São Paulo – De um universo de quatro mil indústrias de jóias, gemas e ouro no Brasil, entre 700 e 800 exportam seus produtos. A maioria destas empresas é de pequeno porte, em um setor em que as micro e pequenas companhias somam 80%. O restante é basicamente ocupado pelas médias empresas, enquanto as grandes limitam-se a algo em torno de três ou quatro em todo o Brasil. Assim, é das mãos dos pequenos empresários brasileiros que saem as jóias e o ouro que encantam consumidoras de diversas partes do mundo.
O Brasil é o segundo maior produtor de esmeraldas do mundo e o único de topázio imperial e turmalina Paraíba. O país também produz, em larga escala, citrino, ágata, ametista, turmalina, água-marinha, topázio e cristal de quartzo. Hoje, estima-se que o Brasil seja responsável pela produção de cerca de um terço do volume das gemas do mundo, com exceção do diamante, do rubi e da safira.
Em sua grande maioria, a produção de pedras preciosas é realizada por garimpeiros e pequenas empresas de mineração, presentes em quase todo o Brasil. Entretanto, a maior parte da produção se localiza nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará e Tocantins.
Em 2009, a cadeia produtiva do setor (incluem-se as atividades de mineração, varejo, joalheria, folhados e bijuterias, lapidação e obras de pedra, além de produtos de metais preciosos para indústria) faturou US$ 3 bilhões, dos quais US$ 1,802 bilhão vieram das exportações. No último ano, o setor era responsável por 310 mil empregos diretos.
Os principais mercados compradores variam com o tipo de material vendido. O Bahrein, por exemplo, está entre os maiores importadores de jóias de ouro do Brasil, enquanto a Arábia Saudita é um dos mercados mais importantes para as obras e artefatos de pedra do país. Arábia Saudita, Emirados Árabes e Egito estão entre os 10 maiores consumidores de jóias do mundo.
Segundo Hecliton Henriques, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), a maior parte das exportações brasileiras vem do ouro (em barra, fio ou perfilado). "O ouro subiu muito nos últimos três anos, por isso, teve um aumento significativo (do faturamento das exportações) puxado pelo ouro". Em 2008, o país alcançou o 12º lugar no ranking mundial da produção deste metal.
Já no que diz respeito a gemas e jóias, houve uma redução das exportações no ano passado. No entanto, o executivo acredita que estes produtos devem apresentar um aumento das vendas externas este ano, e espera que o faturamento de 2010 possa superar de 5% a 10% o obtido em 2008, período anterior à crise financeira mundial. Segundo o presidente do IBGM, a expectativa é que as exportações totais da cadeia produtiva alcancem US$ 2 bilhões em 2010.
Uma das ações para aumentar as exportações do setor é o convênio para o Projeto Setorial Integrado (PSI) de Apoio às Exportações de Gemas, Jóias e Bijuterias que o IBGM mantém com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) desde 2007. Já no primeiro ano da parceria, as vendas externas do setor cresceram 22%. Em fevereiro deste ano, o convênio foi renovado por dois anos e receberá um investimento total de R$ 18,3 milhões. Atualmente, cerca de 330 empresas participam do PSI, um aumento de 30% em relação ao convênio anterior.
Entre as atividades previstas estão a realização de road shows e a presença de pavilhões brasileiros em nove feiras internacionais, incluindo a JCK Las Vegas e a GJX Tucson, nos Estados Unidos, a Baselword, na Suíça, e a September Hong Kong, principais eventos do setor, além da Jewellery Arabia, no Bahrein, entre outras.
O convênio definiu também 18 mercados prioritários que serão alvos de ações de promoção das exportações do setor. Entre estes países, dois são árabes, os Emirados Árabes Unidos e o Catar. “Eles têm grande potencial de compra. Têm importação grande de jóias e renda que justifica o crescimento destes produtos, e o mercado brasileiro tem um nicho para participar”, explica Henriques sobre o foco que será dado aos países do Oriente Médio.
Design e exclusividade que fazem diferença
No ano passado, nove empresas brasileiras participaram da Jewellery Arabia, no Bahrein. De acordo com o presidente do IBGM, o produto nacional faz grande sucesso no país árabe. “No Bahrein, há um reconhecimento muito elevado da jóia brasileira”.
Uma destas empresas é a mineira Goldesign, que há cinco anos exporta suas jóias de ouro com pedras do Brasil, como topázio azul, topázio imperial, turmalina e água-marinha. Para Ana Márcia de Albuquerque, diretora-designer da companhia, o diferencial de suas jóias está no design. “Nossa jóia é charmosa, elegante. Elas (as árabes) amam o design. (As peças) São grandes, arrojadas. A jóia brasileira atrai pelo design. Ele é muito chique”, destaca.
A empresa existe há 10 anos e emprega 38 funcionários. Atualmente, 40% do faturamento da companhia vem das exportações para os Estados Unidos, Holanda, França, México, Caribe, Bahrein, Chipre e Emirados Árabes, sendo os dois últimos seus principais mercados.
Além da Jewellery Arabia, a Goldesign participa ainda de uma feira em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e deve expandir ainda mais sua presença nos eventos dos países árabes. “Estamos em estudo para participação em feiras no Kuwait e em Sharjah”, diz Ana Márcia. A executiva acredita que as exportações podem representar um valor ainda maior no faturamento da empresa. “Com certeza pode crescer. Conforme vamos fortalecendo a marca no país, aumenta a procura de clientes”, ressalta.
Na companhia paulista Denoir, as exportações representam um número ainda maior no faturamento, 70%. Entre seus mercados compradores estão os Estados Unidos, Europa, México, Paraguai e Uruguai. Com 50 funcionários, a empresa exporta há mais de 30 anos e fatura entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões por ano.
Patrícia Rodrigues, assistente de Comércio Exterior, conta que a empresa já participou de feiras em Abu Dhabi e no Bahrein, além de ir aos eventos de Basiléia, Nova York, Miami e Las Vegas. A Denoir exporta jóias em ouro 18 quilates com pedras preciosas, como brilhantes e safiras, e semipreciosas, como quartzos, topázios, pérolas, ametistas e turmalinas. O diferencial dos produtos? “São jóias artesanais. Não são em série. São pedidos de, no máximo, 50 peças”, revela.

