Roma, Itália – Música, dança, performances e espetáculos de teatro, regados a uma boa dose de tecnologia, entram em cena a partir desta terça-feira (21) nos palcos de Roma. É o Roma Europa Festival, evento que completa 25 anos e traz à Cidade Eterna 38 atrações de vários países, entre eles Tunísia e Marrocos. Até o início de dezembro, os artistas se apresentarão em diversos espaços romanos, como o Auditorium Parco della Musica e a Villa Médici. O festival dura 71 dias.
O Roma Europa nasceu na década de 80, com a intenção de apresentar ao público romano produções contemporâneas de teatro, dança e música e colocar a Itália na rota dos grandes festivais europeus similares. “Roma Europa conta a complexidade da contemporaneidade”, diz Fabrizio Grifasi, diretor do festival. Nasce como um espaço aberto à pesquisa de novos meios de expressão artística, que traz aos palcos produções inovadoras também do ponto de vista tecnológico.
Este ano, por exemplo, a relação entre tecnologia e arte aparece em cinco espetáculos, que integram a seleção Metamondi, na edição do catálogo e na transmissão em tempo real de algumas apresentações. Entre os espetáculos, destaque para Sans Objet, no qual dois bailarinos dividem o palco com um robô industrial. No catálogo que será distribuído ao público, uma parceria com a Universidade Sapienza de Roma permitirá o uso da Realidade Aumentada (RA) e de QR Code para o recebimento de informações. Assim, com o celular ou a webcam apontada para o código impresso no catálogo, o espectador poderá receber mais dados e imagens do espetáculo.
A transmissão em tempo real fica por conta da parceria com a Telecom Itália, que disponibilizará no site www.telecomitalia.it alguns espetáculos como o de abertura, Orphèe, produzido pela companhia francesa Montalvo Hervieu, de José Montalvo e Dominique Hervieu, que já se apresentaram no Brasil. “A platéia será ampliada, será possível compartilhar o festival com muito mais gente, transmitido o evento, com qualidade, também para o público internacional, por exemplo”, diz Grifasi.
Presença árabe
Se na platéia busca-se atravessar fronteiras, nos palcos isso é uma realidade cultivada há 25 anos. E a forte presença de artistas árabes é um exemplo. O tunisiano Radhouane El Meddeb é um personagem bastante curioso. Ator, bailarino e coreógrafo, El Meddeb fará três apresentações durante o Roma Europa no mês de outubro (21, 23 e 24), na Villa Médici. Sua performance dura o tempo de uma boa receita de cuscuz – acompanhada de todo o aroma do prato árabe. No palco, todos os ingredientes do cuscuz, um fogão e um corpo ágil, que dança enquanto corta, mexe e cozinha os alimentos.
O cuscuz, explica El Meddeb, é um prato feito para celebrar momentos importantes das famílias árabes e africanas, como um nascimento, um matrimônio ou um funeral e, independentemente da alegria ou da dor da circunstância, é sempre preparado com uma “sensual solenidade”. Talvez por esse motivo tenha sido natural para o artista unir culinária à dança. Com a performance Je Danse Et Je Vous en Donne a Bouffer, El Meddeb exalta a diversidade, trazendo para Roma gestos, movimentos, cores e cheiros da Tunísia.
Outro grupo com presença forte no Roma Europa é o grupo Acrobático de Tânger com o espetáculo teatral Chouf Ouchouf (que quer dizer observa, mas com atenção), dirigido pelos suíços Dimitri de Perrot e Martin Zimmermann. As apresentações serão nos dias 28 e 29 de setembro, no Teatro Eliseo, mas também poderão ser vistas pela internet, no site da Telecom Itália.
Formado por 14 integrantes, a trupe mostrará ao público a realidade de Tânger e de sua gente. Com cores vivas, dança, cantos e jogos de corpo, os bailarinos representam a sociedade árabe, do vendedor de rua ao burocrata do governo. Mostra a beleza, mas também o equilíbrio instável, o anacronismo e a corrupção. A mensagem acaba por ser universal: são situações cotidianas que podem ser vividas tanto na confusão de um suk árabe como num metrô europeu.
O grupo Acrobático de Tânger foi criado em 2003 por Sanae El Kamouni, depois de ter passado uma temporada na França estudando Arte do Espetáculo. De volta ao Marrocos, El Kamouni ‘olhou com atenção’ suas origens. Segundo ele, a acrobacia no país árabe é ancestral e de alto nível. No início, era uma disciplina de guerra. Os acrobatas faziam, por exemplo, a pirâmide humana para observar os inimigos. Era uma arte passada de pai para filho.
Com a corrida dos marroquinos às grandes cidades, a acrobacia foi parar no circo e em atrações feitas para turistas. Ao fundar o grupo, o objetivo de El Kamouni era valorizar a acrobacia apresentando-a ao contemporâneo. O primeiro espetáculo foi criado em 2004 e, desde então, El Kamouni convida coreógrafos contemporâneos reconhecidos internacionalmente para dirigir a trupe marroquina. Em 2009, com o espetáculo Taoub, o grupo Acrobático de Tânger conquistou a Broadway.
Mais informações:
http://romaeuropa.net