Isaura Daniel
São Paulo – As lavouras brasileiras de café terão condições de dobrar sua produtividade dentro de dez anos. Os agricultores também poderão replantar o café a cada 30 anos em vez de ter que fazê-lo a cada 15 anos. As duas vantagens devem ser obtidas assim que os cafeicultores brasileiros começarem a utilizar as variedades produzidas a partir de Projeto Genoma Café, o maior banco de dados sobre café do mundo, com 32 mil genes, lançado oficialmente nesta semana.
O projeto é uma iniciativa do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne cerca de 40 institutos de pesquisa do país, e deve dar seus frutos comerciais quando as cultivares obtidas com as pesquisas estiverem sendo plantadas. Isso deve levar cerca de 10 anos. O que existe hoje é um grande banco de genes.
"Agora vamos identificá-los. Depois que descobrirmos a função de cada gene vamos buscá-los em variedades silvestres e transplantá-los para as variedades comerciais em laboratório", explicou Antônio de Pádua Nacif, coordenador do Consórcio e gerente-geral da unidade de café da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que está à frente do projeto.
O uso da biotecnologia vai reduzir pela metade o processo. Pelo método tradicional, o cruzamento de variedades, os resultados seriam obtidos apenas após 25 a 30 anos de trabalho. O objetivo do projeto é melhorar geneticamente as plantas, tornando-as, por exemplo, mais resistentes a determinadas doenças. A ferrugem, comum nas plantações de café, causa hoje um prejuízo de 30% aos cafeicultores. Cerca de 40 pesquisadores vão trabalhar no processo.
Ganhos
A produtividade, de acordo com Nacif, poderá sair das atuais 17 a 19 sacas por hectare para 30 a 32 sacas a partir do melhoramento genético. A vida útil da planta também deve dobrar. Isso deverá acarretar também um aumento de produção em cerca de 100%. O prolongamento da vida útil diminuirá a necessidade de replantio, o que vai gerar enxugamento de custos para os agricultores.
Eles deverão ter ganhos econômicos também com produtos químicos, já que as plantas serão naturalmente resistentes a algumas pragas e não necessitarão de fungicidas ou inseticidas. Dados da Embrapa indicam que os produtores gastam com defensivos cerca de R$ 600 milhões ao ano.
De acordo com Nacif, o objetivo não é aumentar a área plantada com café no país. "O cafeicultor poderá produzir o mesmo volume numa área menor e liberar a terra para outras culturas", explicou. A idéia é que a área de café passe das atuais 2,7 milhões de hectares para 1,35 milhões e que mais de 1 milhão de hectares possam ser utilizados para cultivo de alimentos como arroz, feijão, milho, trigo ou reposição da vegetação natural.
Comércio
O Brasil não tem problemas de abastecimento de café. O país exporta um terço da sua produção, que no ano passado alcançou 30 milhões de sacas. Neste ano, a previsão é que sejam produzidas 38 milhões de sacas. A receita do setor com exportações cresceu 23,1% nos sete primeiros meses do ano, apesar da queda de 4,3% no volume embarcado, de acordo com dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (CeCafé). A receita chegou a US$ 1 bilhão contra US$ 828,9 milhões do mesmo período do ano passado. Os embarques totalizaram 13,7 milhões de sacas.
Nova trading
O Brasil está fazendo um esforço, porém, para exportar mais café. Quatro cooperativas do setor, a Minasul, a Cooparaíso, a Cocapec e a Capebe, apresentaram na terça-feira (10) ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, o plano de constituir a Coffee Company S.A., uma empresa voltada à exportação de café. Os planos das cooperativas são situar a companhia entre as maiores empresas do setor no Brasil e vender cerca de 3 milhões de sacas ao ano. Os presidentes das cooperativas estão buscando sócios para levar adiante o projeto.
Os árabes
A Síria é o país árabe que mais compra café brasileiro. Entre janeiro e julho deste ano, o país importou 184 mil sacas do Brasil e ficou em 20º lugar no ranking dos importadores do produto. O aumento foi de 367% sobre o mesmo período de 2003. O Líbano importou 136 mil sacas no período, volume 13,7% maior que nos sete primeiros meses de 2003.
Pesquisa
O projeto Genoma Café começou a ser implementado há dois anos. Foram gastos, até agora, R$ 6 milhões. O Ministério da Agricultura e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aportaram R$ 1,92 milhão. Os demais custos, principalmente de pessoal e infra-estrutura, foram bancados pelas instituições parceiras.

