São Paulo – Dom Pedro II, que governou o Brasil de 1840 a 1889, gostava de viajar. Quando foi imperador do Brasil conheceu a Europa, visitou os Estados Unidos nas comemorações dos seus 200 anos de independência e não deixou de ir, claro, aos países árabes. Em 1871 visitou o Egito. Poucos brasileiros sabem, mas seis anos depois, ele voltou ao Oriente Médio, desta vez para rever o Egito e para conhecer Síria, Palestina e Líbano. Agora, 135 anos depois da passagem do imperador brasileiro pelo mundo árabe, sua visita de quatro dias ao Líbano é tema de uma exposição no SESC Vila Mariana, em São Paulo.
Organizada pela Associação Cultural Brasil-Líbano, a mostra reúne fotos dos lugares visitados pelo imperador, imagens de Dom Pedro, objetos e trechos do seu diário da viagem feita a cavalo entre as cidades libanesas. Dom Pedro chegou de navio em 11 de novembro de 1876 ao Porto de Beirute. A partir da capital, ele, sua mulher Dona Maria Cristina e a comitiva de 200 pessoas conheceram Bkerke, Baabda, Sidon, Tiro, Sofar, Zahlé e Baalbek.
A diretora da Associação Cultural Brasil Líbano, Lody Brais, diz que poucas pessoas sabem dessa visita do imperador ao Líbano. "No ano passado, nós celebramos os 130 anos da imigração libanesa para o Brasil e lembramos desta visita de Dom Pedro para lá. Sempre fazemos referência a este momento nas nossas celebrações", afirma Lody, que realizou a pesquisa junto com a diretora cultural da associação, Nouha Nader.
A exposição revela, por exemplo, que a casa em que Dom Pedro II nasceu, no Rio de Janeiro, foi cedida por um comerciante libanês, Antonio Elias Lubbus, para a família real viver, quando o rei Dom João VI se mudou para o Brasil, em 1808. Nesta época, já havia uma pequena colônia de imigrantes árabes no País, mas foi depois da visita do imperador ao Líbano, em 1880, que a maioria dos imigrantes veio para o País.
"Quando Dom Pedro se encontrou com os libaneses [em 1876], ele fez uma ótima propaganda do Brasil e disse que eles seriam bem-vindos no país, disse que poderiam vir conhecer e depois retornar ao Líbano. Mas eles vieram, gostaram do Brasil e não voltaram mais", diz Lody.
Na sua viagem a cavalo pelo Líbano, o imperador se encontrou com líderes religiosos, autoridades locais, cientistas e intelectuais. Lá, conheceu Nami Jafet, filósofo que emigrou para o Brasil em 1893, onde criou uma fábrica de tecidos. Foi também na sua passagem pelo Líbano que ganhou livros de árabe. Dom Pedro até aprendeu algumas palavras do idioma.
A exposição mostra trechos do seu diário que transparecem admiração por Baalbek, a cidade de mais gostou: "Nunca vi monumentos, principalmente de arquitetura, tão majestosos como [os] de Baalbeke", escreveu. A cidade foi fundada pelos romanos entre 138d.c. e 217d.c e tem construções inspiradas nas mesmas do império romano. O motivo de construir essas réplicas no Líbano era a tentativa de impressionar o Oriente com a "grandeza" de Roma.
Além de retratar o caminho do imperador, a exposição exibe alguns de seus objetos, como uma espada e a bandeira oficial do Brasil em 1822, cedidas pela Casa Imperial. Os relatos da viagem e as fotos foram encontrados pelos pesquisadores da Associação Cultural Brasil-Líbano em outras instituições: Biblioteca Nacional e Museu Imperial de Petrópolis. "Essa exposição ajuda a contar um pedaço da história do Brasil", diz Lody.
Serviço
A mostra "D. Pedro 2º no Líbano – 135 anos da visita do imperador" fica em cartaz até 15 de janeiro no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (Rua Pelotas, 141, telefone: 5080-3000). De segunda a sexta-feira, das 7h às 21h30, Sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h30. No atrium. Gratuita.