Cláudia Abreu
São Paulo – Pecuaristas do sul do Rio Grande do Sul fecharam contrato para exportar cerca de 25 mil cabeças de gado para o Líbano até o final deste ano. A primeira remessa – de 8,5 mil bois vivos – foi feita na semana passada através do Porto de Rio Grande (RS). Até o final do ano deverão acontecer mais dois embarques, de acordo com dados da Associação Rural de Pelotas (RS). A primeira operação injetou cerca de R$ 4,5 milhões na economia da região.
Segundo Elmar Carlos Hadler, presidente da associação, a negociação com os árabes começou há dois anos, quando pecuaristas de pequeno porte de 50 municípios do sul do estado buscavam uma alternativa para escoar a produção local. "Soubemos que os árabes compravam gado vivo do Uruguai e fomos saber como era feita a venda", conta.
Com a ajuda do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Secretaria de Agricultura do RS, os pecuaristas chegaram até a empresa jordaniana Livestock, especializada na compra de gado destinado aos países do Oriente Médio. As conversas aconteceram nos meses seguintes e técnicos árabes vieram visitar propriedades na região, no ano passado.
"As visitas atestaram a qualidade do gado, principalmente no que diz respeito à sanidade, preocupação dos compradores estrangeiros", afirma Hadler. Para atender às necessidades do mercado árabe, todos os animais foram vacinados antes do embarque.
Outras exigências dos compradores: os bezerros tinham de ser de raça européia – Angus, por exemplo -, ter entre um e dois anos de idade, pesar entre 150 e 380 quilos e não serem castrados. O gado jovem, não castrado, é garantia de carne mais magra, mais consumida no mercado árabe. A engorda será concluída no Líbano e o abate seguirá as normas islâmicas (halal).
Primeira viagem
Segundo Hadler, é a primeira vez que o Estado do Rio Grande do Sul exporta gado vivo para o Líbano de forma sistemática. “Houve uma remessa há uns 40 anos, mas sem planejamento nem continuidade”, conta. O que não deverá acontecer desta vez. “As vendas seguintes já estão amarradas”.
A próxima remessa, de volume parecido ao da semana passada, deverá acontecer em maio. "É o tempo do navio desembarcar no porto de Beirute e retornar para o Brasil", afirma. Por esse motivo, alguns criadores já foram mobilizados. "Além da qualidade do animal, a logística é um diferencial na nossa venda".
Cerca de 950 pessoas – entre veterinários, técnicos e caminhoneiros – trabalharam na operação. Os animais foram retirados das fazendas e, a maioria, foi para a sede da Associação Rural de Pelotas. O local tem capacidade para abrigar 3,2 mil bezerros e possui dois embarcadores de animais. De lá, eles foram transportados em caminhões para o Porto de Rio Grande, que fica a 55 quilômetros de Pelotas, onde embarcaram no navio-curral Kenoz, de bandeira libanesa.
Hora certa
Segundo Hadler, a venda para o Líbano "veio em muito boa hora. O Estado do Rio Grande do Sul atravessa um período de seca e muitos produtores estão em dificuldade financeira. A venda animou os pecuaristas", afirma. Os criadores receberam entre R$ 1,40 e R$ 1,56 pelo quilo do animal. Cerca de 100 participaram do negócio. Para este ano, além da remessa de maio, uma outra deverá acontecer entre outubro e novembro.