São Paulo – A pandemia de covid-19 exacerbou diferenças sociais e econômicas no Brasil e no mundo. Foi o que disse o médico Riad Younes, vice-presidente de Marketing da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, durante o painel “Balanço do impacto da covid-19 nos principais mercados e análise de competitividade e inovação no halal”, no primeiro dia do Global Halal Brazil, primeiro fórum halal do Brasil, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal).
Ele falou sobre como o sistema público de saúde deve receber investimentos em escala mundial, pois sem ele o mundo não teria vencido a crise pandêmica. Ele disse ainda que o setor de saúde foi afetado no que diz respeito ao atendimento médico para doenças crônicas e tratáveis, e que precisamos de mais profissionais na área, já que muitos perderam a vida trabalhando na linha de frente do combate à doença.
“O tratamento para doenças crônicas foi retardado. Pacientes não estão fazendo mais o check-up para cuidado precoce de doenças crônicas e graves, e a mortalidade que tinha baixado muito nas últimas décadas voltou a subir, por exemplo, de infartos, temos dificuldade de lidar com os doentes que já estão atrasados no seu tratamento eletivo por causa da ocupação de UTIs no mundo inteiro”, disse Younes. Ele afirmou que agora, nos últimos meses, o setor de saúde está começando a ‘limpar’ a fila de pacientes que necessitam de cuidado.
Younes contou ainda sobre o impacto dos pacientes que foram infectados pela covid-19 e não morreram. “É o que chamamos de ‘covid crônica’, pacientes com doenças pulmonares, cardíacas, cerebrais, mentais, neurológicas muito graves que vão também sobrecarregar nosso sistema de saúde”, afirmou o médico.
Por outro lado, Younes disse que a covid-19 deixou muito claro a necessidade do mundo inteiro de focar na saúde pública. “A saúde publica demonstrou ser o único esteio que conseguiu combater essa doença grave. Não foi o sistema privado ou os público-privados, mas os sistemas públicos que vacinaram, cuidaram da sobrecarga dos doentes. Então todos os países estão voltando a focar na necessidade de investimento e alavancagem dos sistemas públicos de saúde”, enfatizou.
O médico informou que a pesquisa cientifica para todas as doenças crônicas, tirando a pesquisa para a covid-19, foram atrasadas em dois anos. “Isso sem dúvida impacta também na nossa capacidade de ter pessoas produzindo e saudáveis em pouco tempo”, disse.
Por fim, Younes disse que a pandemia vai afetar drasticamente os mercados mesmo que acabemos com a infecção a curto prazo. “A longo prazo, o impacto na saúde será muito grande, de consumidores a produtores, até a ausência de médicos e enfermeiros. “Imagino que terá um impacto muito grande a longo prazo em países árabes, islâmicos, no Brasil e em todo o mundo”, concluiu.
Outros tópicos do painel
Participaram deste painel a professora doutora Kamola Bayram, da KTO Karatay University (Turquia), a CEO e cofundadora da OneAgrix, Diana Sabrain, e o chefe do Serunai Halal Centre of Excellence, Mohamed Jabal Bin Abd Rahim. O moderador foi o gerente de Políticas de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Sardelli Panzini.
Sabrain falou sobre a importância da tecnologia de rastreamento por QR code e da necessidade de acelerar a digitalização dos processos para os alimentos halal e toda sua cadeia de produção.
Mohamed Jamal mostrou como a pandemia vem impactando todos os setores de negócios, e principalmente no mercado, na competitividade e na inovação de produtos halal, inclusive a certificação halal. Para ele, é preciso implementar mais tecnologia para a certificação. Os processos para a certificação ficaram mais lentos e os pedidos de certificação diminuíram. O problema, para ele, é o risco de contaminação na cadeia de produção, com a mistura de alimentos halal e não halal.
Kamola Bayram falou sobre o impacto na educação em economia islâmica.
O fórum ocorre com o patrocínio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), BRF, Pantanal Trading, Portonave e Iceport.
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