Cláudia Abreu
São Paulo – Coquinho azedo, pequi, umbu e cajá. Em forma de polpa congelada, essas variedades tradicionais do cerrado e da caatinga brasileira estão entrando no cardápio de famílias de todo o Brasil. Produzidas pela Cooperativa Grande Sertão, de Montes Claros, em Minas Gerais, as polpas das frutas são distribuídas para escolas, creches, asilos, por meio de uma parceria com o governo federal. Os produtos também chegam a feiras e supermercados de Minas, São Paulo e Brasília. Este ano, a produção será de 80 toneladas. Para 2007, a meta é produzir 120 toneladas de polpas.
O trabalho com as variedades do cerrado e da caatinga começou a ser desenvolvido há quase 20 anos, por iniciativa do Centro de Agricultura Alternativa (CAA), mas só tomou forma em 2003, com a criação da Cooperativa dos Agricultores Familiares Extrativistas Grande Sertão. "Primeiro foi feito um estudo do que podia ser produzido na região e depois traçamos um plano de acesso a mercados para os produtos, que eram pouco conhecidos da população", explica Breno G. dos Santos, assessor da cooperativa. Atualmente, cerca de 1.500 pequenos produtores fazem parte da entidade.
Segundo Santos, o plano para o cerrado levou em conta a cultura regional. "Não inventamos moda, trabalhamos com cultivares que já faziam parte dos hábitos alimentares da região, mas não tinham nenhum valor de mercado", diz.
Com a inserção das frutas no mercado, o programa também buscou sanar dois problemas sérios: melhorar a renda dos pequenos agricultores locais, os geraiseiros, como são conhecidos, e preservar o que ainda sobra do cerrado. Apesar de representar 22% do território nacional – dois milhões de quilômetros quadrados que se estendem do Mato Grosso ao Maranhão -, só resta 30% da vegetação original.
Os investimentos na fábrica foram da ordem de 200 mil reais, a partir de 2003. A unidade emprega, atualmente, 19 pessoas e tem capacidade para produzir até 120 toneladas de polpas. "Esperamos atingir esse volume já na próxima safra e, a partir daí, pensar no mercado externo", afirma Santos. Segundo o assessor, para exportar e atender o mercado interno, a cooperativa tem de produzir, no mínimo, 250 toneladas de polpas por safra. Para isso será necessário beneficiar 500 toneladas de frutas. "Estamos preparados no que diz respeito a normas, só precisamos aumentar a produção", afirma.
Para incentivar os produtores, a cooperativa está fazendo viveiros das espécies e distribuindo aos agricultores. "Estamos repovoando o cerrado", diz Santos. A cooperativa trabalha com 16 variedades de frutas. As que mais têm mercado consumidor são coquinho azedo, pequi, umbu e cajá. Do pequi, a cooperativa também produz óleo e vende a fruta congelada, além de polpa.
Mais um ponto importante para aumentar a produção de Montes Claros é a questão da remuneração ao agricultor. "Estamos planejando a produção de forma que o produtor tenha renda o ano inteiro e, assim, continue apostando no cultivo das espécies do cerrado", explica Santos. Segundo ele, as variedades regionais "concorrem" com a pecuária, a soja e o eucalipto, que já invadiram parte da vegetação, por isso, têm de ser interessantes financeiramente para o agricultor continuar produzindo.
Outra estratégia para remunerar o agricultor o ano inteiro é diversificar. Desde 2004, a cooperativa está apostando também na produção de rapadura e mel. "No ano passado, foram 15 toneladas de mel e 30 toneladas de rapadura", afirma Santos. A intenção é dobrar a produção nos próximos anos. Esses produtos também serão trabalhados no mercado externo. "Mas, nesse caso, temos de superar ainda algumas barreiras técnicas", conclui o assessor.
Cooperativa Grande Sertão
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