São Paulo – Quando elas exportam, aquecem a economia dos bairros e municípios em que estão estabelecidas. São elas também que enviam para o exterior, em vez de commodities com baixo ou nenhum beneficiamento, produtos de maior valor agregado, como os manufaturados, gerando renda importante dentro do Brasil. Somado a isso, a quantidade de exportadoras desse universo avança expressivamente.
Essas são as micro e pequenas empresas nacionais, que trazem bons ventos para o Brasil com seu esforço exportador. Entre os anos de 2008 e 2022, o número de exportadores entre os pequenos aumentou três vezes mais do que no grupo das médias e grandes empresas do País, chegando a 11,4 mil.
De acordo com um levantamento de 2023 feito pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços junto com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as micro e pequenas empresas já representam 41% do total das companhias brasileiras e cresceram 76% em 14 anos. Elas avançam também como exportadoras.
“Hoje o valor exportado por essas empresas representa quase 1% do total das vendas de exportação do País, isto é, US$ 3,2 bilhões (R$ 17,5 bilhões). Quantitativamente não é tão representativo, mas 70% dos produtos exportados por elas são itens manufaturados, que têm maior valor agregado, enquanto a grande parte do volume exportado por médias e grandes empresas é do agronegócio, produtos de menor valor agregado”, conta o consultor de Comércio Exterior do Sebrae-SP, Márcio de Carvalho.
Quando falamos dessas empresas é importante não focar só nos números, de acordo com Márcio. “Elas trazem mais do que lucro, trazem mais empregos e impactos consideráveis para as economias locais, como bairros e municípios onde estão presentes.”
Ainda de acordo com Márcio, o crescimento das pequenas e microempresas foi impulsionado principalmente pelo trabalho de conscientização e sensibilização para exportação feito por instituições como o Sebrae, além do aumento da digitalização e dos marketplaces, que são as plataformas de vendas online.
“Mostramos para essas empresas que é possível vender para outros mercados de fora do Brasil. Se a empresa é de São Paulo, por exemplo, e já vende para as regiões Nordeste e Norte, mostramos que exportar para o Mercosul é tão fácil quanto vender para outras regiões do País”, diz Márcio. “A gente insiste que o Mercosul seja um dos primeiros mercados em razão da proximidade geográfica e da menor distância cultural com os brasileiros.”
Atualmente os Estados Unidos aparecem como país que mais importa das micro e pequenas empresas nacionais, recebendo produtos de duas mil companhias. Depois dele, no ranking de principais países compradores de produtos brasileiros aparecem as nações árabes, a Argentina e a China.
“Dependendo do produto também incentivamos as empresas a venderem para Portugal, por causa da língua. Depois do Mercosul, a América Latina é outro mercado que incentivamos que as companhias invistam. O Oriente Médio aparece com um mercado em crescimento, em 2023, mais de 700 empresas exportam para essa região”, explica o consultor de Comércio Exterior do Sebrae-SP.
Com ações promocionais feitas no Oriente Médio pelo Sebrae, a expectativa é que as vendas para a região aumentem. Por causa da grandeza populacional, Arábia Saudita e Egito devem ser os países com maiores oportunidades para as empresas brasileiras.
“Ainda que tenhamos diferenças culturais e distância geográfica significativa, o Brasil já tem um relacionamento comercial longo com os países árabes e isso deve se manter com as pequenas empresas. Acredito que essa confiança comercial e reputação dos produtos brasileiros vão ser os diferenciais importantes para esse crescimento”, disse Márcio.
A vantagem de comprar dos pequenos
Produzindo e exportando os mais variados tipos de produtos, as pequenas e microempresas brasileiras vendem desde aerossol para untar forma até açaí. No setor alimentício os sorvetes também se destacam e há empresas que exportam perfumaria, pedras preciosas, cosméticos, calçados, mármores e móveis.
Entre as principais vantagens de fazer negócios com empresas menores está o relacionamento mais próximo. “Com microempreendedor é mais fácil criar um laço, uma relação de mais qualidade do que com um grande empreendedor. Eles dão mais atenção tanto na hora de vender quanto no pós-venda, acaba sendo algo mais customizado”, diz Márcio.
Em momentos de crises econômicas, por exemplo, as pequenas empresas aparecem como mais vantajosas, segundo Márcio. “Isso acontece porque nestes momentos as médias e grandes empresas são evitadas. Elas compram apenas de um ou dois grandes fornecedores para desenvolver seus produtos, o que causa preocupação, enquanto as pequenas empresas compram de diversos fornecedores pequenos.”
Presentes principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, as micro e pequenas empresas líderes em exportação estão localizadas no estado de São Paulo. A Aidu e a Açaí Town são duas das pequenas empresas estabelecidas em solo paulistano.
Aidu exporta aerossol alimentício
Criada em 1999 inicialmente com foco em revenda de produtos, como calda de sorvete e corante, hoje a Aidu atua na produção de aerossol alimentício para untar formas.
“Depois de fazer uma pesquisa de mercado descobrirmos onde estavam os consumidores deste tipo de produto, decidimos começar a produzi-lo para abrir concorrência nacional. Até aquele momento, além dos Estados Unidos, quem produzia e vendia este produto no Brasil era Alemanha, Nova Zelândia e Bélgica”, conta o analista de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos da Aidu, Lucas Onofre Gibertoni.
No começo a empresa vendia para os clientes antigos. Após um tempo de conhecimento de marca, outros consumidores começaram a achá-los. Hoje a Aidu fornece para o todo o País, com as maiores compras vindas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Com uma fábrica própria, a empresa recebe a lata do aerossol vazia e produz o seu conteúdo, a transformando em produto final.
Depois de prontos, os produtos são vendidos aos consumidores brasileiros pelos compradores da Aidu. Os clientes da empresa são principalmente padeiros e confeiteiros, além de donas de casa.
A exportação do aerossol começou em 2022 para os Emirados Árabes Unidos. “Depois de passarmos por uma consultoria com o Sebrae, que durou um ano, onde conseguimos deixar a empresa redondinha, com o capital de giro interessante e focada na venda aerossol para untar formas, participamos de um projeto de incubação, aceleração, também com o Sebrae, para auxílio de exportação”, explica Lucas.
“Seis meses depois a gente estava exportando para os Emirados Árabes Unidos. Na primeira venda foram 13.720 latas.” Com um relacionamento tranquilo e amigável, dois anos depois das primeiras exportações, as vendas continuam a todo vapor. Em um breve futuro, a fábrica vai mudar de endereço e de tamanho, e a empresa vai em busca da emissão do selo halal, indicado para países com consumidores islâmicos.
“Mesmo que o nosso produto não precise do selo para ser vendido, fomos orientados a emiti-lo para aumentar a confiança dos consumidores árabes. No ano que vem também queremos começar a exportar para mais países árabes”, diz o analista de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos da Aidu.
No mundo com a Açaí Town
O Açaí Town é uma pequena empresa brasileira familiar que foi criada a partir da necessidade do mercado. O proprietário, Murilo Santucci Lavezzo, trabalhava na área de marketing quando foi apresentado para o mercado de açaí em 2013. Após conhecer uma loja de açaí de sucesso no interior de São Paulo, ele ficou com medo que fosse um modelo de negócio passageiro, até que conversou com fornecedores do produto.
“Ouvindo fornecedores de diferentes partes do País vi que esse era um produto que tinha força e chances de crescimento. Com essa motivação, decidi abrir uma loja de açaí em Tatuí, onde as pessoas vinham tomar como se fosse sorvete, com diversas opções de acompanhamentos. Três anos depois começamos a entregar o produto por delivery e abrimos uma fábrica para intensificar a produção. Fiz vários cursos para entender melhor o mercado”, diz Murilo.
Após fazer campanhas no Google e preparar materiais de divulgação em inglês e espanhol, Murilo se voltou para a exportação dos seus produtos. Em 2018, depois da primeira venda internacional para o Canadá, a marca vendeu para Portugal, Emirados, Paraguai, Marrocos, Catar, Jordânia, Omã, Bahrein e Arábia Saudita.
Atendendo mais de 20 mercados internacionais, com 70% do faturamento vindo de exportação, a marca continua com uma loja física e uma fábrica. Além de vender pelo próprio site, a empresa atende o público em dark kitchens – cozinhas construídas em prédios para atender clientes por aplicativo – em São Paulo e Sorocaba.
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Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA