São Paulo – A ex-camareira Maria Selma Costa, 37 anos e mãe de três filhos, virou pipoqueira após perder o emprego há três anos. Entrou para as estatísticas dos milhares de trabalhadores que garantem o sustento da família na informalidade. Todos os dias prepara o carrinho com pipoca doce e salgada e fica lá ao lado de um hospital particular de Aracaju, capital do estado de Sergipe. Vende entre 40 e 50 saquinhos por dia, ao preço de R$ 1,50 cada.
A rotina de Selma não tinha grandes novidades até fevereiro desse ano quando ela foi abordada por um funcionário da Petrobras, interessado em comprar uma grande quantidade de pipoca. "Ele pediu se eu tinha como preparar 20 sacos de 3,4 quilos", contou Maria Selma. No começo ela achou um pouco estranho aquele pedido, principalmente quando ficou sabendo que a pipoca seria jogada no mar. "Mas achei que valia a pena aceitar o desafio", contou.
A pipoca fornecida por Selma é utilizada nas simulações de vazamento de petróleo nas plataformas das áreas de produção marítima instaladas em Sergipe. Biodegradável, substitui as bóias de isopor utilizadas anteriormente nessas simulações.
As simulações ocorrem quando o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) testa a eficácia do plano de contingência da Petrobras em Sergipe para conter e resolver danos ambientais causados por possível acidente dessa natureza. Os testes são realizados periodicamente. O desastre ocorrido em abril no Golfo do México em uma plataforma de perfuração de petróleo no mar, que virou notícias no mundo inteiro, serve de alerta para a necessidade de criar normas para combater vazamentos de óleo.
De acordo com a assessoria de imprensa da Petrobras, a estatal ainda utiliza a pipoca de canjica para exercícios de simulação de vazamentos em algumas áreas de exploração. No entanto, a técnica está em processo de reavaliação interna.
Depois de acertado o preço e prazo de entrega, Selma descobriu que para se tornar fornecedora da Petrobras, precisava regularizar a empresa e ter um número de CNPJ. A solução foi fazer o cadastro de Empreendedor Individual. O processo é feito via internet, no Portal do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.gov.br), sem a exigência de assinatura ou entrega de documentos na Junta Comercial.
"Não me formalizei antes por falta de conhecimento. Eu pensava que era difícil e muito caro", conta a empreendedora, que agora prepara o segundo pedido da estatal. "Dessa vez eles encomendaram 30 quilos de pipoca e como agora tenho a empresa vou comprar o milho direto do representante", comemorou.
Selma conta orgulhosa que as pipocas sempre fizeram o maior sucesso entre os clientes pois são produzidas com milho próprio para canjica e sem gordura. "Eu sempre falo que a minha pipoca é light e crocante. A pipoca doce eu faço com chocolate e a açúcar e na salgada coloco sal na hora", ensinou.
Empolgada com as novas oportunidades para a empresa, a empreendedora já faz planos para o futuro. "Vou contratar um funcionário para cuidar de outro carrinho, num outro ponto da cidade, e comprar uma máquina maior para produzir mais rápido e em quantidades maiores", disse.

