São Paulo – Aos 20 anos, Hana Teisir trabalha em um dos principais salões de beleza da cidade de Santa Maria, a 286 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Junto com sua irmã, Handa, ela faz depilação a linha, uma técnica menos agressiva à pele, que elas trouxeram do Iraque, onde nasceram, depois que seus pais fugiram da Palestina devido à criação de Israel.
As irmãs chegaram ao Brasil em 2007, em um grupo de 108 refugiados palestinos trazidos pelo Programa de Reassentamento Solidário, implementado pelo governo brasileiro com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Para Hana, a parte mais difícil da adaptação no país foi a língua, muito diferente do árabe. Apesar disso, após três meses no país, ela já estava trabalhando. Participou de um curso de manicure e conseguiu emprego no salão. Hoje, ela tem mais de 40 clientes e quer ficar no Brasil, que considera um país “muito bonito, liberal e sem discriminação”.
Já em Sapucaia do Sul, a 19 quilômetros da capital gaúcha, o casal Faez Abbas e Salha Nassar tocam seu negócio de doces e pães árabes. A venda dos produtos serve para complementar a bolsa que recebem do Programa de Reassentamento Solidário. Com o dinheiro, já conseguiram comprar um forno industrial e, seis meses atrás, ganharam estufas, formas e embalagens para sua produção, que eles vendem para a comunidade palestina da cidade em que vivem e também para os mercados das cidades vizinhas.
O casal, nascido em Haifa (atualmente território de Israel), viveu por quatro anos no campo de refugiados de Ruweished, na Jordânia, após terem fugido juntos do Iraque em 2003, por causa da invasão norte-americana.
Salha afirma não ter tido dificuldades em sua adaptação no Brasil. Quando perguntada sobre o que mais gosta no país, logo responde: “O povo brasileiro, que ama a paz.” Ela conta que gostaria de poder voltar à Palestina para visitar seus filhos, que não vê há sete anos.
Durante a última edição do Fórum Social Mundial, Salha e seu marido comandaram um estande com salgados, bolinhos e biscoitos na Casa da Palestina, na cidade de Canoas (RS), um espaço com artesanato, música, roupas e filmes sobre a história do povo palestino.
Há 40 anos no Brasil, a palestina Najah Samara Al Khatib ajuda na adaptação dos refugiados que chegam à região de Santa Maria. Ela trabalha como agente de integração da Associação Antônio Vieira (ASAV), ONG parceira da ACNUR responsável pela assistência aos refugiados no Sul do país.
Ela chegou ao país com 10 anos, após a vinda de seus pais. Najah conta que seus avós decidiram não mandá-la antes para o Brasil para que ela não esquecesse o idioma árabe. Hoje, uma de suas funções é atuar como tradutora para os refugiados que ainda não falam português fluentemente.
“Eu amo o Brasil. É um país maravilhoso, não tem racismo. Temos liberdade. É um país que acolhe todas as raças”. Aqui, ela ainda conheceu seu marido, também palestino e refugiado.
Hoje, com cinco filhos, ela diz manter as tradições de sua terra. “Nunca deixamos as raízes morrerem”, afirma Najah, que também acredita que um dia poderá voltar à sua terra natal. “Sempre temos a esperança de que a Palestina volte a ser nossa.”