Dubai – O Pacto Global da ONU no Brasil lançou, em evento paralelo à COP28 nesta sexta-feira (08), em Dubai, a plataforma Onda Verde, que pretende ser um marketplace para conectar empresas que buscam reduzir e até zerar emissões e para aquelas que prestam serviços de soluções verdes, tudo para acelerar o compromisso de zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa.
Em entrevista à ANBA, o CEO do Pacto Global, Carlo Pereira, disse que a plataforma já conta com 850 provedores de serviços e produtos cadastrados e que, até o final do ano que vem, querem chegar a 2.500 empresas.
“É um marketplace. Se uma empresa precisa reduzir suas emissões, precisa primeiro fazer um inventário para saber quais são suas fontes de emissão. E quem vai fornecer esse serviço de mapear as fontes de emissão dessa empresa, e uma vez identificadas, quem vai fornecer o serviço para reduzir essas emissões. Dentro da plataforma você encontra todo mundo e faz o match necessário para a sua empresa”, explicou Pereira.
A plataforma está alinhada ao movimento Ambição Net Zero, que tem o compromisso de chegar à neutralidade carbônica até 2050, e reduzir as emissões em 46% até 2030.
“Muitas empresas falam que querem reduzir, neutralizar as emissões, mas não sabem nem quanto emitem ou quais as principais fontes de emissões. O movimento Net Zero pensa em uma série de compromissos para que as empresas possam reduzir suas emissões e neutralizá-las no futuro”, declarou.
O lançamento do programa ocorreu durante a agenda paralela do Pacto Global na COP28, com o evento “Transição no Sul Global: Construindo uma Economia Net Zero” que tratou dos temas de mitigação, adaptação e meios de implementação.
A plataforma tem dois objetivos principais. O primeiro é a avaliação do impacto climático com uma ferramenta que permite às empresas calcular o potencial de redução de emissões de CO2 e outros indicadores climáticos de seus produtos ou serviços. A calculadora abrange todos os setores-chave da economia verde, incluindo florestas e uso do solo, agropecuária e sistemas alimentares, água e saneamento, logística e mobilidade, energia e biocombustíveis, gestão de resíduos, indústria e setor financeiro.
O segundo objetivo é promover conexões entre ofertantes e demandantes de soluções verdes, funcionando como uma rede de negócios verdes e oferecendo recursos para facilitar tais conexões, como um banco de dados de empresas verdes, oportunidades de networking e eventos de relacionamento.
Estratégia Ambição 2030
A Ambipar, multinacional brasileira de gestão ambiental, anunciou no evento ser a primeira empresa a se comprometer com os dez movimentos da estratégia Ambição 2030 do Pacto Global da ONU no Brasil, criados para acelerar as metas propostas pela Agenda 2030 da ONU, que tratam de questões relacionadas ao clima, acesso à água, economia circular, Amazônia, saúde mental, direitos humanos, anticorrupção e educação.
Até outubro de 2023, 261 empresas já haviam aderido aos movimentos e assumiram cerca de 458 compromissos nas diversas frentes. As metas são consideradas um chamado do Pacto Global da ONU no Brasil às empresas brasileiras para reconhecerem a urgência e a necessidade de promover ações concretas, com metas e compromissos públicos.
“Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma prioridade e o engajamento do setor privado é fundamental para isso. Como empresa incentivadora da Ambição 2030 e comprometida com todos os movimentos, poderemos criar mais debates, discussões e estimular o setor privado a se comprometer com a agenda socioambiental. É preciso começar a agir para fazer a diferença no futuro do planeta”, disse o diretor de sustentabilidade da Ambipar, Rafael Tello.
A Câmara de Comércio Árabe Brasileira é signatária do Pacto Global Brasil desde 2020 e para a COP28 vem sendo parceira institucional do Pacto para agendas realizadas junto aos árabes. Durante o evento em Dubai, o presidente da entidade, Osmar Chohfi, destacou o papel fundamental das empresas na efetivação de ações sustentáveis e a importância do engajamento das empresas nas discussões globais sobre mudanças climáticas.
“É nas empresas que a produção sustentável vai acontecer de forma efetiva. Também é nelas que serão forjadas as definições da economia verde e onde as noções do consumo responsável serão consolidadas na mente das pessoas”, declarou o presidente da Câmara Árabe no evento.
Ele enfatizou também o potencial do Brasil na economia verde, incluindo suas reservas de biodiversidade, energia limpa, produção de hidrogênio verde e esforços para integrar os povos amazônicos na economia e finalizou reforçando a disponibilidade ao diálogo e à construção de parcerias mutuamente benéficas em diferentes campos de negócios e no segmento do ESG.
Sonia Guajajara
A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, que é chefe da delegação brasileira na COP28, discursou no evento do Pacto Global e enfatizou a necessidade de envolvimento de todos os setores, incluindo governos, sociedade civil e empresas privadas, para uma transição justa para uma economia de Net Zero no sul global.
“Não vai existir transição justa pra economia de Net Zero sem o respeito aos direitos humanos e aos direitos dos povos indígenas”, ressaltou a ministra, falando da importância de integrar meio ambiente e direitos humanos. Ela destacou a COP28 como um evento decisivo.
“Estamos de fato em uma COP decisiva: A COP que busca avançar em compromissos mais robustos que os de Paris para evitarmos ultrapassar 1,5ºC; a COP que busca uma meta global de adaptação, que celebra o Fundo de Perdas e Danos, que se aproxima de um grande acordo para a triplicação das energias sustentáveis e que organizou a primeira mesa de alto nível sobre a transição justa, na qual eu estava representando o Brasil como chefe de delegação. Ela é decisiva não só pela urgência, mas porque se compromete com novas e melhores metas, alargando os temas da convenção”, declarou.
Guajajara concluiu enfatizando a urgência da situação climática. “Como muitos protestos mundo afora dizem: não existe um Planeta B. Os relatórios técnicos apontam que estamos chegando muito próximo do nosso limite. Esta COP busca avançar em acordos e novas metas de mitigação e adaptação, com propostas para não deixar ninguém para trás”, disse.
Ela ainda destacou a importância do apoio contínuo do setor privado e do Pacto Global para avançar nessas iniciativas. “O Pacto é de fato decisivo para estas iniciativas e contem com o Governo Lula, com o Ministério dos Povos Indígenas para fazermos o necessário para avançar”, concluiu.