Isaura Daniel
São Paulo – O Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), união aduaneira formada por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar, enviou ao Mercosul, em fevereiro deste ano, proposta para iniciar as negociações de um acordo de livre comércio com o bloco.
De acordo com o chefe da divisão da União Européia e Negociações Extra-regionais do Itamaraty, Ronaldo Costa Filho, que forneceu a informação à ANBA, o interesse surgiu após a visita que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez à região, no final do ano passado. Na época, Lula manifestou a intenção de ampliar o comércio com o Oriente Médio, o que de fato já vem ocorrendo (leia matéria sobre o assunto hoje na ANBA).
A proposta do GCC, porém, foi enviada à Argentina, país que preside o bloco, por meio da embaixada do país na Arábia Saudita, com a assinatura do vice-ministro saudita de Assuntos Econômicos e Culturais do Ministério de Relações Exteriores, Youssef Sadun Al-Sadoun. De acordo com Costa Filho, neste momento os quatro países membros do Mercosul estão sendo consultados sobre o interesse no tratado.
Os países do GCC representam um grande potencial de comércio para o Mercosul. A renda per capita média das seis nações é de US$ 16 mil. Só nos Emirados Árabes Unidos, a renda per capita chegou a US$ 19,5 mil no ano passado. Já no Catar o valor foi de mais de US$ 32 mil, um dos maiores do mundo. Juntos, os países do bloco somam um PIB de US$ 373 bilhões.
"Além de já terem uma união aduaneira, os países do Golfo terão uma moeda comum a partir de 2007. Os países já têm uma experiência de integração", diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby, que também é presidente da Associação de Empresas Brasileiras para a Integração de Mercados (Adebim), ao enumerar as vantagens que o bloco sul-americano teria ao fechar um acordo com a região.
Marrocos e Egito
Além do GCC, uma outra nação árabe, o Marrocos, também demonstrou, durante a visita do ministro de Negócios Estrangeiros e da Cooperação do país, Mohamed Benaïssa, ao Brasil, em abril deste ano, vontade de ter um acordo com o Mercosul. Os marroquinos, porém, ainda não enviaram um pedido formal.
O Egito, nação árabe do Nordeste da África, assina amanhã (7), no primeiro dia da Cúpula do Mercosul, em Porto Iguaçu, na Argentina, um acordo prévio de livre comércio com o bloco. A assinatura, que vai ocorrer no Iguazú Gran Hotel, vai marcar o lançamento das negociações em torno de tratado, que devem estar concluídas até o final do ano.
Quem vai assinar o documento, por parte do Egito, é o negociador do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), Magdi Farahat. De acordo com Costa Filho, do Itamaraty, a partir da reunião de Cúpula será formada uma comissão que vai começar a se reunir até definir todo o conteúdo do tratado.
O Egito já é um forte parceiro comercial do Brasil. No ano passado, o país gastou US$ 462 milhões com produtos brasileiros. Só no primeiro semestre de 2004, o Brasil embarcou o equivalente a US$ 313 milhões para o país árabe, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 68 bilhões e 71,9 milhões de habitantes. Um tratado deve ampliar ainda mais estes números.

