São Paulo – A filha de um casal de imigrantes libaneses, uma mulher de meia idade, que mora em São Paulo, tenta voltar às suas origens em busca da identidade por meio da memória e a imaginação. Esse é o enredo da peça "As Folhas do Cedro", escrita e dirigida por Samir Yazbek, filho de imigrantes libaneses. A montagem será lançada dia 23 de julho no Teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, pela Companhia Teatral Arnesto nos Convidou.
Para escrever a peça, Yazbek se inspirou em sua ascendência e nas histórias de famílias de imigrantes libaneses e de outras nacionalidades. No Brasil, a comunidade libanesa, entre imigrantes e descendentes, soma mais de seis milhões, número superior aos habitantes do próprio Líbano, que tem cerca de quatro milhões. "A experiência maior é a lembrança da minha família, das histórias que eu ouvia", diz Yazbek. Mas apesar disso, o diretor afirma que a peça não é autobiográfica, é uma obra de ficção.
Segundo Yazbek, o texto vem sendo imaginado dentro dele há muito tempo e tomou forma há três anos. "Foi quando eu comecei a fazer algumas leituras (da peça) em São Paulo para sentir a aprovação. Mas, como o texto é para ser encenado e não lido, sofreu várias mudanças até ficar pronto", conta.
A história da peça é narrada por uma mulher que conviveu mais com a mãe do que o pai. "Uma mãe árabe, cheia de valores tradicionais", acrescenta o diretor. É através da história contada pela mãe que a filha volta ao passado para buscar memórias do pai, que trabalhava como empreiteiro, na década de 70, durante a ditadura militar, na construção da estrada Transamazônica.
Nessas viagens ao tempo, a filha dos imigrantes interage com outros personagens, como um empreiteiro carioca, uma gerente alemã e uma nativa amazonense. "Esses outros personagens são míticos, como os que todos nós temos dentro de nós", afirma o diretor. Segundo ele, "As Folhas do Cedro" é um simbolismo das raízes coletivas e memórias pessoais dessa filha, que busca sua identidade. "A peça tem uma linguagem bem simbólica e poética", diz.
Segundo o diretor, a narradora da peça busca um equilíbrio entre o mundo do progresso e da razão, representado pela figura paterna, com o mundo das tradições, por meio da mãe. "Eu me projeto na narradora. Acho que chega uma hora que todos nos perguntamos quem somos, para onde vamos, e na falta de respostas, o que a gente passa a ter é uma visão mais poética, buscando as nossas raízes", afirma.
Para a elaboração da peça também foram realizadas muitas pesquisas sobre a cultura libanesa e a construção da estrada Transamazônica. Além disso, as mitologias de povos antigos estão presentes no espetáculo.
A cenografia e o figurino do espetáculo remetem à vastidão da floresta amazônica e à paisagem desértica dos países árabes, o que, segundo o autor, é uma metáfora da condição humana. A trilha sonora também mescla um pouco da música oriental e ocidental, com o arcaico e o contemporâneo.
Com a finalização do texto da peça, Yazbek sentiu vontade de conhecer o Líbano e foi para lá no ano passado. "Tenho fascínio por essa cultura. Eu adorei ir para lá e me animei mais ainda. Foi uma viagem para me inspirar e garantir que eu estava na direção correta", diz.
"As Folhas do Cedro" faz parte da programação da comemoração dos 130 anos da imigração libanesa no Brasil, evento organizado pela Associação Cultural Brasil-Líbano. Antes mesmo da estréia, a Companhia Teatral Arnesto nos Convidou já recebeu convite para se apresentar em Beirute no final do ano.
Serviço
Peça "As Folhas do Cedro"
Data: de 23 de julho a 22 de agosto
Horário: sextas e sábados, às 21h, e domingo, às 18h
Local: Teatro Sesc Vila Mariana
Endereço: Rua Pelotas, 141 – Vila Mariana – São Paulo
Ingressos: R$ 5 a R$ 20
Classificação etária: 12 anos. Gênero: drama. Duração: 70 min.

