São Paulo – Metade de tudo o que o Brasil exporta sai de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O desafio é fazer com que um número maior de estados contribua mais com a balança comercial do País. Como potencial para tanto não falta, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) lançou, este ano, o Plano Nacional da Cultura Exportadora.
O projeto envolve 14 unidades da federação que, sozinhas, não respondem nem por 1% do que o Brasil vende para o mundo. Falta do que oferecer aos estrangeiros? Não. Digamos que apenas um empurrãozinho seja necessário para que mais produtos nacionais ganhem o exterior. Principalmente a partir das pequenas e médias empresas.
Produtos esses que sairão exatamente dos estados participantes da iniciativa. São eles: Ceará, com 0,63% das vendas externas brasileiras em 2010, Amazonas (0,55%), Pernambuco (0,55%), Alagoas (0,48%), Rondônia (0,21%), Amapá (0,17%), Tocantins (0,17%), Rio Grande do Norte (0,14%), Paraíba (0,11%), Distrito Federal (0,08%), Piauí (0,06%), Sergipe (0,04%), Acre (0,01%) e Roraima (0,01%).
"A meta do Plano Nacional da Cultura Exportadora é aumentar e qualificar a base exportadora do País", explica a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Lacerda Prazeres. "Vamos estruturar uma política de comércio exterior em cada um desses estados a partir de objetivos estratégicos", afirma.
Em linhas gerais, a ideia é que cada estado avalie as suas possibilidades de participação no mercado externo, realize pesquisas, mapeamentos diversos e estabeleça ações de crescimento nesse sentido, sempre sob a coordenação do ministério e com o suporte de um órgão local. A partir daí devem ganhar fôlego projetos de apoio e fomento a novas tecnologias e setores potenciais, com a posterior participação em missões comerciais, feiras e rodadas de negócios, entre outras possibilidades.
"Alguns dos estados participantes do plano não possuem um ambiente institucional favorável, forte e competitivo o bastante para impulsionar suas exportações", afirma Tatiana. "Isso requer, num primeiro momento, um trabalho de base, de capacitação, com a formulação de políticas para o setor exportador, pensando em resultados de médio e longo prazo", diz.
Segundo Tatiana, o foco do projeto está nas pequenas e médias empresas. Hoje, esses empreendimentos respondem por 5,1% das vendas externas do Brasil.
O Brasil apresentou recorde de exportações em setembro: US$ 23,3 bilhões. A cifra superou os US$ 20 bilhões obtidos em setembro de 2008. O saldo comercial do mês também mereceu destaque: US$ 3,1 bilhões, melhor resultado desde setembro de 2007, quando o desempenho foi de US$ 3,5 bilhões.
Considerado o acumulado do ano, o superávit comercial de janeiro a setembro de 2011, de US$ 23 bilhões, já supera o saldo de todo o ano de 2010: US$ 20,2 bilhões. Para o MDIC, os números se devem a medidas como a diversificação de mercados compradores de produtos do Brasil. Aí estão inclusos países árabes. O processo que deve ganhar ainda mais força com o aumento da atividade exportadora nos estados.
Arregaçando as mangas
Nos estados participantes do projeto do ministério, a ordem é arregaçar as mangas rumo ao mercado externo. No Ceará, por exemplo, a meta é multiplicar as exportações por três até 2015. O estado, o terceiro maior exportador do Nordeste, atrás apenas da Bahia e do Maranhão, vendeu para o mundo US$ 1,2 bilhão em 2010, devendo chegar a US$ 1,3 bilhão em 2011. "Até 2015 queremos chegar aos US$ 2 bilhões", afirma o analista de Mercado e Projetos da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Sergio Baima.
De acordo com Baima, além do Plano Nacional da Cultura Exportadora, o crescimento será impulsionado pelos investimentos em siderurgia e refinaria que o estado vai receber nos próximos anos. Outra frente importante é o agronegócio. "Queremos exportar muito mais nessa área, principalmente pescados", diz.
Hoje, os principais itens comercializados pelo Ceará são calçados, castanha de caju, couros, frutas e têxteis. "Além de aumentar o número de produtos exportados, precisamos ter mais empresas vendendo lá fora, como aquelas de pequeno e médio porte", afirma Baima. "É aí que entra o Plano Nacional da Cultura Exportadora."
Para o analista da Adece, é preciso investir ainda na conquista de mais clientes externos. "Em 2001, os Estados Unidos compravam sozinhos 45,2% de tudo o que o Ceará exportava", diz Baima. "Hoje, esse percentual é de 29,6%. Não por um problema dos Estados Unidos, mas porque novos parceiros entraram na nossa pauta comercial, o que é ótimo." Nessa linha, afirma Baima, países árabes e asiáticos surgem como potenciais parceiros.
De Pernambuco para o mundo
Logo atrás do Ceará no ranking dos maiores vendedores externos nordestinos, Pernambuco também estabelece suas metas de crescimento. E quer estar cada vez mais visível aos olhos do mundo.
De acordo com a gerente de Comércio Exterior da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Ad Diper), Ivone Malaquias, atualmente há nove empresas de pequeno e médio porte em processo de capacitação com vistas à exportação no estado. Isso somente dentro dos trabalhos do Plano Nacional da Cultura Exportadora. "O objetivo é ter mais 30 participantes em 2012 e outras 30 em 2014", afirma.
Todos os empreendedores envolvidos, explica Ivone, recebem acompanhamento sistemático, no dia a dia, para se prepararem para vender lá fora. "Orientamos todos a trazerem suas dificuldades para a Ad Diper, somos os responsáveis pela coordenação do Plano Nacional da Cultura Exportadora no estado."
Atualmente, Pernambuco comercializa no exterior produtos de limpeza, químicos, cosméticos, móveis, confecções, granito e até vinhos produzidos no vale do Rio São Francisco, na divisa com a Bahia. "A nossa pauta de exportação é diversificada, tem mais de 640 itens", afirma Ivone. "O desafio é diminuir a concentração observada hoje, com o açúcar representando 45% das nossas vendas externas", diz. "Precisamos aprender a comercializar mais outros artigos."
Em 2010, as exportações pernambucanas foram de US$ 1,06 bilhão. Alguma meta para 2011? "Avançar 10%", explica Ivone, ao mesmo tempo em que espera mais, muito mais, para o seu estado nos próximos anos.