São Paulo – Algumas cidades parecem nunca se conformar apenas com o papel que a história lhe dá. E Ouro Preto, no interior de Minas Gerais, é uma delas. Responsável pela primeira corrida do ouro no país, no fim do século 17, o município também se tornou capital de província no século 18. Ouro Preto também foi um grande ateliê de um dos maiores artistas brasileiros e mestre das esculturas barrocas: Aleijadinho.
Antes que Aleijadinho fizesse da cidade uma relíquia a céu aberto, Ouro Preto foi palco de disputas e batalhas que mudaram o curso da história do Brasil. Alguns bandeirantes paulistas liderados por Duarte Lopes estavam na região conhecida como Gerais em 1694 para aprisionar índios. Quando Duarte Lopes parou para pegar água em um riacho, encontrou algo parecido com granito. O estranho material foi enviado ao Rio de Janeiro, onde se descobriu que o granito era, na verdade, ouro. Quatro anos depois, uma expedição liderada pelo bandeirante Antônio Dias de Oliveira encontrou o Pico do Itacolomi, descrito nos relatos de Duarte Lopes e que ficava no sítio recheado do ouro que procurava.
Em 1720 o vilarejo foi elevado à categoria de vila e ganhou o nome de Vila Rica. Mas entre 1707 e 1709, alguns terrenos com minas de ouro foram repassados aos portugueses, conhecidos como emboabas. Os paulistas se revoltaram e os dois grupos entraram em guerra, vencida pelos portugueses. A batalha ficou conhecida como Revolta dos Emboabas. Em 1719 o rei de Portugal, Dom João V, criou uma fundição e determinou que todo o ouro encontrado teria que ser fundido. Mais: um quinto do total deveria ser repassado à Coroa como imposto. Nova revolta foi controlada pelo Governador da Capitania, que determinou a prisão do líder revoltoso, Filipe dos Santos. Foi preso, julgado e esquartejado.
Em 1789, outra revolta atingiu a região. A Inconfidência Mineira foi provocada quando Visconde de Barbacena chegou à cidade para cobrar os impostos pagos com ouro e determinados pelo rei. Um grupo de conspiradores liderado por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se revoltou contra essa extorsão. Tiradentes foi traído e teve o mesmo fim que seu revoltoso antecessor, Filipe dos Santos. Sua cabeça foi pendurada na praça que leva seu nome e é a principal praça de Ouro Preto.
É na Praça Tiradentes que se pode comprar os artesanatos feitos na cidade, os tradicionais doces mineiros e até cachaças. Para ela, os moradores da cidade vão quando querem se divertir. A maioria dos bares, restaurantes e pizzarias de Ouro Preto fica ali. Esse, contudo, não é o maior patrimônio da cidade. O que a antiga capital mineira (que todos os dias 21 de abril volta a ser sede do governo) mais pode contar aos seus visitantes está escondido nos museus, como o Museu da Inconfidência, onde ficam objetos usados na época da Inconfidência e onde estão enterrados muitos revoltosos de 1789. E, durante uma caminhada tranquila é possível observar a aquitetura original das casas e as ruas de pedra que não perdem seu estilo original.
Ouro Preto também guarda um trecho da Estrada Real, que liga a cidade a Paraty, no Rio, e chega ao estado de São Paulo. O caminho foi muito utlilizado pelos bandeirantes que procuraram ouro. E também para escoar para o litoral o minério encontrado.
Além de um passeio pelos caminhos naturais da Estrada Real, as igrejas merecem destaque do visitante. O projeto de uma delas, a Nossa Senhora do Rosário, é um dos mais arrojados do Barroco brasileiro. Sua fachada e as abóbadas laterais são circulares, o que era incomum para os padrões da época, na metade do século 18.
Em alguns casos, como o que ocorre com o Santuário da Imaculada Conceição do Antonio Dias, o projeto arquitetônico é do pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa. É nesta igreja que fica o museu Aleijadinho e nela, também, que pai e filho estão sepultados. A importância e influência de Aleijadinho são observadas em quase todas as igrejas da cidade. A Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, por exemplo, foi construída entre 1731 e 1733. Mas, depois de pronta, sua fachada foi alterada para que fosse incluída nela uma torre central, desenhada pelo artista. Antonio Francisco Lisboa foi apelidado de Aleijadinho porque uma grave doença, provavelmente hanseníase, o fez perder pés e mãos, mas não o impediram de trabalhar.
Em 2003 um incêndio atingiu algumas construções da cidade, que foi tombada como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco em 1980. As construções atingidas foram restauradas e aquele incidente não impede que o visitante desfrute do melhor que a cidade tem a oferecer: sua paisagem natural que se revela entre uma ladeira e outra e seus tesouros arquitetônicos.
Onde ficar
Pousada Minas Gerais
Rua Xavier da Veiga, 303, Centro. Tel.: (31) 3551-5506
Grande Hotel de Ouro Preto
Rua Senador Rocha Lagoa, 168, Centro. Tel.: (31) 3551-1488
Pousada dos Inconfidentes
Praça Tiradentes, 134, Centro. Tel.: (31) 3551-5276
Pousada Bela Vista
Rua Padre Rolim, 964, São Cristóvão. Tel.: (31) 3551-3639
Onde comer
Casa dos Contos
Rua Camilo de Brito, 21, Centro. Tel.: (31) 3551-5359
Casa do Ouvidor
Rua Conde de Bobadela, 42, Centro. Tel.: (31) 3551-2141