Isaura Daniel
São Paulo – Um grupo de cerca de 200 produtores rurais do Rio Grande do Sul (RS) tenta transformar o arroz brasileiro numa mercadoria de exportação. O Brasil não é um tradicional fornecedor do produto para o mercado internacional e exportou, nos últimos cinco anos, apenas 25,7 mil toneladas por ano em média.
A meta dos produtores gaúchos, porém, é enviar ao exterior 100 mil toneladas de arroz com casca até o final de 2004. "Vamos exportar o excedente da produção", disse o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valter Pötter.
Em quatro anos, os agricultores do estado querem enviar ao exterior um milhão de toneladas. "A produtividade brasileira está crescendo devido à tecnologia utilizada. Haverá cada vez mais sobra de arroz", afirmou o presidente da Federarroz.
A Federarroz é a entidade que leva o projeto adiante, juntamente com a Federação da Agricultura do RS (Farsul) e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Destinos
O primeiro embarque deve ser feito já no início de setembro. Neste momento, o grupo está negociando com cerca de 15 possíveis compradores nas Américas do Sul e Central, África, Leste Europeu e Irã.
Ainda não foram feitos contatos com importadores de nações árabes. "Mas temos interesse de vender para lá", disse Pötter.
As exportações brasileiras de arroz para a Liga Árabe são muito pequenas. Nos primeiros meses deste ano, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) não registrou nenhum embarque para a região. No ano passado foram vendidas cerca de 50 toneladas para lá. Em 2002 foram comercializadas 109 toneladas.
Sobra de safra
O Brasil produziu, na última safra, cuja colheita terminou em abril, 12,7 milhões de toneladas de arroz. O consumo interno é de 12,6 milhões de toneladas, o que resultou num excedente de 100 mil toneladas. Se for levado em conta o estoque brasileiro de 358,4 mil toneladas e as importações, estimadas em 800 mil toneladas em 2004, a sobra é ainda maior.
Em contrapartida há falta de arroz no mercado internacional. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou a produção mundial da commodity em 571 milhões de toneladas para este ano. O consumo, porém, deve ficar em 607 milhões de toneladas, o que vai gerar um déficit de 36,2 milhões. O problema será resolvido com o estoque de passagem, atualmente em 121,2 milhões.
Os estoques globais, porém, estão num dos menores níveis dos últimos tempos. Em 2005, a previsão é que eles somem 95,5 milhões de toneladas ou 15,6% do consumo. "É um momento oportuno para exportar", declarou Pötter.
A princípio, as exportações do grupo de produtores gaúchos serão de arroz em casca. Se as vendas alcançarem as 100 mil toneladas, conforme previsto, a receita deve totalizar US$ 20 milhões.
Num segundo momento, eles querem vender também arroz branco ou parboilizado lá fora. Os tipos de arroz que o Brasil já vende para os países árabes, aliás, são os parboilizados, descascados e semibranqueados.

