São Paulo – A ideia é levar um dos mais famosos representantes da gastronomia do Norte do Brasil para mesas do mundo inteiro. E isso inclui os melhores restaurantes e supermercados do Oriente Médio. Para atingir a meta, 12 piscicultores do Pará decidiram se integrar ao projeto Cultivo do Pirarucu do Nordeste Paraense, do Sebrae local, pelo qual receberão consultoria para aprimorar e organizar sua produção. A iniciativa deve começar a dar frutos, ou melhor, pirarucus, já a partir do ano que vem. Fazem parte do programa empreendedores das cidades de Bragança, Capitão Poço, Salinópolis, Santa Luzia do Pará e São João de Pirabas, todas no Pará.
“A proposta é fortalecer a pesca do pirarucu na região, que até então era feita mais para consumo próprio”, explica a gestora do projeto no Sebrae Pará, Keyla Reis de Oliveira. “Vamos começar pelo mercado dos próprios municípios, para depois chegar ao mercado nacional e, mais adiante, ao exterior”, diz ela. A analista do Sebrae conta que o projeto envolverá, primeiramente, consultoria para questões ambientais, como a obtenção de licença para exercer a atividade. Depois, virá o incentivo à organização e troca de experiências sobre a criação do peixe entre os produtores.
Segundo Keyla, o pirarucu teve sua procura ainda mais valorizada após ter sido ameaçado de extinção, o que levou à criação um período de seis meses de defesa da espécie todos os anos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quando a pesca é proibida. “Hoje, o quilo de pirarucu custa R$ 30 no mercado e até R$ 50 nos supermercados”, afirma ela. “Trata-se de um peixe com muito potencial para ser comercializado no mercado externo, inclusive nos países árabes”, diz.
O produtor e pesquisador Emir Palmeira Imbiriba, participante do projeto, explica que a principal dificuldade é promover a reprodução da espécie. “Não conseguimos separar machos e fêmeas apenas pela observação. Além disso, o pirarucu é monogâmico, precisa se acertar com um parceiro fixo para reproduzir”, conta. Assim, os bem comportados peixinhos dão um certo trabalho para começar a produzir herdeiros, dificuldade que é compensada depois. “Vencida essa primeira barreira, a engorda é garantida. Basta dizer que são produzidas 10 toneladas de pirarucus por hectare/ano no Pará, para apenas um boi por hectare/ano”, diz Emir.
Defensor da iguaria do Norte, ele explica que o pirarucu não tem espinha e ainda apresenta um rendimento de carne de 57% de todo o seu peso, para 45% de média da maioria dos peixes. “Tenho certeza de que os árabes iam adorar”, diz Emir, ansioso pelo dia em que vai abastecer as mesas do Oriente Médio com a espécie que hoje produz em cativeiro, em Salinópolis, a 200 quilômetros da capital paraense, Belém.