São Paulo – O artista palestino Abdul Rahman Katanani (foto acima) está fazendo residência artística no Brasil e terá uma série de atividades em Sergipe e São Paulo, inclusive encontros com o público, até o final da próxima semana. Katanani é um dos grandes nomes da arte contemporânea internacional e está no País como convidado da Beit21, uma plataforma voltada para o intercâmbio artístico e cultural Sul-Sul, ou seja, entre países em desenvolvimento.
Katanani nasceu em 1982 no campo de refugiados de Sabra, no Líbano, um ano depois do massacre ocorrido no local. O artista cresceu no campo e sua arte é principalmente uma reflexão sobre a vida como refugiado e entre refugiados. O artista usa para criar as instalações e esculturas os materiais disponíveis no campo, como papelão, panos velhos e utensílios antigos. As esculturas em arame farpado são uma marca do artista.
O curador da residência, Geraldo Campos, conta que conheceu o trabalho de Katanani em uma galeria no Líbano e chamou sua atenção a onda gigante de arame farpado que ele criou e que parecia se quebrar sobre o visitante. Campos foi atrás de saber mais sobre o trabalho do artista e o conheceu em Paris, na França, algum tempo depois. “A arte dele é muito forte, impactante. Além de ser uma artista, ele é uma pessoa que tem uma reflexão sobre a arte”, conta Campos, que também é um dos fundadores da Beit21.
O curador destaca a maneira com que Katanani lida com a singularidade de produzir com estética a partir de um campo de refugiados. O palestino começou a pintar ainda na infância sobre a realidade cotidiana do campo em que vivia e começou a entrar no circuito de arte como cartunista. O trabalho dele é considerado por críticos um retrato realista e vívido das dificuldades e da resistência dos palestinos.
O palestino começou a agenda da residência artística no Brasil por Sergipe, onde já teve encontros e fez trabalhos com artistas de diferentes áreas. Nesta sexta-feira (15), às 17 horas, ele falará com o público sobre o tema “Entre campos e checkpoints, dois olhares sobre a Palestina”, bate-papo que terá também participação do sociólogo palestino Baha Hilo, com mediação de Ahmed Zoghbi, um dos fundadores da plataforma Beit21. O trabalho de Hilo tem como foco o processo educativo. Ele leva grupos de estrangeiros para conhecerem a realidade palestina.
O encontro entre Katanani, Hilo e Zoghbi ocorre no Teatro Elic, no Cine Trianon, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, como parte da programação do 36º Festival de Artes de São Cristóvão (Fasc). No mesmo local, às 14 horas, será exibido o filme “Sobre Futebol e Barreira”, seguido de debate com o diretor Arturo Hartman, outro fundador da Beit21. Como parte do Fasc, pela manhã Katanani fará uma intervenção artística com artistas locais. Também pelo festival, no dia 16, às 14 horas, Ahmed Zoghbi dá uma oficina literária com o tema “Literatura de Resistência”, sobre literatura palestina, no Salão Paroquial da Igreja Matriz de São Cristóvão.
Na próxima semana, Katanani estará em São Paulo. Na segunda-feira (18), às 19h30, ele terá um bate-papo aberto ao público com a artista plástica brasileira Lia Chaia, com o tema “Arte no campo: a permanência do provisório”. O encontro ocorre no Ateliê 397, no bairro da Pompeia, na capital paulista. Na quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, o palestino fará a oficina “Arte e território de extermínio: corpos negros, corpos palestinos”, na Ocupação 09 de Julho, com Baha Hilo e o artista plástico brasileiro Moisés Patrício. A Ocupação fica no bairro da Bela Vista.
A plataforma Beit21 foi lançada no ano passado e uma das suas primeiras ações foi a realização de uma programação no Brasil, em setembro de 2018, em homenagem à atriz palestina Hiam Abbass, o que incluiu realização de peça de teatro, exibição de filmes, debates, entre outras atividades, com a presença de Hiam. A vinda da atriz palestina foi o ponto central do 1º Ciclo de arte Palestina no Brasil.
Neste ano, a plataforma trouxe Katanani como convidado para uma residência artística, o que é parte do 2º Ciclo de Arte Palestina no Brasil. Em 2020 será aberto um edital como chamada para artistas se candidatarem à residência, segundo Geraldo Campos. A plataforma é voltada para toda a região Sul-Sul, mas atualmente está focada no trabalho de aproximação entre artistas brasileiros e palestinos.
A realização do ciclo e a residência artística têm apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e estão sendo promovidos pela Beit21 com a parceria com outras entidade e organismos, como Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (Adufs) e a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju). O lançamento da Beit21 também teve apoio da Câmara Árabe.
Serviço:
2º Ciclo de Arte Palestina no Brasil
1ª Experiência de Residência Artística
Sergipe – São Paulo
Promoção: Beit21 – Mais informações aqui