Débora Rubin
São Paulo – Apenas dois países árabes participam da Copa da Alemanha. E, coincidentemente, os dois se enfrentam amanhã, às 13 horas (horário de Brasília), em Munique. O jogo Tunísia X Arábia Saudita deve atrair a atenção dos 10 milhões de tunisianos e dos quase 25 milhões de sauditas que vivem em seus respectivos países. No Brasil, no entanto, são colônias tão pequenas que haverá pouca torcida. Pelo menos por parte dos sauditas. A Embaixada da Arábia Saudita em Brasília disse que não fará nada especial.
Já os tunisianos que vivem por aqui estão um pouco mais animados. Na Embaixada tunisiana, o corpo diplomático deve assistir ao jogo em companhia de alguns amigos brasileiros. "Afinal, há um brasileiro na nossa seleção, o Francileudo dos Santos", lembra o conselheiro da Embaixada, Ridha Bouguerra. "Esperamos ganhar essa primeira partida e assegurar uma vaga para as oitavas de final. Nossa seleção conta com o apoio do presidente da República, o senhor Zine El Abidine Ben Ali, e de toda a população tunisiana", diz o confiante Bouguerra.
Em São Paulo, um brasileiro filho de tunisianos também faz festa com a seleção do país árabe. Antonio Akbar, que trabalha como facilitador – profissional que atua como intermediário nas relações empresariais -, não tem tantas esperanças quanto os representantes da Embaixada, mas vê a Copa como uma ótima possibilidade para aproximar o Brasil da Tunísia. "Não temos a ilusão de que vamos passar para segunda fase, mas vamos convidar outros povos que não estão na Copa para torcer por nós e vamos fazer uma grande festa em São Paulo", diz Akbar.
E quando ele diz festa, não está exagerando. A torcida tunisiana se reunirá nos três jogos da primeira fase na casa de um deles, na rua do Carmo, em São Paulo. Para o terceiro e último jogo, no dia 23, contra a Ucrânia, ele está organizando um grupo para sair da rua do Carmo e seguir para a Paulista – o país passando para a segunda fase ou não. A idéia é convocar brasileiros e sul-americanos que estão fora da Copa para torcer pelo país árabe, todos vestidos de vermelho, a cor da bandeira tunisiana. O movimento organizado por Akbar se chama "A Legião das Águias de Cartago por um milhão de amigos". Águias de Cartago é o apelido da Seleção Tunisiana.
Para tal festança, eles mandaram preparar bandeiras, camisetas, bandanas e até moletons – que posteriormente serão doados para a Campanha do Agasalho – tudo com a bandeira tunisiana estampada, para distribuir para "um milhão de amigos" que eles pretendem fazer ao longo da Copa.
O lema de Akbar é simples: se a seleção tunisiana não está entre as favoritas, ao menos a Copa é uma boa chance de aproximar os dois países comercialmente. "Será uma grande ação de marketing. Queremos mostrar aos brasileiros que existe um país chamado Tunísia, que é uma excelente porta de entrada para a Europa, Oriente Médio e, claro, África", diz Akbar. No que depender da Legião das Águias de Cartago, o astro da seleção tunisiana, o brasileiro naturalizado tunisiano Francileudo, será o porta-voz dessa conexão Brasil-Tunísia. "Se passarmos para a segunda fase, será uma loucura, vamos pedir para que a seleção tunisiana passe pelo Brasil antes de voltar para casa."
Brasileiro de coração tunisiano, Akbar se sai bem ao ser questionado para qual país ele torce mais. "Torço para que Brasil e Tunísia façam bons negócios", diz. Em 2005, a balança comercial entre o Brasil e a Tunísia totalizou US$ 167,25 milhões. Os principais produtos exportados pela Tunísia são têxteis e agrícolas, tais como tâmaras, laranjas, amêndoas, azeite de oliva, entre outros.
Os países
A Tunísia fica no Norte da África e é banhada pelo Mar Mediterrâneo. Faz divisa com a Líbia e a Argélia. A língua oficial é o árabe, mas seus habitantes falam francês – o país foi colônia da França até 1956. A capital é Túnis e a população de 10 milhões de habitantes. A renda per capita é de US$ 2.090.
A Arábia Saudita tem 24,6 milhões de habitantes e seu principal produto de exportação é o petróleo. O país detém 25% de todas as reservas mundiais de petróleo. A Arábia Saudita é o berço do islamismo. Ali ficam as duas mais importantes cidades para os muçulmanos, Meca e Medina. A capital do país é Riad. A língua oficial é o árabe e o chefe de estado é rei Abdullah bin Abdel-Aziz al-Saud. Em 2005, a corrente de comércio entre o Brasil e a Arábia Saudita foi de US$ 2,54 bilhões.

