Belém – O Pará, estado que concentra o maior rebanho bubalino do Brasil, está trabalhando para melhorar geneticamente os seus búfalos para produção de carne, de olho na otimização ambiental e na exportação. No grupo agropecuário Aruans, o aprimoramento dos animais da raça Murrah é realizado em uma das suas fazendas, a Terê-Tauá, no município de Santa Bárbara do Pará.
O Aruans cria búfalos na Ilha do Marajó e envia para o arquipélago os melhores exemplares da raça como reprodutores, após seleção e melhoramento na Terê-Tauá, para elevar a qualidade de todo o rebanho. “A gente trabalha com inseminação artificial e com o acompanhamento do desenvolvimento desses animais”, explica o CEO e um dos proprietários da fazenda, Daniel Araújo, a grupo de jornalistas.

Daniel Araújo coordena grupo multidisciplinar na área, o GT Búfalo, iniciativa da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa) da qual faz parte a Embrapa Geneplus, união da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da consultoria Geneplus para melhoramento genético de gado. Um dos integrantes, o veterinário e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Bruno Cabral Soares, afirma que o trabalho com os búfalos é uma adaptação das metodologias usadas com os bovinos.
A partir da seleção dos melhores machos e fêmeas em um grupo contemporâneo de animais, são gerados indivíduos com melhor eficiência alimentar e desempenho reprodutivo, de acordo com Soares. “Com isso, a gente diminui o ciclo de produção e aceleramos o ganho de forma sustentável, ambiental e economicamente, para o sistema produtivo”, explica o veterinário. A contribuição ambiental vem, por exemplo, da geração de búfalos que produzem mais carne comendo menos.

Nas fazendas do Aruans na Ilha do Marajó, os animais circulam em campos naturais, alagados em parte do ano. Um ambiente assim não seria propício para o gado. “Ele se adaptou em uma região onde o bovino não se adapta”, afirma Araújo sobre o búfalo do Marajó. “Não tem praticamente nenhuma intervenção humana, o que a gente faz são apenas cercas de limite de fazenda. Eles são criados de forma natural”, também diz, sobre como são mantidos os animais na ilha.
“Todo esse processo é feito mantendo os olhos e as atenções para a legislação fundiária da nossa região, do nosso estado, que, diga-se de passagem, acho que é a mais severa do mundo”, diz Araújo, falando numa fazenda onde estão sinalizadas as áreas de preservação. “A questão da preservação, eu digo que é um mantra nosso: produzir e preservar. A gente não pode trabalhar fora desse sentido aqui, de comunhão com a natureza”, afirma o proprietário.

Em um processo de criação bastante natural, a intervenção vem apenas no final do ciclo da vida dos búfalos, quando eles vão para a fazenda Terê-Tauá para a terminação, ou engorda. “E o resultado que a gente tem com isso é uma carcaça uniforme, um rendimento de carcaça superior a 50%, uma carne bastante macia, bastante saborosa, que preserva textura e sabor do animal criado nos campos do Marajó”, diz Araújo.
O grupo Aruans cria ao redor de 10 mil búfalos em suas fazendas e comercializa entre 2 mil e 2,5 mil cabeças anualmente. A empresa não faz o abate, mas entrega os animais vivos ao mercado. De acordo com Araújo, os búfalos já foram exportados em pé para o Iraque, no Oriente Médio, pelos parceiros. O produtor vê possibilidade maior de exportação, inclusive da carne, a partir do melhoramento genético dos búfalos. “A gente precisa avançar nesse programa para ter um maior número de animais na qualidade que o mercado exige”, afirma.

Atualmente no estado do Pará, o rebanho bubalino é de 700 mil animais, de acordo com informações do engenheiro agrônomo e consultor da Faepa para Assuntos da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Hildegardo de Figueiredo Nunes. O consultor, que já foi vice-governador e secretário da Agricultura do Pará, relata que a maior parte da produção local de búfalos é destinada para carne, cerca de 70%, e o demais para leite, esse tendo entre os fins a produção do queijo de búfala.
Assim como Araújo, Hildegardo vê que a exportação pode vir com o avanço do programa de melhoramento genético. “O rebanho bubalino (do Pará), embora seja o maior do Brasil, é pequeno comparativamente com o rebanho bovino. Então, o desfrute (produção) que você tem desse rebanho acaba sendo consumido localmente”, explica. Ele acredita que o projeto pode valorizar a carne de búfalo. “A carne de búfalo tem um mercado que pode ser explorado, mas a gente precisa ter as comprovações dessa qualidade para poder colocar nesse mercado e com isso estimular o aumento da produção, que ainda é restrito”, afirma.
Leia as demais matérias da série:
*A jornalista viajou a convite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)


