São Paulo – Para elas não tem tempo ruim. Nem essa história de dizer que o mercado está difícil. Ou que as vendas andam fracas. Quem faz a diferença sempre encontra espaço. É assim com as pequenas empresas que se esforçam para oferecer produtos e serviços que ninguém mais tem. De acordo com uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em São Paulo, 47% dos empreendimentos desse porte realizam algum tipo de inovação.
A Tragial, fabricante de acessórios automotivos de Bauru, no interior paulista, faz parte desse time. Aberta em 2004 por dois amigos “de infância, que brigavam na escola”, a empresa já entrou no mercado driblando a concorrência chinesa no segmento de travas elétricas. E, sim, desde o princípio teve a inovação como meta. “Queríamos desenvolver um produto que não afetasse tanto o carro durante a instalação, como as travas universais que vinham da China”, explica Gilson Donato, diretor administrativo da Tragial e sócio junto com o empresário Alexandre Carlos Guedes. “Assim, criamos uma trava diferente para cada carro, muito mais fácil de colocar”, afirma Donato.
Ao analisar o trabalho dos concorrentes para tentar ir além, Donato conseguiu se estabelecer sem maiores dificuldades. “O mercado reagiu rápido à chegada das nossas travas”, conta. “No final, conseguimos desenvolver um produto cujo tempo de instalação é 50% menor que o das travas chinesas, por um preço um pouco superior”, explica ele. Segundo o empresário, os equipamentos com a marca Tragial custam entre R$ 58 e R$ 65, para, em média, R$ 45 daqueles made in China. “Como é mais rápido para instalar, a economia de mão de obra compensa a diferença”, diz.
O resultado do esforço é uma produção atual de 12 mil kits de travas por mês, vendas para o país inteiro e exportações para mercados como Chile, Venezuela, Argentina e Colômbia. E com direito à contratação de uma funcionária, no ano passado, só para cuidar do mercado externo. “Vamos investir mais lá fora”, promete Donato.
E por falar em possibilidades, a consultora Evelin Astolpho, do Sebrae–SP, explica que o conceito de inovação é amplo e pode significar oferecer produtos e serviços diferenciados, mas também realizar processos distintos na empresa, tendo em vista uma maior produtividade. “Pode ser até mesmo a implantação de um novo tipo de campanha de marketing, por exemplo, ou uma mudança nas práticas de negócios”, afirma.
Segundo Evelin, a inovação se dá nos empreendimentos liderados por empresários que priorizam a diferenciação. “São aqueles que aceitam as sugestões dos funcionários e estão abertos para aprender, desaprender, voltar a aprender”, diz. “O estímulo à criatividade é fundamental. A inovação deve ser vista como investimento, não como despesa”.
Entre as opções de orientação à disposição dos empreendedores, a consultora destaca o programa Sebraetec de consultoria tecnológica, do Sebrae, e iniciativas similares da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para as companhias paulistas.
De acordo com Evelin, ter a inovação como meta é aumentar a competitividade e conquistar novos nichos de mercado. “Quem faz isso lucra mais”, diz. “Não inovar é que pode representar um alto custo para a empresa”. Direto de Bauru, o reinventor da trava elétrica faz coro com a consultora. E dá as suas dicas para aqueles que, como ele, querem fugir do básico. “É preciso estar alerta, olhar o mercado e ir em busca das oportunidades, que estão aí para todos”, ensina Donato.
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