São Paulo – Quem planta milho não tem motivos para reclamar. A commodity tem o melhor preço dos últimos anos e não deve se desvalorizar tão cedo, o que garante dividendos aos produtores. A demanda internacional está aquecida – principalmente porque os estoques nos Estados Unidos estão baixos – e o consumo nacional deve crescer em 2011. Os produtores deverão ter um bom ano se não sofrerem com a quebra da safra inverno (também chamada de safrinha).
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, as exportações de milho cresceram 32,1% no primeiro trimestre deste ano. Para os países da Liga Árabe o Brasil exportou 23,3% a mais nos três primeiros meses do ano sobre o mesmo período de 2010. Esse aumento nas exportações não deverá se confirmar no fim do ano, de acordo com o analista de mercado agrícola da Céleres Consultoria, Leonardo Menezes.
Ele afirma que a demanda do mercado interno está em alta por causa do aumento do consumo destinado à alimentação animal e isso deve restringir a oferta para exportação. O cereal é a base da alimentação de aves e suínos. Em 2010, 36,9 milhões de toneladas foram destinadas aos animais. Neste ano, deverá chegar a 38 milhões de toneladas. Esse é um dos motivos que leva o mercado a projetar que, ao fim do ano, o Brasil terá exportado oito milhões de toneladas de milho, contra 10,7 milhões em 2010.
Além da demanda interna elevada, o consumo norte-americano contribui para o aumento dos preços. "Os Estados Unidos têm destinado grande parte do milho para a produção do etanol e não só para alimentação. Eles estão com o menor estoque dos últimos 15 anos", afirma Menezes. A reserva norte-americana é suficiente para o consumo de 18 dias. "O ideal seria um estoque para dois meses e meio a três meses", observa.
No primeiro semestre do ano passado, o milho era negociado a US$ 3 por bushel na Bolsa de Chicago. Este ano, o bushel do milho já chegou próximo dos US$ 8. No Brasil, a alta no preço da commodity atingiu 156% no município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Em março do ano passado, a saca de milho produzida no município foi vendida a R$ 7,29 na média mensal de fevereiro. No segundo mês deste ano, a saca produzida em Lucas do Rio Verde foi comercializada a R$ 18,66 na média do mês.
Em Mato Grosso o preço chegou aos R$ 18,66. No Rio Grande do Sul (que tem cerca de 13,5% da produção nacional, estimada em 13 milhões de hectares), a saca de 60 quilos é comercializada entre R$ 24 e R$ 28. No ano passado, a saca era vendida, em média, a R$ 14. O baixo preço do milho em 2010 e a ameaça de quebra de safra por causa do fenômeno climático La Niña fizeram com que produtores gaúchos trocassem o milho pela soja. Cerca de 200 mil hectares de milho deixaram de ser plantados em 2010. A área plantada do estado caiu para 900 mil hectares. Como o La Niña não causou quebra de safra, a produção gaúcha ficou estável.
Sem a ameaça de clima instável e com preços em alta, os produtores gaúchos voltarão a plantar milho em agosto. Isso, no entanto, não deve fazer os preços caírem na região. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho), Claudio Luiz de Jesus, a demanda vai continuar em alta no estado, que consome a maior parte do que produz e aumentar o lucro dos produtores. "A Dilma acabou de voltar da China com acordos de exportação de carne. Um frigorífico da nossa região (Ijuí) vai vender carne para lá e, com isso, a demanda pelo milho vai crescer", prevê.
Tanto Menezes como Claudio avaliam que o preço do milho está alto e ainda não encontrou um "ponto de equilíbrio". Esse "padrão" pode variar, segundo Menezes, de acordo com a demanda internacional, o comportamento das outras commodities e a exportação de carnes. Claudio avalia que o preço médio do milho no Rio Grande do Sul é de R$ 22 a saca. Mas não acha que o preço atual deverá cair se a exportação de carne continuar em alta.