São Paulo – “Extremos – Arquiteturas para um mundo quente” é o tema da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento São Paulo (IABsp), que, após realizar edições anteriores descentralizadas, retorna ao seu lar, o Parque Ibirapuera, na Oca. Na exposição, escolas, escritórios e órgãos públicos se debruçam sobre um objetivo central: apresentar projetos que respondam a uma nova realidade climática. Entre estes projetos está um elaborado no Líbano para ser executado no Bahrein.

Desenvolvido por estudantes da Escola de Arquitetura e Design da American University de Beirute, o projeto Eco commons: seeding urban biodiversity for climate and social resilience in Tubli Bay, Bahrain (Bens comuns ecológicos: alimentando a biodiversidade urbana para a resiliência climática e social na Baía de Tubli, Bahrein) propõe a reabilitação da Baía de Tubli, localizada ao sul de Manama, a capital do Bahrein O local já foi fonte de sustento das comunidades ao seu redor, por meio da exploração da pesca, mas hoje seus habitats terrestres e marinhos estão sob ameaça.
Cuidados com a água para um futuro menos extremo
O projeto propõe um parque linear, que geralmente é composto por uma área verde mais comprida do que larga margeada por um curso de água. Este parque linear projetado para o Bahrein proporciona acesso das pessoas à orla da baía, integra a mobilidade urbana da região e garante um microclima sombreado para as aves que vivem ali. É assinado pelas alunas de graduação libanesas Maya Haïdar e Clara Saliba sob orientação de Sandra Frem.
Este é um dos 30 projetos elaborados para o Concurso de Escolas, que integra a programação da mostra, ao lado de outros 179 trabalhos que chegaram à Bienal a convite e por meio de uma chamada aberta. Os projetos apresentam respostas não apenas para que os ambientes suportem melhor o calor, mas refletem sobre redução de emissão de gases causadores em construções e supõem soluções para que cidades e regiões sejam capazes de conviver e até atenuar climas extremos.
É o caso da ideia das cidades-esponja, um conceito criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu que, entre outras medidas, sugere adaptar as cidades para que sejam alagáveis e retenham a água das chuvas. Yu morreu em 23 de setembro, em um acidente aéreo no Pantanal do Mato Grosso do Sul.

Um tema comum à maioria dos projetos é a água. A Bienal de Arquitetura apresenta o desafio da água, seja pelo seu excesso na forma de inundações ou pela sua escassez, como disse à ANBA um dos curadores da mostra, Renato Anelli. “A questão da água é central para a sobrevivência na medida em que o aquecimento global altera o regime de precipitações”, falou.
Anelli também afirmou que algumas iniciativas que buscam a requalificação de ambientes com o uso da água utilizam o conceito de parque linear como uma solução. “O que percebemos, principalmente na chamada aberta e no concurso de escolas, que vários outros países se dedicam a técnicas semelhantes [à brasileira] e para nós foi uma agradável surpresa ver o trabalho da escola do Líbano, que aplica princípios semelhantes ao que estamos aplicando aqui. A questão da água e a relação da água com suas margens vegetadas é uma pauta internacional”, afirmou.
Temperaturas extremas em foco
O aumento das temperaturas e suas causas para além da questão hídrica também está na mostra. Um dos trabalhos é formado por diversos painéis com as listras de aquecimento, que avançam do azul (temperatura mais baixa) para o vermelho (temperatura mais alta). Cada painel representa uma cidade: Recife, em Pernambuco; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; Cuiabá; no Mato Grosso; Contagem, em Minas Gerais; e Guarulhos, em São Paulo, entre outras. Os painéis mostram que em todas estas cidades as temperaturas estão mais elevadas ano após ano. Junto destes painéis, há outros que explicam os processos de distribuição de calor, suas causas e consequências.
A mostra propõe cinco eixos temáticos: preservar as florestas e reflorestar as cidades; conviver com as águas; reformar mais e construir verde; circular e acessar juntos com energias renováveis; e garantir a justiça climática e a habitação social. Eles são explorados por maquetes, projetos conceituais tanto na sua forma como nos materiais empregados e exposições de diversos banners explicativos – onde está o projeto libanês. Todos buscam soluções para um desafio comum: o extremo climático.
A Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo tem entrada gratuita e fica em cartaz até 19 de outubro. Confira a programação completa aqui.


