São Paulo – Em 2009, a família do agricultor Nicanor Carvalho, de 95 anos, quase desistiu de plantar algodão em Leme, a 188 quilômetros da capital paulista. Segundo a neta do agricultor, a engenheira agrônoma Cristiane Carvalho, a família quase abandonou o plantio desta commodity. A área plantada foi reduzida para dar lugar a milho e soja.
Mas desde a última safra, a família voltou a investir no algodão. Em 2011, a área plantada na fazenda de Nicanor atinge 150 hectares e poderá chegar aos 250 no ano que vem, se a demanda continuar alta e os estoques, baixos.
A família de Nicanor não foi a única a pensar em outras culturas como fonte de renda. Outros agricultores arrendaram fazendas, venderam máquinas e agora querem voltar para o antigo cultivo. De acordo com o presidente da Associação Paulista dos Produtores de Algodão (Appa), Ronaldo Spirlandelli, o estado de São Paulo tem ainda mais motivos para atrair agricultores.
Spirlandelli lembra que o estado era o maior produtor nacional de algodão nos anos 60, mas sofreu com a praga bicudo e perdeu produtores. De acordo com a Appa, na safra 2000/2001 o estado tinha 63 mil hectares de área plantada de algodão. Em 2009/2010, a área plantada chegou a seu pior nível, com 4.800 hectares, mas já começou a se recuperar: no período 2010/2011 a cultura do algodão terá área plantada de 16.200 hectares, mesmo patamar de 2007/2008. "Hoje, até áreas de cana de açúcar dão lugar ao algodão por causa da rentabilidade", diz Ronaldo.
A previsão é que na próxima safra o cultivo ultrapasse os 20 mil hectares de área plantada no estado de São Paulo, especialmente na região do estado onde há mais lavouras de algodão: Paranapanema, Leme, Holambra, Ituverava, Martinópolis e Votuporanga. A área plantada paulista, no entanto, é pequena se comparada com os 671.175 hectares de algodão plantados em Mato Grosso, o maior produtor nacional. A Bahia também é grande produtora, com área plantada estimada em 360 mil hectares.
O aumento nas plantações paulistas é reflexo do controle da praga, mas, principalmente, porque o Brasil e o mundo precisam de algodão e os preços estão subindo. Não é só São Paulo que se beneficia com o crescimento da produção. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) prevê aumento de 10% a 20% na área plantada nacional nos próximos três anos.
Em 28 de junho de 1996, a libra-peso do algodão era cotada a 80,1 centavos de dólar. No último dia 29, a mesma quantidade de algodão estava cotada a 236,4 centavos de dólar, de acordo com dados do Cepea/Esalq, centro de pesquisa ligado à USP. O mesmo levantamento mostra que a commodity teve altos e baixos no mercado internacional. Mas, de acordo com o Cepea, a alta se acentuou a partir de 25 de setembro de 2009, quando o algodão estava cotado a 63,38 centavos de dólar.
Para o Cepea, os motivos que levam os preços para cima são o baixo estoque mundial, rápido crescimento de demanda e queda na área cultivada na safra 2009/2010. Mesmo com o aumento esperado para a próxima safra, com oferta maior que demanda, os estoques continuarão baixos.
Exportações
De acordo com dados da Abrapa, no primeiro bimestre de 2011 o Brasil exportou 32.300 toneladas, queda de 47,75% em relação às 61.813 toneladas do produto enviadas ao exterior no mesmo período em 2010. A última safra não foi boa para o país. Os produtores pediram isenção de impostos na importação de 175 mil toneladas de algodão (que vale até 31 de maio) para atender a demanda nacional.
Dos países árabes, o principal comprador do Brasil foi o Marrocos. O país importou 543 toneladas, um aumento de 54,7% em relação às 351 toneladas importadas em janeiro e fevereiro do ano passado.