São Paulo – O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, que é também decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, acredita que o enfrentamento mundial da pandemia do coronavírus vai criar uma esfera de solidariedade entre os povos e os governos dos países.
“Não somente entre os países árabes e o Brasil, mas a nível mundial, essa crise, sem precedentes na história pós-moderna, vai nos levar a pensar e a repensar as relações, e a cuidar melhor da cooperação porque, quando menos você imagina, você precisa do vizinho”, afirmou Alzeben à reportagem da ANBA.
O embaixador afirma que pela primeira vez em muitos anos, o mundo enfrenta um inimigo comum, que é o coronavírus. Ele lembra que neste momento, o mundo todo está vulnerável à pandemia. A Embaixada da Palestina no Brasil cancelou todas as suas atividades dentro e fora da sede para ajudar a conter a disseminação de covid-19.
Alzeben relata que o Conselho dos Embaixadores Árabes está em contato virtual e diário para trocar informações e se apoiar em assuntos pertinentes à pandemia. Algumas embaixadas precisaram atuar pela volta para casa de cidadãos de seus países que se encontravam no Brasil. No âmbito do Conselho, não foi registrado nenhum caso da doença.
O embaixador afirma que a relação do Brasil com os países árabes se mantém dentro da normalidade que cabe nas circunstâncias atuais. Mas ele percebe que há impactos no comércio entre as regiões. O Brasil é um importante fornecedor de alimentos para o mercado árabe e os países árabes fornecem para o mercado brasileiro petróleo e fertilizantes.
“O agronegócio depende de gente, e as pessoas estão em quarentena, o agronegócio precisa exportar, mas os meios de transporte e os portos também estão comprometidos”, afirma Alzeben. Ele afirma que vivemos uma situação sui generis, onde é difícil prever o dia de amanhã. “Tudo que depende de esforço humano está comprometido”, afirma.
O embaixador lembra que nesse cenário do comércio internacional estão ainda os valores do petróleo e o preço das moedas dos países. Alzeben acredita que não haverá a mesma fluidez de envio de mercadorias para os países árabes. “Temos que resistir e tratar de ultrapassar essa fase, e esperamos que não dure muito tempo”, afirma.
O diplomata relata que seu país, a Palestina, teve a confirmação de 119 casos de coronavírus e uma morte. A situação do país é delicada porque vive sob ocupação militar, segundo Alzeben. Estão sendo tomadas várias medidas, no entanto, como fechamento das cidades para o turismo e a priorização do atendimento aos doentes no sistema de saúde.
A crise vem afetando a economia e há falta de material médico, como em todas as partes do mundo, de acordo com o embaixador. Ele relata que a situação mais crítica é na Faixa de Gaza, onde vivem 1,8 milhão de pessoas em um espaço territorial muito pequeno. Segundo Alzeben, a população palestina tem consciência da situação do coronavírus.
“O povo palestino, por ter vivido situação de ocupação militar, toque de recolher, está talvez mais preparado do que outros povos para viver a escassez. Vivemos por muitos anos em situações difíceis, o toque de recolher é algo comum ao longo dos últimos 50 anos. Lamentavelmente, estamos familiarizados com essa situação, mas ela não deixa de ser um perigo e uma ameaça, que esperamos superar”, afirmou.
A embaixada da Palestina também acompanha a situação dos palestinos que vivem no Brasil, por meio de um grupo virtual criado com 110 pessoas chaves que atuam nessas comunidades. O objetivo é trocar informação sobre possíveis casos e sobre as necessidades dessas pessoas.