São Paulo – O Produto Interno Bruto (PIB) dos Territórios Palestinos Ocupados cresceu 9,9% nos ano passado, de acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira (05) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). A organização alerta, porém, que o crescimento registrado em 2011, e também no início deste ano, não é sustentável e que as perspectivas de longo prazo para a economia palestina, na realidade, pioraram.
O levantamento diz que o avanço do ano passado reflete o processo de reconstrução da Faixa de Gaza após o ataque israelense ocorrido em dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Em 2011, segundo a Unctad, Gaza cresceu 23%, enquanto que a economia da Cisjordânia avançou 5,2%. No entanto, o PIB per capita de Gaza permanece 10% abaixo do patamar de 2005.
Além disso, o estudo informa que o crescimento ocorreu sobre uma base pequena de comparação e foi financiado basicamente por doações internacionais, não por receitas oriundas da própria região. A organização destaca que, apesar do avanço do PIB, no ano passado houve redução da média salarial, perda de produtividade e o índice de desemprego permaneceu em 26%.
"Há pobreza severa e contínua e insegurança alimentar crônica", diz a Unctad. "A insegurança alimentar afeta dois em cada três palestinos nos Territórios Ocupados, mas é mais séria em Gaza. É também alarmante o nível de pobreza em Jerusalém Oriental, estimado em 78%, maior do que na Cisjordânia e em Gaza", ressalta.
A entidade declara que entre os diferentes fatores que tornam a economia palestina instável, a ocupação é de longe o que mais pesa. Gaza permanece sob bloqueio israelense e a circulação de pessoas e mercadorias na Cisjordânia é dificultada pelo muro que cerca a região e pelos postos de controle israelenses.
"A demolição de moradias e da infraestrutura palestina aumentou em 2011 e a expansão de assentamentos israelenses, especialmente ao redor de Jerusalém Oriental e Belém, piorou a fragmentação física entre os vários ‘bantustãos’ palestinos, ou enclaves desconectados”, afirma a organização. "Bantustãos" eram territórios destinados à população negra durante o apartheid sul-africano.
Para a Unctad, a ocupação praticamente acabou com as oportunidades de comércio e de investimentos. O relatório informa que Israel respondeu por 83% do comércio com os palestinos em 2011 e por 84% do déficit comercial dos territórios. Além disso, a ocupação corroeu os recursos naturais e fundiários dos territórios. Há restrições a construções em área urbanas e de exploração de terras agrícolas e uso exagerado por Israel de um dos bens mais escassos na região, a água.
Na seara da agricultura, por exemplo, a organização diz que a contribuição do setor à economia palestina caiu de 12% em 1995 para 5,5% em 2011 e que apenas 35% da área irrigável é de fato irrigada, o que impede a geração de 100 mil empregos por ano e custa 10% do PIB. Além disso, por causa de restrições à navegação no Mediterrâneo, a indústria da pesca em Gaza praticamente desapareceu.
O relatório declara, porém, que a agricultura tem condições de se recuperar rapidamente, mas há omissão por parte da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e dos doadores internacionais. A entidade sugere a tomada de "medidas corretivas" para minimizar os efeitos da ocupação, como a criação de um banco de desenvolvimento agrícola que possa garantir crédito, seguro, apoio à comercialização e outros serviços aos produtores.
"Todos os esforços devem ser centrados em prevenir maior avanço dos assentamentos e a ocupação da base produtiva palestina", destaca o estudo.
O quadro é agravado, segundo a Unctad, pele esforço fiscal realizado pela ANP sob recomendação de outras instituições multilaterais, com redução de despesas e aumento da arrecadação. Apesar disso, a Palestina continua a acumular déficit em suas contas. Para a agência da ONU, a recomendar austeridade fiscal neste momento de crise internacional "é ignorar a realidade da ocupação" e pode ser um "tiro no pé", pois cortes suplementares de despesas vão levar à desaceleração econômica.
"Pressões adicionais sobre os empregos públicos e salários ameaçam deprimir ainda mais a economia, abalar a coesão social e colocar em risco o progresso feito na criação de um arcabouço institucional para um Estado Palestino viável", declara o levantamento, acrescentando que há atualmente uma tendência de diminuição das doações internacionais.

