São Paulo – O minério do ferro registra queda de 16,5% nos últimos 12 meses e de 22,8% apenas neste ano nas cotações da bolsa de commodities metálicas de Londres (LME, na sigla em inglês). Essa redução nos preços do minério, que, na última terça-feira (12) encerrou cotado a US$ 108,40 por tonelada, tem um motivo: China. O país, maior consumidor mundial do produto, está com estoques elevados e demanda menor provocada, em grande parte, pela desaceleração do setor de construção porque há um grande endividamento do mercado imobiliário (na imagem acima, armazenamento de minério de ferro em Suzhou, na província chinesa de Jiangsu).
De acordo com o consultor em Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Guilherme Gomes, essa redução nos preços pode ser ruim para a lucratividade das empresas que exploram o minério, mas pode ser bom para os consumidores da commodity, que compram a preços menores, e para as exportações do Brasil aos países árabes. Além disso, diz Gomes, os preços podem ficar baixos no médio prazo porque dependem da China para se recuperar.
“É possível que essa queda nos preços seja temporária, pois foi resultado da combinação da entrada de mais minério de ferro na China do que esperado com uma demanda menor do que o previsto para o início do ano. Contudo, a tendência de desaceleração econômica chinesa ao longo desse ano poderá prolongar o período de baixa no preço do minério de ferro, que poderá demorar a retomar ao patamar anterior de preço”, afirma Gomes.
Por outro lado, analisa o especialista, essa nova realidade de preços deverá influenciar diretamente a balança comercial brasileira, pois o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de minério. “Há uma elevada representatividade do minério de ferro nas exportações brasileiras, que representou 11% do total exportado pelo Brasil neste ano. Desse total, a China foi o destino de 66% do total exportado pelo Brasil de minério de ferro em 2024. Portanto, caso a demanda chinesa por minério de ferro não se recupere no médio prazo, é possível que haja algum impacto na balança comercial, com redução no superávit comercial brasileiro ao longo do ano”, afirma Gomes.
Se, por um lado, pode haver um impacto negativo na balança comercial total, por outro os exportadores brasileiros podem lucrar mais com os clientes do mundo árabe. A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, exporta minério do Brasil para Omã, no Golfo, onde possui um complexo industrial. E, de lá, distribui o produto para outros países.
“Omã é o terceiro maior consumidor das exportações brasileiras de minério de ferro, que, junto com outros países do Golfo, equivalem a cerca de 5% da demanda de minério de ferro do Brasil. Nesse sentido, é possível que a queda do preço internacional do minério de ferro, aliada à menor demanda da China, beneficie as exportações brasileiras para a região. Isso ocorre pois a queda no preço internacional torna mais atrativa a importação do produto brasileiro, reduzindo os custos associados à importação do produto vindo do Brasil. Assim, é possível que a região do Golfo eleve a sua participação nas exportações brasileiras de minério de ferro no médio prazo”, afirma Gomes.