São Paulo – Com uma sede recentemente instalada em São Paulo, a Worldwide Initiatives for Grantmaker Support (Wings) é uma rede global que congrega outras redes de filantropia no mundo. O trabalho da entidade é oferecer treinamentos, orientação, compartilhamento de informações e trocas de experiências entre centenas de organizações humanitárias nos vários pontos do globo. E desde janeiro deste ano estas atividades estão sob comando de um árabe, o palestino Atallah Kuttab.
Nascido em Jerusalém, Kuttab é engenheiro de formação e já deu aulas em universidades na Palestina e na Escócia. Tem 59 anos de idade e há vinte se dedica à área de filantropia. Atualmente, ele mora na Jordânia, onde também preside a Saaned, organização sem fins lucrativos que atua para o desenvolvimento sustentável nos países árabes. Em sua primeira vinda ao Brasil, para uma das quatro reuniões anuais da organização, ele conversou com a reportagem da ANBA e falou sobre o trabalho da Wings e os principais desafios da filantropia para brasileiros e árabes.
“A Wings lhe dá informações sobre filantropia global. Cada um sabe de sua própria região, mas as informações de várias regiões estão reunidas na Wings. Se eu quero saber o que está acontecendo na América Latina, eu vou à Wings ter essa informação, e isso vem dos membros da Wings. Se você quer saber o que acontece no mundo árabe, você contata a Wings, e eles te conectam à região ou te dão a informação. Também há treinamento em várias técnicas de filantropia”, explica.
Ele conta que a Wings reúne 150 redes de organizações filantrópicas em todo o mundo. “Isto abrange, na verdade, a maior parte das redes ao redor do globo. Porque os membros da Wings não são fundações regionais, mas redes de fundações. No mundo árabe, temos o Fórum de Fundações Árabes, que representa toda a região, do Marrocos até o Golfo, e por aí vai. A Fundação Europeia tem mais de 150 membros e é representada como um membro único na Wings”, comenta o executivo sobre a abrangência da rede.
No Brasil, duas redes de filantropia integram a Wings: o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) e o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife). Ambas as redes atuam para alocar recursos privados em prol de serviços públicos. “Há outros membros se filiando. Se você checar em um mês ou dois, já deve haver outros membros do Brasil”, destaca o executivo.
Fundada em 1999, a Wings costumava mudar de sede a cada quatro anos, tendo passado pela Europa, Estados unidos e Filipinas. Em 2011, o conselho concluiu que seria melhor ter uma sede fixa e o Brasil foi escolhido para abrigar a organização. “O Brasil oferece o melhor ambiente de trabalho para a filantropia. Pensamos na África, na Ásia, estávamos olhando para o sul, porque o objetivo da Wings é fortalecer a voz da filantropia nos países do sul. A filantropia na América do Norte e Europa é forte, e nós queremos construir uma rede muito forte de filantropia em outras regiões, para que criemos uma rede de filantropia global que possa contribuir entre si”, afirmou.
Falando nos países do eixo sul, Kuttab afirmou que vê fortes semelhanças entre os desafios enfrentados pela filantropia no Brasil e no mundo árabe. “Temos um problema, especialmente com os jovens, e isso se aplica às duas regiões. Eles não sentem que têm voz, eles sentem que não têm um futuro, que não têm oportunidades. Eles sentem que os anos que gastaram com educação não os levarão a um bom emprego e, se eles encontrarem um emprego, que este não os dará dinheiro suficiente para viver decentemente e com integridade. Essas são as similaridades”, diz.
“Nós encorajamos a filantropia no Brasil e no mundo árabe para focar nestas questões. Nós somente teremos uma sociedade estável se os jovens sentirem que seu país os representa, que eles estão vivendo com integridade, que estão tendo oportunidades e direitos. A pobreza é outra questão, os bairros pobres em grandes cidades. Mas, se você focar nos jovens, você tende a resolver estas questões”, avalia.
Para Kuttab, é importante que a Wings agora possa se estabelecer no Brasil e passe a oferecer mais serviços para seus membros. Em março de 2014, a Wings realiza seu fórum mundial, principal evento da rede, organizado a cada quatro anos. O encontro acontecerá em Istambul, na Turquia e é, para Kuttab, uma das principais tarefas para sua gestão. “Esperamos a participação de 300 pessoas de todo o mundo, e este é um grande desafio nos próximos meses, garantir que o evento de Istambul seja muito bom e seja um sucesso para todas as regiões”, completou.
Quem quiser saber mais sobre o trabalho da Wings pode acessar o site www.wingsweb.org.


