Débora Rubin
São Paulo – Uma fábrica de polpas congeladas da cidade de Carolina, no sul do Maranhão, é a única representante brasileira na final do Prêmio Iniciativa Equatorial, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Isso porque ela não só produz polpas congeladas, mas também gera renda para pequenos produtores rurais e para comunidades indígenas do Maranhão e do Tocantins.
O Projeto Frutos do Cerrado foi criado há mais de dez anos pela ONG Centro de Trabalho Indigenista (CTI) como forma de mostrar que é possível desenvolver uma atividade extrativista sem derrubar o cerrado. Uma década depois, está mais que provado. Se ganhar o prêmio, leva US$ 30 mil e uma visibilidade internacional. O anúncio será feito no dia 05 de junho, na Alemanha.
A FrutaSã tem apenas sete funcionários, mas gera renda para cerca de 300 famílias de produtores que vendem as frutas mais variadas, e exóticas, para a empresa. Além disso, o lucro obtido vai para as 17 aldeias de índios representadas pela Associação Wyty-Catë das Comunidades Indígenas Timbira do Maranhão e Tocantins, que detém 50% da empresa. A outra metade é do CTI. A cidade de Carolina foi escolhida por estar próxima dessas comunidades e dos produtores.
Segundo Omar Silveira Júnior, sócio do CTI e assessor do Projeto Frutos do Cerrado, a FrutaSã não só provou que é possível lucrar sem derrubar como também fixou esses produtores em suas terras, evitando o fluxo migratório. Além, claro, de preservar a cultura timbira.
Ano a ano, a empresa vem aumentando sua produção. Em 2006, foram desembolsados R$ 300 mil na compra de frutas, beneficiando cerca de 300 famílias de produtores. Foram produzidas 125 toneladas de polpa. Em 2003, era metade desse número. O faturamento da empresa gira em torno de R$ 492 mil por ano. O produto é vendido basicamente pelas redondezas, entre o Maranhão, o Tocantins e o Pará. Para exportar, seria preciso dobrar a produção.
Apelo para o mercado externo a FrutaSã tem. Dali saem polpas de frutas tão incomuns, tais como bacuri, açucara e murici, que muitas vezes nem o brasileiro do sul e sudeste conhecem. Mas há também polpa de abacaxi, manga, maracujá, caju e cajá – esta última é a que tem maior oferta. Tem produtor que chega a tirar R$ 1 mil por safra com apenas um pé de cajá.
Para crescer e dobrar a produção, a FrutaSã precisa resolver problemas estruturais. Uma das dificuldades, segundo Omar, é achar mão-de-obra especializada na região. "Por exemplo, não existe técnico em produção por aqui. E importar de outros estados sai caro", diz. "Estamos tentando convênios com universidades para profissionalizar o processo produtivo da empresa", diz.
Prêmios
Nos últimos anos, o Projeto Frutos do Cerrado já ganhou três prêmios nacionais, o Chico Mendes, um da Fundação Getúlio Vargas e o terceiro da Fundação Banco do Brasil. A expectativa pelo Prêmio Iniciativa Equatorial é grande. Não tanto pelo dinheiro, que seria bem vindo, mas pela visibilidade. "Só de estar entre os finalistas já é um reconhecimento importante. Mas esperamos que isso se reverta em parceiros, que apareça gente interessada em apoiar nosso projeto", diz Omar. "De qualquer forma, não custa a gente acreditar. Os índios já estão fazendo as festas deles por esse prêmio".
FrutaSã
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