São Paulo – Os portos brasileiros apresentaram crescimento de 4% no volume de movimentação de janeiro a maio frente ao mesmo período de 2019. O dado foi apontado pelo diretor de Novas Outorgas e Políticas Regulatórias Portuárias da Secretaria dos Portos do Brasil, Fábio Lavor (foto acima), durante o webinar “O impacto dos efeitos da crise da Covid-19 sobre o setor de logística no mundo árabe: Desafios e oportunidades de parceria árabe-sul-americana”. O evento ocorreu nesta quarta-feira (12), promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e União das Câmaras Árabes, e reuniu cerca de 900 pessoas do Brasil e do exterior.
Para o diretor, o investimento e estratégia de longo prazo do setor explica a alta. “Claro que estamos sendo afetados neste momento, mas até em virtude do perfil das nossas cargas, o setor portuário tem conseguido enfrentar esse momento. Estamos caminhando para um ano recorde de movimentação, somando exportação e importação”, declarou. Lavor incentivou a participação de empresas árabes no projeto do governo de privatização no setor, que já conta com 13 licitações de arrendamento feitas em 2019, e outras 20 planejadas para o próximo ano. “Gostaríamos de contar com mais participação árabe, em especial na parte logística portuária”, afirmou ele. Um dos objetivos é tornar privada a gestão do Porto de Santos, por onde passa um terço das trocas comerciais no País.
Importante ator no mundo árabe, a Zona Econômica do Canal de Suez também seguiu com as atividades em meio à crise. “Foi muito importante continuarmos o trabalho apesar da pandemia. O setor de logística é de vital importância para apoio às pequenas e médias empresas, que devido à atual crise encontram dificuldades, mas desempenham papel importantíssimo”, explicou o presidente da Autoridade Geral para o Desenvolvimento da Zona Econômica do Canal de Suez, Yahia Zaki. A zona econômica é administradora do canal e de vários de seus portos.
Os custos de transporte são um grande empecilho atualmente, segundo Zaki. O principal desafio é no comércio de commodities para acelerar a integração comercial entre as regiões que cercam o canal, considerado portal de facilitação de comércio no continente africano. O presidente frisou, ainda, que a instituição espera acelerar e desenvolver os laços com portos do Brasil e América do Sul.
Para se antecipar ao impacto da covid-19, a vice-presidente da América Central e do Sul da Associação Internacional de Portos (IAPH) e diretora de Negócios Internacionais e Inovação do Porto de Açu, Tessa Major, buscou informações com seus pares ao redor do globo. “Lançamos uma força tarefa e usamos uma rede de portos para entender como outros lugares do mundo estavam sendo afetados. Com isso, criamos um documento de orientação para portos com as melhores práticas globalmente”, afirmou Major.
O Porto de Açu fica próximo à capital fluminense e funciona como porta de entrada para o estado de Minas Gerais. “Nossa logística funciona muito com estradas. Vamos ter um serviço regular de cabotagem entre o Porto do Rio de Janeiro e o Porto do Açu, começando em setembro”, relatou ela sobre o sistema de navegação entre portos ou pontos da mesma costa de um país. Sobre o coronavírus, Major explica que já há uma leve recuperação de movimento no porto. “Para o impacto de longo prazo ainda é mais incerto. Mas de forma geral os portos estão buscando um perfil de mais resiliência a risco, com fontes adicionais de receita”, ressaltou ela.
Outra mudança de perfil, questionada por Pedro Oliveira, gerente de Projetos e Novos Negócios da empresa de agenciamento marítimo Unimar, é em relação aos produtos comercializados entre Brasil e países árabes. “Com a queda do preço do petróleo, o esforço dos árabes para diversificar deve ter se intensificado. Acho que devemos mapear as cargas que estão tendo crescimento [em embarques ao Brasil]”, afirmou ele.
Nessa movimentação, os alimentos terão preferência, explicou a decana da Faculdade de Transporte Internacional e Logística da Academia Árabe Para Ciências e Transporte Marítimo e assistente Econômica da União das Câmaras Árabes, Sarah Elgazzar. “Depois da covid-19 e de todo esse dilema que estamos passando, é possível dizer que a prioridade nos países árabes é a segurança alimentar. Por dois motivos: o alimento é essencial, e as commodities podem trazer valor agregado”, declarou.
O CEO da Gulf Freight Group, Moataz Mosleh, que exporta do Egito para o Brasil, relatou queda nos embarques nos últimos meses, mas espera elevar os volumes novamente a partir de agora. Para ele, é possível traçar algumas estratégias para intensificar a comercialização com o Brasil. “Precisamos ter estratégias para essa exportação, como uma zona de livre comércio em Santos, ou em outros portos brasileiros”, disse ele, lembrando que com o acordo Mercosul-Egito, a situação está melhor do que era antes.
A abertura do evento contou com falas do secretário-geral da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy, do secretário-geral adjunto para assuntos econômicos da Liga dos Estados Árabes, Kamal Hassan Ali, do presidente da Câmara de Comércio Egípcia de Alexandria, Ahmed Al Wakil, do presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes, o senador Jean Paul Prates; e do embaixador e vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, Osmar Chohfi.
Também participou do webinar, falando dos avanços atuais no setor de logística global e no mundo árabe após as consequências da crise de covid-19, Marcos Valentini, especialista em Logística, Supply Chain e Cientista de Dados e sócio-fundador da Scl Big Data Analytics. A mediação foi do secretário-geral e CEO da Câmara Árabe, Tamer Mansour.
Leia também a reportagem sobre o webinar: Covid: transporte Brasil-países árabes não foi tão afetado
Assista, abaixo, o webinar completo: