São Paulo – Para ensinar gratuitamente e dar oportunidade a jovens em situação de risco, o projeto Fazedores de Café existe desde 2014. No último ano, pela primeira vez, os idealizadores resolveram tornar o curso aberto para refugiados. “É uma questão social muito importante que nós observávamos no País. Direcionar essas pessoas que estão vindo de fora e procuram um emprego. Conseguimos ser receptivos e impactar de maneira positiva a vida delas. O curso ajuda muito na autoestima da pessoa. Eu sou um caso. A ideia é sempre ajudar alguém que esteja em situação de risco. Em outras turmas eram alunos de periferia ou que estivessem em medida socioeducativa”, contou em entrevista à ANBA o coordenador do projeto, Paulo Gabriel Maciel da Silva.
Ele, que hoje coordena o projeto, foi aluno da primeira turma formada pelo Fazedores de Café. O projeto é idealizado e desenvolvido pelo Sofá Café – rede de cafeterias paulistana. As aulas dos refugiados tiveram início em outubro de 2018 e vão até abril deste ano. A taxa de empregabilidade do projeto é de 90%. Para ingressar no curso, os alunos passam por pré-seleção em ONGs parceiras. Na turma atual, ingressaram um aluno da Síria, um do Mali e uma do Congo, além de duas brasileiras. É com essa diversidade que a atual turma segue apreendendo sobre o universo do café dentro da unidade do Sofá Café de Pinheiros, São Paulo.
Conhecimento
A grade do curso compreende assuntos diversos. “Não só falando de preparo, mas também de cultivo e produção. Em geral, vamos à fazenda e temos aula com produtores de café. E, ‘da porteira pra fora’, falamos sobre torra, degustação de café e preparo da bebida. Vamos além da bebida, falamos de atendimento, coisas particulares que só o Fazedores tem no Brasil: negócios de cafeteria, atendimento, ética, expressão corporal são aulas que fazemos com pessoas que são especialistas”, revelou o coordenador.
Para receber os refugiados, o Fazedores também incluiu uma aula focada em comunicação. “Eu vejo no Fazedores de Café, a bebida e a complexidade que ela tem, como uma desculpa para ajudar. Para além de comandar várias aulas de café, é uma relação muito mais de carinho. Dar atenção, se mostrar presente. E tentar direcionar eles com foco, atenção, compromisso com as aulas”, contou Silva.
“Essa nova turma é muito diferente das que eu já coordenei. Eles vêm de uma situação diferente. Os jovens passaram por situações que eu também passei, então entendia de uma maneira um pouco mais clara quais eram as necessidades da turma anterior. Para essa turma, acho que os métodos são muito diferentes. É uma relação muito mais de compreensão mesmo”, pontuou Silva.
O músico
O sírio Rajana Oulby (foto) é músico. Há três anos e meio no Brasil, ele trabalhou em uma fazenda e como eletricista. Quase um ano e oito meses trabalhando na fazenda ajudaram Rajana a trazer sua família para o Brasil. “Quando cheguei eu não conhecia ninguém, não falava português. E consegui, aprendi conversando com brasileiros. Agora é mais tranquilo. Os brasileiros me ajudaram a trazer minha família. Eu tinha que trazer eles de qualquer jeito”, revelou.
Rajana voltou, agora, a morar em São Paulo, capital, para buscar seu sonho. “Quando tudo ficou tranquilo, decidi voltar a trabalhar com o que amo: a música”, conta ele, que criou a banda Brisa do Oriente, que toca música árabe.
Enquanto compõe e busca criar base para a banda crescer, Rajana descobriu o Fazedores. “Uma amiga me ligou e falou que tinha um curso que podia fazer. Eu gosto muito de café, tomo muito bons aqui! E queria saber mais sobre a bebida. Está sendo muito boa a experiência! Agora, eu aprendi muitas coisas. Não sabia que tinha tanta informação assim sobre café. Agora eu sei que é um mundo grande”, declarou.
E além do café? “Quando trabalho aqui [no projeto Fazedores] eu aprendo novas palavras. E [faço] novos amigos. Cada trabalho tem coisas novas e tenho aprendido muito”, afirmou o sírio. Quando acabar o curso, Rajana pretende continuar ligado à música e pensa também em trabalhar com seu novo universo de conhecimento: o café.