São Paulo – A Petrobras é uma das empresas que mais investem em pesquisa e desenvolvimento no mundo. É o que assegura recente relatório da organização inglesa Demos, "Brazil: the natural knowledge economy", de autoria da pesquisadora Kirsten Bound. O estudo foi objeto de análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (Iedi) em sua publicação Carta Iedi, de 25 de julho.
De acordo com o documento, a estatal brasileira do petróleo reserva anualmente entre 1% e 2% de seus lucros para as atividades em P&D. Isso representa algo em torno de US$ 1 bilhão. O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Migues de Mello (Cenpes) da Petrobras desenvolve 500 projetos de P&D e emprega dois mil pesquisadores.
De acordo com o Iedi, o estudo informa que a Petrobras é a empresa brasileira que possui o maior número de patentes triádicas. Ou seja, registradas simultaneamente nos Estados Unidos, Europa e Japão.
Embora a Petrobras centre suas pesquisas em gás e petróleo, dominando técnicas das mais avançadas na área de prospecção em alto mar, recentemente os interesses da empresa se ampliaram e incluem: biocombustíveis e outros tipos de energia renovável, como hidrogênio, energia solar e eólica.
Mas não é apenas a Petrobras que retira sua matéria-prima da natureza e investe em P&D. Pelo contrário, há um conjunto de empresas brasileiras bem-sucedidas internacionalmente que têm seus negócios e ativos baseados em recursos naturais e que respondem pelo grosso dos investimentos privados em P&D. Entre elas estão a Vale e a Gerdau.
Além da Vale e da Gerdau, o estudo da organização inglesa destaca ainda os investimentos em pesquisa da Natura, a maior empresa brasileira de cosméticos, que utiliza os ativos naturais da região amazônica em seus produtos.
O estudo mostra que a Natura gasta entre 2,5% e 3,0% de suas receitas com P&D e emprega 240 pesquisadores. Além do laboratório principal, a empresa mantém um laboratório no Amazonas, que realiza pesquisa de óleos e sabonetes derivados de plantas. Um novo centro de pesquisa está sendo criado em Campinas, no interior de São Paulo, como parte do projeto de diversificação da empresa na área de alimentos funcionais.
De acordo com a carta do Iedi, a Natura adota um modelo de sustentabilidade econômica, social e ambiental e o princípio de inovação aberta como uma meta de 50% da pesquisa realizada externamente.
Voando e pesquisando
A carta do Iedi informa que o estudo da organização inglesa também dá destaque à Embraer. Com 20% dos seus funcionários atuando em atividades de P&D, a empresa surpreendeu a comunidade internacional ao lançar, em 2004, a primeira aeronave comercial a utilizar exclusivamente biocombustível.
Batizado Ipanema, o avião agrícola movido a álcool foi considerado pela Scientific American como a mais importante invenção do ano. Motores de avião movidos a álcool são mais limpos e poluem menos do que os que utilizam o querosene de aviação.
"O relatório ressalta, contudo, que empresas como Petrobras, Natura, Embraer e Vale estão mais para exceção do que regra no Brasil. A intensidade do P&D no setor privado nacional como um todo permanece muito fraca. Apenas um terço das empresas emprega mais do que dez pessoas ativas em pesquisa. A maioria da inovação é em processo e não em produto. Em geral, trata-se de adaptação de tecnologia existente e não do desenvolvimento de novas tecnologias genuínas", informa a Carta Iedi.
O relatório da organização inglesa diz ainda que embora no Brasil atuem importantes empresas multinacionais, uma parcela inexpressiva de suas pesquisas é realizada aqui, menos até do que é realizado na Índia e China. "Na avaliação de dirigentes das multinacionais presentes no Brasil, faltaria ao país talentos que justifiquem o investimento em P&D offshore", diz o Iedi.

