São Paulo – As exportações brasileiras dos produtos de alta tecnologia, que são caracterizados pelo grau de agregação de valor que recebem e pela quantidade de tecnologia empregada para que funcionem, estão em queda desde o início da pandemia. “Os bens de alta e de média-alta tecnologia foram os únicos que não se recuperaram no setor das exportações no período pós-pandemia. Não só no Brasil, mas no mundo em geral”, disse o gerente de Políticas de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini (foto acima).
Segundo a previsão de Panzini, 2022 deve ser um ano estagnado e voltado para a manutenção do setor, e não é esperado aumento na exportação brasileira. A situação deve se manter assim também por causa da demanda externa, que está comprometida em função do cenário internacional. “Com isso, você acaba tendo uma inflação maior do mundo, o que corrói o poder de compra de vários países”, afirma Panzini.
Produtos de alta e média-alta tecnologia
Entre os principais bens de alta tecnologia produzidos pelo Brasil estão aeronaves, produtos farmacêuticos, máquinas e equipamentos especiais, como, por exemplo, aqueles mais robóticos usados na produção de automóveis, computadores e armamentos.
Apesar da queda de quase US$ 2 bilhões na comercialização externa, na comparação de 2021 com 2019, os produtos de alta e média-alta tecnologia ainda são produzidos para atender os mercados recorrentes.
Os Estados Unidos – um grande polo aeroespacial – são o principal país importador de bens de alta tecnologia do Brasil, respondendo por quase 50% da demanda. Os outros 50% são divididos entre os países da América Latina, Europa e um pouco da Ásia. De acordo com Panzini, ainda existe bastante espaço para negócios com os países da Liga Árabe. Dos mais de 90% dos produtos importados pelos países do Brasil, 5,8% são bens de média-baixa tecnologia e 3% são de média-alta e alta tecnologia.
Em bens de média-alta tecnologia, que têm menos agregação de valor do que produtos de alta tecnologia, a Colômbia, Chile, Argentina, México e os Estados Unidos são os principais importadores de máquinas e equipamentos, veículos, produtos do setor elétrico e químicos, equipamentos médicos e hospitalares.
Queda anterior à pandemia
Segundo Panzini, mesmo que as exportações de peças de alta e média-alta tecnologia tenham caído bastante durante os anos da pandemia, o Brasil já vinha perdendo espaço antes disso. As vendas desses bens recuaram quase 20% em duas décadas. “Em 2002, nós exportamos US$ 52 bilhões. Esse valor foi reduzido anualmente, até atingir um patamar de US$ 39 bilhões em 2021”, diz Panzini.
Apesar desse cenário, existem formas de aumentar as exportações, segundo o gerente de Políticas de Integração Internacional da CNI. Entre os caminhos ele aponta a redução do Custo Brasil, sobretudo na área tributária, porque, segundo o gerente, quanto mais agrega valor no produto, mais se paga imposto. Ele também acredita que é importante melhorar a infraestrutura de inovação para atrair mais investimentos internacionais em pesquisa e mais investimento em comércio exterior e integração internacional.
Exportações na Schalter
Apesar de produzir bens de alta tecnologia há mais de 30 anos, a Schalter passou a exportar há quatro anos. Entre 2016 e 2017, a empresa prospectou clientes e investiu US$ 300 mil na adaptação dos produtos para atender os requisitos dos importadores. De 2018 a 2021, começou a trabalhar com vários países das Américas, como Peru, Chile, México, Estados Unidos, além das Filipinas.
Os principais bens exportados pela Schalter são gaming machine, produto semelhante às máquinas de jogos de Las Vegas, e self-checkout, terminal de autoatendimento para fazer as compras no varejo.
A companhia de Porto Alegre também foi atingida pela pandemia, por isso viu o valor das exportações caírem de US$ 908 mil em 2020 para US$ 95 mil no ano passado. “No início de 2021, a previsão era de exportar 800 equipamentos, mas só exportamos 360. Mas estamos retornando aos negócios, por isso este ano prevemos exportar entre 200 e 300 equipamentos de self-checkout”, conta Valtuir Caetano, CEO da Schalter.
*Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA