São Paulo – A indústria automobilística passa por um dos seus melhores momentos no País. A demanda interna aquecida e o crédito fácil impulsionam as vendas de carros zero quilômetro e geram benefícios para a cadeia produtiva. Em julho, o setor empregou 146 mil pessoas diretamente. No acumulado de janeiro a julho, as vendas somam 2,04 milhões de automóveis e comerciais leves no mercado interno e são 8,6% maiores do que o registrado no mesmo período de 2010. A previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é crescer 5% em comparação com o ano passado até o final de 2011.
Mas números bons não são suficientes para deixar o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, completamente satisfeito. Em entrevista à ANBA na quinta-feira (4), em São Paulo, ele afirmou que o Brasil exportou no passado 35% da produção e hoje não manda para o exterior mais do que 13% do que fabrica. Dados da Anfavea mostram que a balança comercial do setor é negativa. Em 2010 o Brasil importou US$ 18,4 bilhões em automóveis, comerciais leves, ônibus, caminhões e máquinas agrícolas e exportou US$ 12,8 bilhões. Grande parte destas importações é feita pelas montadoras, que trazem veículos do México e do Mercosul com redução de tarifas. Belini disse, no entanto, que as exportações precisam crescer e lembrou que o câmbio é um desafio que influencia até o preço dos produtos vendidos no Brasil. Confira a entrevista a seguir:
ANBA – A indústria automobilística está passando talvez pelo seu melhor momento no país? Dá para dizer isso?
Cledorvino Belini – A indústria automobilística está passando por um bom momento, com média 14.500 veículos [vendidos] por dia. É um bom mercado. Há uma competitividade muito grande, como é natural em qualquer mercado. Porém, o que importa é que haja volumes. O crescimento [previsto] no ano, de 5% ou mais, é algo real, concreto para um crescimento de um PIB em torno de 4%.
O senhor citou a competitividade. Estamos recebendo novas empresas, principalmente chinesas, seja com importados ou com fábricas. Em alguns casos com preços competitivos. Isso já está mexendo com a vida das montadoras que estão aqui há muito tempo?
Isso só o tempo vai mostrar, qual a evolução, qual a tendência. Você tem que ver que cada montadora tem uma estratégia diferenciada, cada montadora vai utilizar políticas diferenciadas. Sem dúvida a concorrência é que traz o progresso, então esse é o lado bom. O que nós precisamos é competitividade para exportar mais e é isso que estamos buscando.
Por falar em exportar, o Brasil já exportou muitos carros para países do mundo árabe. Existem planos de voltar a vender para eles, de voltar a investir neste mercado?
Talvez alguma montadora isoladamente esteja trabalhando neste sentido, mas eu desconheço qualquer coisa.
Existe uma dificuldade específica em vender para lá?
Não. A realidade é a questão cambial que hoje dificulta muito a competição com relação a outros parceiros mundiais.
Indústria e comércio costumam falar do ‘custo Brasil’. Alta taxa tributária, problemas de infraestrutura e logística. Isso afeta a produção e as vendas do setor? Se a carga não fosse alta, essas vendas poderiam ser muito maior do que 14.500 carros por dia?
Os 14.500 carros por dia, agora, são a média dos últimos três meses e levam o Brasil a um mercado de automóveis e comerciais leves em torno de 3,4 milhões de unidades e, incluindo caminhões e ônibus, em torno de 3,580 milhões de unidades. É um grande mercado. O que tem é que cerca de 22%, 23% deste mercado está sendo atendido por produtos importados. Está estabilizado. Mas já exportamos 35% [da produção] há seis anos e agora estamos exportando somente 12%, 13%. O que precisamos é aumentar o ritmo de exportação da produção brasileira.
O que pode ser feito para isso?
Medidas como estas que já estão sendo tomadas [pelo governo federal de reduzir o IPI para incentivar o desenvolvimento de novos produtos]………inovação tecnológica, desenvolvimento tecnológico do setor poderá alavancar isso.
Por que pagamos mais por um carro aqui? É só imposto ou as montadoras descobriram que o consumidor brasileiro se propõe mesmo a pagar mais pelo produto?
O consumidor brasileiro é competitivo como qualquer outro. É um mercado maduro e ele é muito exigente. Na realidade, estamos medindo paridades cambiais diferentes. Tem o índice McDonald’s, que sai na revista The Economist [que calcula o valor do Big Mac no mundo todo] e que aqui custa US$ 9 o McDonald’s, que custa US$ 5 nos Estados Unidos, estou chutando os números, que custa US$ 1,50 na China. É a questão da paridade cambial. O real se tornou extremamente forte, a desvalorização do dólar que está criando esta diferença cambial com relação ao real.