São Paulo – O pensamento do franco-argelino Jacques Derrida será tema de uma palestra nesta segunda-feira (28) na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na capital paulista. A escritora e professora Olgária Matos vai falar sobre a teoria do filósofo a respeito da relação com o estrangeiro. Derrida defende que a língua é a pátria do indivíduo.
A palestra faz parte dos debates “Cátedra Edward Saïd: Estudos da Contemporaneidade”, que serão promovidos ao longo deste ano sobre estudos do Oriente Médio, em uma parceria entre a Unifesp e o Instituto da Cultura Árabe (Icarabe). A palestra de Matos, professora e coordenadora do curso de Filosofia da Unifesp no Campus Guarulhos, é a primeira do ciclo.
O debate se chamará “Derrida e Monolinguismo: da Razão Pura à Razão Marrana”, título que encontra explicação na história do filósofo e no seu pensamento. Judeu nascido na Argélia, quando essa vivia sob domínio francês, ele foi morar na França ainda criança. Mas com a implementação das Leis de Nuremberg no país europeu, Derrida perdeu sua nacionalidade francesa. “Mas ele só falava francês”, explica Matos em entrevista por telefone à ANBA.
Daí vem o monolinguismo, que coloca a língua como um lugar de pertencimento. O que aconteceu com Derrida foi a expropriação, ainda na primeira idade, do seu primeiro pertencimento simbólico, segundo explicações da professora da Unifesp. A partir da experiência do filósofo e seu pensamento, a palestrante vai refletir sobre a relação com estrangeiro. “É um estranho, que precisa ser acolhido para se tornar familiar”, diz.
A razão pura e a marrana fazem referência ao que viveram os judeus que habitavam a Europa até o século 16. Para não serem expulsos pelos cristãos, eles foram obrigados a se converter ao catolicismo. Mas sobre estes pairava a dúvida se haviam de fato se convertido ou se praticava o judaísmo escondido. “Os católicos ficavam em dúvida”, afirma Matos.
Mais adiante, quando esses judeus puderam se mudar para países da Europa onde havia mais liberdade de culto, como Holanda, voltaram ao judaísmo. Mas aí havia a desconfiança dos demais judeus se eles haviam se reconvertido de fato. Esses “mestiços” da religião são chamados marranos e sua situação de vivência das duas experiências religiosas é um contraponto a uma razão pura, homogênea e sedentária, segundo explica Matos.
O encontro é gratuito e os participantes vão receber certificados ao final. Depois dele, o próximo debate marcado como parte do ciclo será no dia 05 de abril com Mamede Mustafa Jarouche, professor de Literatura Árabe da Universidade de São Paulo, que tratará dos relatos do primeiro tradutor do livro das Mil e Uma Noites para uma língua ocidental, o francês Antoine Galland.
A Cátedra Edward Saïd, que organiza os encontros, pertence à Unifesp e foi criada em 2014 em parceria com Icarabe. O objetivo da iniciativa é desenvolver análises e reflexões sobre a cultura moderna, no âmbito das transformações políticas e culturais do presente em suas relações com a História, a partir do pensamento de Saïd, intelectual palestino.
Serviço:
Derrida e o Monolinguismo: da Razão Pura à Razão Marrana
Com Olgária Matos
Dia 28 de março de 2016, às 17 horas
No Anfiteatro Leitão da Cunha – Rua Botucatu, 720 – Vila Clementino, São Paulo/SP
Inscrições: http://www.unifesp.br/reitoria/proex/acoes/cursos-de-extensao-e-eventos/cursos-e-eventos


