos desafios da Amazônia sem que as pessoas da floresta sejam incluídas no debate.
Osório e a coordenadora científica e cofundadora do FGV Clima e professora da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo), Clarissa Gandour, observaram que a sociedade, de forma ampla, precisa ser incluída no debate e conscientizada sobre o desafio climático, que já gera efeitos negativos no Brasil. Um exemplo são as inundações no Rio Grande do Sul, em maio. Eventos climáticos irão impactar cada vez mais o dia a dia e a renda dos brasileiros.
“O Brasil tem insumos críticos para ocupar um papel de protagonista no clima. Mas tem grandes desafios também”, disse Gandour. Ela citou como desafios a falta de governança climática, pois o “esforço climático” no País, disse, ainda é fragmentado, inclusive no governo. Citou, a necessidade de ampliar o “letramento climático”, que é conscientizar a população para o tamanho do problema e citou como desafios inserir os impactos econômicos em todo o processo de enfrentamento ao aquecimento global e adaptação às mudanças.
Fundador, professor titular e vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Matias Spektor analisou a presença do Brasil no mundo e apontou problemas que o país precisa combater tanto para ampliar sua inserção global como para, de fato, ser um líder da preservação ambiental. Spektor citou uma entrevista da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que relatou a existência de 1.750 pisas de pouso ilegais, feitas de terra batida, no interior da Amazônia e utilizadas pelo narcotráfico.
Spektor também citou desafios do Brasil em outras arenas do cenário global, como a dependência da sua relação comercial com a China, a dificuldade em promover uma concertação na América Latina por meio de organismos multilaterais e o ceticismo climático de parte da população.
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