Alexandre Rocha
São Paulo – Os produtores brasileiros de carne bovina vão continuar a ampliar seus mercados em 2005. Atualmente o setor exporta para 140 países (eram 106 em 2003) e, no próximo ano, pretende passar a vender, no mínimo, para 150 destinos. O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, prevê que o país vai exportar o equivalente a US$ 2,2 bilhões até o final de 2004 e ampliar em pelo menos 10% as vendas no ano que vem.
Os países árabes já representam uma boa parcela destas exportações. Entre janeiro e outubro, o Brasil vendeu ao exterior 1,5 milhão de toneladas de carne, o que rendeu mais de US$ 2 bilhões. Os árabes importaram o equivalente a US$ 324,6 milhões no período, o que corresponde a 16% do total.
"Durante este ano nós tivemos uma preocupação grande em acompanhar as necessidades religiosas dos muçulmanos. Cada planta de nossos associados conta com um religioso para fiscalizar o abate", afirmou Camardelli. A Abiec tem 20 frigoríficos associados que, juntos, respondem por 95% das exportações brasileiras de carne bovina.
Da mesma maneira que as exportações em geral, ele acredita que as vendas para os países árabes vão crescer no mínimo 10% em 2005. "A tendência é o pessoal perceber cada vez mais que ninguém tem preços tão competitivos como os nossos", declarou. Segundo Camardelli, o custo de produção no Brasil gira em torno de 90 centavos de dólar por quilograma. Na Argentina o valor sobre para US$ 1,30 e, nos Estados Unidos, para US$ 1,90.
Além disso, ele lembrou que o boi brasileiro é "verde", ou seja, alimentado quase que exclusivamente com pasto, o que resulta em um menor teor de gordura, quando comparado ao gado confinado, e afasta a possibilidade do mal da vaca louca, cuja transmissão é atribuída à utilização de ração de origem animal na alimentação do rebanho.
China
Em termos de novos destinos, uma das grandes apostas do setor é a China, país para onde o Brasil vai começar a exportar carne no próximo ano e, no médio prazo, pode representar um mercado de US$ 600 milhões, ou quase 30% das exportações atuais. Camardelli acredita que, já em 2005, a China vai absorver cerca de 10% das vendas externas brasileiras.
Em 2004, pelo segundo ano consecutivo, de acordo com informações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o país ficou na primeira posição no ranking dos maiores exportadores mundiais de carne bovina, na frente de outros gigantes do setor como Estados Unidos e Austrália. O Brasil, segundo Camardelli, domina cerca de 15% do comércio internacional do produto.
Isso sendo que o país só tem acesso a 50% do mercado mundial. Países importantes como os EUA, Japão, Canadá, Coréia do Sul e México importam apenas carne industrializada do Brasil, não o produto in natura, que representa o grosso das exportações
O setor aguarda com ansiedade o resultado das negociações com o governo da Rússia, que recentemente impôs um embargo a novos contratos de importação do Brasil por causa de um foco de febre aftosa que ocorreu no Amazonas em setembro. O governo brasileiro espera para logo uma solução para o impasse, já que a Rússia é hoje o maior importador da carne brasileira.
Promoção
Para que as exportações do segmento continuem a crescer, Camardelli disse que o governo precisa ampliar os recursos destinados à defesa sanitária, além de investir em infra-estrutura. "Se tivéssemos acesso a todo o mercado mundial, a infra-estrutura de transporte estaria entupida", disse.
O país tem o maior rebanho bovino do mundo. São 195,5 milhões de cabeças de gado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais do que a população humana, de 182 milhões de pessoas. A produção anual é de 7,68 milhões de toneladas de carne, de acordo com Camardelli.