São Paulo – Não há país no mundo que possa almejar o desenvolvimento sem uma política bem feita de dados. A ideia foi defendida nesta quinta-feira (11) por Ronaldo Lemos (foto acima), advogado brasileiro especializado em tecnologia, que fez palestra em evento virtual promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O webinar foi acompanhado por cerca de 700 pessoas no Brasil e exterior.
De acordo com Lemos, o mundo está vivendo uma economia de dados e os países precisam ter política na área. As legislações de dados adotadas devem tanto proteger as informações como promover a inovação. “Tem que permitir que o dado circule e possa ser usado para a inovação”, disse. Para o especialista, essas duas finalidades – a proteção e a inovação – são igualmente importantes.
Lemos mostrou como a coleta de dados está presente na sociedade atual, com informações sendo geradas sobre as pessoas e o mundo o tempo todo, em situações como acesso à internet, compras no supermercado, perguntas feitas com voz do celular, as câmeras inteligentes nas ruas.
O advogado fez um resgate histórico de como o mundo chegou a esse patamar, primeiramente com a internet que era apenas uma rede para conexão entre os computadores nos anos 1960, passando na década de 1990 a ser uma rede de pessoas. “A gente está nesse momento onde muito valor está sendo gerado conectando pessoas”, afirmou.
Mas está em curso uma nova fase também, de conexão para objetos. Qualquer objeto pode ser conectado à rede e assim ganhar novas utilidades, desde um ferro elétrico até a infraestrutura das cidades. “Da mesma forma que conectar pessoas gera valor, conectar objetos também gera um valor extraordinário e é uma tendência que está ainda aberta à exploração e inovação de todos os países, não é algo que está consolidado”, falou.
Ainda a internet dos serviços, feita principalmente com inteligência artificial, é algo que está cada vez mais presente na vida das pessoas. “Se a gente tem esse movimento todo acontecendo, cada vez mais a gente vai entrar em uma economia dos dados”, afirmou Ronaldo Lemos durante o webinar.
China tecnológica
O palestrante falou sobre a China como um exemplo de transformação tecnológica. Ele apresenta o programa de televisão “Expresso Futuro”, do Canal Futura, e fez gravações em 20 cidades chinesas. Lemos lembrou que a China era um país pobre e agrário na década de 1940 até os anos 1970 e conseguiu dar um salto, primeiro para se tornar uma economia industrial e depois uma economia tecnológica.
Lemos identificou os quatro pilares adotados pela China para o desenvolvimento da competitividade em tecnologia da informação: inteligência artificial, computação em nuvem, internet das coisas e big data. “São os quatro pilares que o país está usando para promover desenvolvimento da economia, criação de empregos, gerenciamento populacional, distribuição de renda e oferta de serviços públicos”, disse.
O advogado também citou o projeto Smart Dubai, de adoção da inteligência artificial para o desenvolvimento do emirado, como uma fonte de inspiração para cidades brasileiras, e sugeriu que a Câmara Árabe promova a troca de experiências entre o Brasil e os países árabes do ponto de vista da tecnologia da informação. A ideia foi prontamente aceita pelo presidente da entidade, Rubens Hannun, que participou do webinar.
Lições em um mundo conectado
Lemos compartilhou cinco lições das viagens que faz pelo mundo, que podem ser úteis para as pessoas no cenário de transformação tecnológica rápida: a capacidade de aprender, a busca de conhecimentos para aplicação prática, o trabalho em equipe, a transformação de conhecimento em produtos e serviços e a conexão da transformação digital não só com a capacidade institucional e industrial do país, mas também com os indivíduos.
O especialista afirmou que o desafio dos países em desenvolvimento é se tornarem competitivos enquanto tecnologia da informação. “O Brasil é muito bom em transformar recursos naturais em produtos e serviços, mas no mundo de hoje isso não é suficiente, é preciso aprender a transformar conhecimento em valor econômico”, disse.
Questionado por Hannun sobre o patamar em que o Brasil se encontra na transformação tecnológica, ele disse que um dos desafios do País é a transformação digital do governo, apesar de que há avanços e aspectos positivos na área. Ele entende que há um bom planejamento de transformação digital no Brasil, mas é preciso implementação.
Blockchain
Após pergunta do secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, Lemos falou sobre o blockchain, ferramenta de certificação que descreveu como descentralizada e auditável e que pode ser útil para o agronegócio brasileiro. “Para o agronegócio o blockchain poderia ter um impacto muito positivo”, disse, indicando o uso para certificação de produtos e processos, inclusive ligados a questões ambientais, agregando valor aos produtos diante de concorrentes.
O webinar “Perspectivas da Economia, Inovação e Tecnologia para 2021” teve também palestra do economista Jarmo Kotilaine, que atua no Bahrein, que falou sobre o cenário econômico dos países árabes. Profissionais da Câmara Árabe apresentaram no evento o calendário de atividades da entidade para 2021.
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