São Paulo – Dois educadores brasileiros estão entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, premiação anual que é considerada o “Nobel” da educação. O paranaense Rubens Ferronato e o sul-matogrossense Diego Mahfouz Faria Lima têm presença confirmada na cerimônia de entrega do prêmio, agendada para 18 de março em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
<
Promovido pela Varkey Fundation, organização filantrópica britânica, e patrocinado pelo primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o Global Teacher Prize ocorre desde 2014 e oferece uma gratificação de US$ 1 milhão ao grande vencedor.
Ambos foram premiados em nível nacional e agora buscam também o reconhecimento internacional. Os professores pretendem investir o dinheiro do grande prêmio oferecido pelo primeiro ministro, caso vençam, nos projetos pelos quais foram indicados ao Global Teacher Prize.
O de Ferronato é o material pedagógico Multiplano, desenvolvido pelo paranaense em 2000. A ferramenta auxilia no ensino de matemática a cegos. “É uma placa perfurada com pinos, plásticos e hastes, capaz de ensinar até 108 temas matemáticos”, explicou o professor em entrevista à ANBA.
Uma vez por semana, o professor usa a ferramenta na Escola Estadual Dom Pedro II, no bairro do Batel, em Curitiba, com alunos cegos. Com a audição e o tato, os alunos interpretam o Multiplano e absorvem o ensinamento passado. Mas a ferramenta não se limita a quem tem a visão comprometida: “Pode ser usado por deficientes físicos, deficientes mentais. O conceito é universal, é bom para todo mundo”, afirmou.
Ferronato pretende usar o prêmio para ampliar a aplicação do equipamento para mais onze línguas, além do português. “Busquei as mais faladas em todo o mundo”, disse. O passo seguinte é implantar o Multiplano em 30 países, com a meta de 3 por ano. “A ideia é ir aos mais populosos, para difundir bem o uso”, contou.
<
Já indicação do sul-matogrossense Faria Lima deve-se ao trabalho realizado na Escola Municipal Darcy Ribeiro, que fica em São José do Rio Preto (SP). Ele transformou uma escola com problemas de vandalismo, evasão de estudantes e até tráfico de drogas em um colégio referência na região.
“Promovemos ações que visam dar voz aos alunos e torná-los protagonistas”, contou o professor à reportagem da ANBA. Faria Lima assumiu a Darcy Ribeiro em 2014 e reduziu a evasão de mais de 200 alunos para apenas 2 no primeiro ano de operação.
Para isso, criou ações como abrir a escola aos fins de semana para ensino de música clássica, um clube de astronomia e até um comitê de mediação de conflitos. “As brigas na porta da escola eram quase diárias. Com esse comitê, os próprios alunos passaram a identificar situações como conflitos, bulliyng e a convocar as partes envolvidas para o diálogo”, explicou.
Hoje com 930 alunos, a Darcy Ribeiro não pune mais os estudantes. “Tiramos o caráter punitivo da escola. As coisas são resolvidas no diálogo, mudamos o olhar dos estudantes e dos funcionários”, disse o professor. Segundo ele, antes de assumir a direção a escola tinha uma média de 60 advertências e suspensões de alunos por semana. Agora, não suspende mais ninguém.
Caso seja premiado, Faria Lima investirá o dinheiro na criação de uma ONG para ampliar o alcance de seus projetos. Antes da viagem para Dubai, ele e Ferronato aguardam a divulgação do Top 10 do Global Teacher Prize, marcada para fevereiro.
No ano passado, o brasileiro Wemerson Nogueira chegou entre os dez principais finalistas com o seu projeto social “Jovens Cientistas: Projetando um Futuro Novo”, no Espírito Santo. A grande vencedora foi a canadense Maggie MacDonnell.