São Paulo – A pandemia da covid-19 está fazendo com que países derrubem tarifas de importação e restrinjam exportação de produtos. Várias nações reduziram e zeraram taxas para comprar no exterior produtos essenciais para o combate ao coronavírus, como equipamentos de saúde e artigos de proteção, além de outros primordiais para o abastecimento, como alimentos. Alguns países também proibiram as exportações de mercadorias necessárias ao seu mercado doméstico no atual cenário.
Um panorama sobre isso foi apresentado nesta sexta-feira (03) em conferência online promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O coordenador de acesso a mercados, Gustavo Ribeiro, apresentou a queda nas tarifas de importação e a restrição de exportações como oportunidades para empresas de comércio internacional. No caso da proibição de exportação, a saída do país como fornecedor pode representar mercado aberto para um terceiro país.
Ribeiro, porém, pediu cautela quanto a esses dados e informou que a maioria das decisões valem por períodos curtos e há até algumas anteriores ao coronavírus ou adotadas apenas para a avaliação do estoque interno. Ele lembrou que a Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) fizeram alertas para que os governos minimizem as restrições ao comércio.
De acordo com o coordenador de acesso a mercados da Apex-Brasil, entre 50 a 60 países têm em vigor atualmente algum tipo de restrição de exportação ligado ao complexo médico de produtos. Taiwan restringiu a exportação de equipamentos de proteção individual, a Índia proibiu a venda internacional de equipamentos de proteção e material de laboratório, e a Arábia Saudita vedou a exportação de equipamentos e medicamentos. A Índia restringe também o embarque de hidroxicloroquina, paracetamol e vitaminas.
No universo da redução ou queda de taxas de importação, a Colômbia zerou o imposto para entrada de equipamentos de proteção individual e produtos de limpeza. A China derrubou a taxa para importar bens de prevenção e controle da pandemia e para carnes, a Indonésia adiou por seis meses a cobrança da taxa para 19 setores, como insumos de produtos cirúrgicos, açúcar, farinha e sal. Por fim, a Arábia Saudita zerou por um mês a taxa para o complexo médico, e os Emirados oferecem o reembolso.
Há ainda a Hungria proibindo exportação de hidroxicloroquina, a Rússia com restrição da venda para fora do país de trigo por dez dias, o Cazaquistão restringindo a exportação de trigo, centeio e açúcar, Vietnã, Índia, Cambodja e Tailândia proibindo os embarques de arroz, Tailândia vedando a saída do país de equipamentos individuais e de ovos, e o Paquistão banindo a exportação de cebola, esta anterior ao coronavírus.
Ribeiro disse que esse tipo de movimento no comércio internacional ocorre também em segmentos não diretamente relacionados a alimentos ou à área médica, como móveis ou equipamentos de transporte. O gerente de Inteligência de Mercado da Apex-Brasil, Igor Isquierdo Celeste, também falou sobre o assunto. “A questão das restrições de exportações de alimentos e bebidas por parte de alguns países, isso pode abrir janelas, mesmo que curtas, de exportação por terceiros países”, disse.
Celeste apresentou dados de comércio exterior do Brasil no primeiro trimestre deste ano. No período, o Brasil teve receita de exportação de US$ 50 bilhões, com queda de 3,7% na média diária. No cenário das trocas internacionais, ele disse que alimentos e bebidas estão entre os setores menos afetados. “Já prevíamos que haveria um impacto menor por conta da essencialidade”, disse o gerente, na abertura do webinar.
O analista de Negócios Internacionais da Apex-Brasil, Ulisses Pimenta, deu um panorama sobre o comércio do Brasil com os países fortemente afetados pela covid-19, como Itália, China e Estados Unidos. No primeiro bimestre, houve queda na exportação brasileira para eles de petróleo e derivados (-4,8%), máquinas e equipamentos (-34%), alimentos e bebidas (-25,4%) e produtos agropecuários (-2,8%). Segundo Pimenta, em todos os países afetados pelo coronavírus houve mudança rápida no perfil de consumo para produtos essenciais.