São Paulo – Quando a plantação de café da fazenda Camocim, no município de Domingos Martins, no Espírito Santo, foi invadida por um bando de jacus famintos, em 2008, o proprietário Henrique Sloper Araújo transformou o ‘invasor’ em aliado e criou a versão brasileira do Kopi Luwak, café com fama de mais caro do mundo.
Batizado de Jacu Bird Coffee e exportado para Estados Unidos, Europa e Japão, o café é composto por grãos digeridos e eliminados pelo jacu, ave nativa da Mata Atlântica. O sucesso do café especial é tão grande que hoje ele é o mais caro do Brasil. Um quilo custa cerca de R$ 360. No exterior, o quilo do Jacu Bird Coffe salta para R$ 800.
Sloper, que conversou com a reportagem da ANBA por telefone, de Paris, onde participa da feira de alimentos Sial, disse que esse é o momento de buscar novos mercados e considera os países árabes potenciais tanto para Jacu Bird Coffee quanto para as demais linhas de café orgânico produzidas por eles. "O mundo árabe é o berço do café. Nosso interesse no mercado árabe é muito grande porque eles adoram café e têm forte poder de compra", disse.
Para garantir a forte presença no mercado externo – hoje 90% da produção é exportada -, a Camocim trabalha com parceiros locais que detêm conhecimento de mercado na Áustria, Itália, Inglaterra, França, Japão e Estados Unidos. "Hoje temos produtos para atender todo o tipo de demanda, desde cafeterias até locais mais sofisticados que trabalham exclusivamente com cafés especiais", garante.
Eis que surge um novo café
A história toda começou quando Sloper foi verificar os estragos provocados pelos jacus na plantação de café – que é cultivado no meio da floresta, dentro do sistema agroflorestal de produção – e sem querer pisou nas fezes do pássaro. Imediatamente lembrou de um curioso fato que descobriu quando viajava pela Indonésia.
Na época, o então surfista foi apresentado ao luwak ou civeta, um mamífero indonésio parecido com um gato, responsável pela produção do peculiar Kopi Luwak ou Café Civeta. No curioso processo, o animal expele os grãos de café intactos, pois o organismo aproveita a polpa e rejeita o grão.
Foi então que Sloper teve a ideia de enviar os grãos retirados das fezes do jacu para análise e após ser constatado que não oferecem risco à saúde, os grãos passaram a ser separados, cuidadosamente higienizados e torrados. "O resultado foi um café com sabor suave, com acidez marcante, aromas frutais e florados, bem diferente do mesmo café recolhido de forma tradicional, o que agradou, e muito, os paladares gourmets", explica.
Segundo Sloper, o Jacu Bird Coffe já foi utilizado em campeonatos mundiais de baristas. Um inglês e um norte-americano já utilizaram o café especial brasileiro para conquistar o título da competição. "O jacu se alimenta dos melhores frutos. Por isso o café é tão gostoso. Na colheita humana, são recolhidos cafés bons e outros nem tanto. O pássaro, no entanto, escolhe o que vai comer", explica.
A fazenda
A fazenda Camocim trabalha com café desde o ano 2000, mas a propriedade que foi comprada pelo avô de Sloper, Olivar Fontenelle de Araújo, em 1962, continua sendo fazenda de reflorestamento com plantação de eucalipto, pinos e liquidambar. "Depois que meu avô morreu, comprei a fazenda do restante da família e decidi iniciar meu projeto pessoal de trabalhar com cafés especiais", conta.
De acordo com o fazendeiro e empresário, na primeira safra foram colhidas apenas 120 sacas de 60 quilos de café. Na safra de 2010 serão colhidas mil sacas de café de 60 quilos. A fazenda gera entre 15 e 40 empregos diretos, dependendo da época do ano.
Hoje, o café é produzido numa área de 300 hectares. Deste total, 150 hectares são da fazenda Camocim e 150 em terras arrendadas ou plantadas em esquema de parceira com outros produtores da região.
Contato
Site:www.camocimorganic.com
E-mail: henrique@camocimorganic.com