São Paulo – A atriz Vera Holtz já foi vilã, mocinha e feirante na TV e até uma mulher em busca de ascensão social na peça “Pérola” (1995), mas pela primeira vez ela interpreta uma personagem árabe, no espetáculo “Palácio do Fim”, que passou pelo Rio de Janeiro e agora está em cartaz em São Paulo. A atriz precisou até aprender algumas palavras árabes para dar vida a uma opositora de Saddam Hussein neste drama que tem também Camila Morgado e Antonio Petrin.
Escrita pela canadense Judith Thompson, a peça é dividida em três monólogos e retrata o drama de três personagens durante os conflitos no Iraque. Camila Morgado interpreta a soldado norte-americana Lynndie England. Fotos em que ela leva pela coleira detentos na prisão de Abu Ghraib circularam o mundo em 2003. Neste monólogo, a personagem reflete as imagens que mostraram ao mundo a realidade das prisões iraquianas.
Antonio Petrin retrata o drama do inspetor de armas inglês David Kelly, que revelou à rede britânica BBC que não existiam armas de destruição em massa no Iraque, motivo que os Estados Unidos e o Reino Unido usaram para invadir o país em março de 2003. Durante sua passagem pelo palco, Petrin revela as angústias do cientista pouco antes de ele ser encontrado morto no bosque perto da sua casa, na Inglaterra.
A personagem de Vera Holtz é a integrante do Partido Comunista iraquiano Nehrjas Al Saffarh. A interpretação de Vera é atemporal, pois sua personagem morreu em um bombardeio na Guerra do Golfo, em 1993. Depois da sua morte, ela revela os horrores que viveu sob o regime de Hussein e os sofrimentos por que passou: um deles, a tortura do filho de oito anos no Palácio do Fim, que era, na verdade, a câmara de tortura dos opositores do regime.
Durante sua apresentação, Vera fala palavras em árabe, mas não muitas. “Senão as pessoas perdem o foco no espetáculo, pois não conhecem o idioma”, diz. Ela também recita um poema da iraquiana Nazik Al Malaika, morta em 2007. Além de pesquisar sobre a história e a realidade dos países árabes na internet, Vera teve encontros com amigas que lhe ensinaram o idioma.
“Me encontrei com as donas do restaurante Tenda do Nilo, no Paraíso, que durante uma tarde inteira me ensinaram algumas palavras, falaram da cultura, da culinária. Depois, uma amiga da [Organização Não Governamental] Médicos Sem Fronteiras, que vive viajando pelos países da África, me falou sobre a poesia árabe”, diz Vera.
Vera teve quatro semanas para estudar o idioma. “Estudei até em alguns livros, mas confesso que eram os infantis”, diz. Ela aprendeu a escrever algumas letras e até decorou poemas de Nazik Al Malaika. “É um idioma lindo e muito rico. Mas tem uma acentuação muito diferente.”
A ideia de adaptar “Palácio do Fim” para o português é do diretor da peça, José Wilker. Ele ficou surpreso com o texto quando assistiu ao espetáculo há três anos, em Nova York. Vera demorou cerca de um ano para aceitar o papel. “O Zé [Wilker] se impressionou de ver como a autora retrata um tema tão cruel com tanta poesia. Eu, no entanto, não conseguia nem ler a tortura de um filho, porque sou uma pessoa absolutamente alegre”, diz.
Ela se convenceu a participar do elenco porque, segundo Vera, Wilker tinha uma única atriz em mente para este papel quando adaptou o espetáculo: ela. “O Zé disse que comprou a peça pensando em mim. Eu li, reli. A personagem me pegou e comecei até a sentir ciúmes dela”, revela a atriz.
Serviço
“Palácio do Fim”. De 20/01 a 11/03. Sexta-feira e sábado, às 21 horas e, domingo, às 18 horas, no Teatro Anchieta, Sesc Consolação, Rua Dr. Vila Nova, 245, Consolação. Duração: 90 minutos.
Ingressos: R$ 32, R$ 16 (usuários matriculados no Sesc e dependentes, maiores de 60 anos, professores da rede pública e estudantes) e R$ 8 (trabalhador do comércio e serviços e dependentes matriculados no Sesc).
Informações no telefone (11) 3234-3000.