Dubai – A Khalifa University, em Abu Dhabi, foi palco da cerimônia de premiação do QS Reimagine Education Awards deste ano, em que o projeto Florestas Inteligentes, uma iniciativa brasileira, conquistou o bronze entre os mais de 1.200 inscritos na categoria Educação para a Sustentabilidade. O prêmio internacional é um dos maiores do mundo na área de educação.
O projeto tem dois anos e é organizado pela Centro Universitário Facens em parceria com o Centro Universitário do Pará (Cesupa). O head de Sustentabilidade e Educação Inovadora do Grupo Splice – grupo multissetorial que tem a Facens como seu braço educacional – e coordenador do projeto Florestas Inteligentes, Vitor Belota, recebeu o prêmio em nome da faculdade e dos alunos, celebrando o reconhecimento internacional (na foto acima, Vitor Belota (esq.) recebe o prêmio das mãos de Barak Cerff, gerente sênior de Produto e vice-presidente do QS Reimagine Education Awards).
Em entrevista à ANBA, Belota contou sobre o projeto que tem como objetivo promover a inovação e o empreendedorismo sustentável em comunidades florestais e envolve estudantes de universidades de todo o Brasil, que desenvolvem soluções para desafios reais enfrentados por essas comunidades.
Belota explicou que todas as soluções desenvolvidas pelos estudantes para o projeto precisam ser tecnologias abertas e de fácil replicação e escalabilidade. “Nosso foco aqui é criar inovação e a forma que temos de trazer escala é indo atrás de financiamento e divulgando essas ideias para instituições que já trabalhem nessas regiões e nessas temáticas, para que possam ajudar a trazer escalabilidade para as soluções que foram criadas”, disse.
Em 2022, o projeto focou no desafio do acesso à água potável na comunidade ribeirinha Ilha do Combú, no Pará. “Mesmo estando em uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, os ribeirinhos não têm acesso à agua potável, porque a água do rio não é própria para consumo, tanto pelo alto fluxo de embarcações, que traz impurezas para a água, como por ter alta concentração de ferro. Os alunos desenvolveram três soluções, que foram implementadas e estão beneficiando a comunidade”, contou Belota.
Este ano, o Florestas Inteligentes teve como ponto focal o desafio da biodiversidade na comunidade. Belota destacou alguns dos projetos de 2023. Foram implementados seis projetos no total, sendo três na Floresta Amazônica, na Ilha de Cotijuba, no Pará, e três em Tapiraí, na Mata Atlântica, em São Paulo.
A equipe vencedora da comunidade de Tapiraí, na Mata Atlântica (SP), implementou uma ideia de captação de água feita por calhas para pequenos agricultores. A água da chuva escoava das calhas para caixas d’água por meio de um sistema de energia solar conectado a um sistema inteligente de irrigação.
“Os próprios agricultores conseguem programar essa irrigação e não precisam gastar o pouco tempo que eles têm para trabalhar com a roça e já programavam a irrigação para acontecer automaticamente durante o dia, o que potencializa muito a produção desses micro e pequenos agricultores”, explicou.
Outro projeto, este na Ilha de Cotijuba, no Pará, foi feito em parceria com o Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MIB), uma associação de mulheres empreendedoras que trabalha na produção de alimentos com sustentabilidade e visa o desenvolvimento social.
“Elas têm uma dificuldade grande, que para vários produtos da bioeconomia amazônica, elas necessitam de homens para fazer as colheitas dos frutos. Por exemplo, o açaí. O modo tradicional de coleta é através da peconha, dos peconheiros, e os jovens estão cada vez menos interessados nesse trabalho, e cada vez menos tem homens disponíveis para fazer essa coleta. Tradicionalmente, isso não é algo que as mulheres fazem, e muitas delas já estão acima dos 40, 50 anos e não têm condições de subir no pé de açaí”, explicou Belota.
Ele afirmou que apesar de haver quem romantize o modo tradicional de coleta, ao conversar com as comunidades, muitas delas gostariam de ferramentas mais práticas para fazer a colheita dos frutos. “Então essa equipe criou um mecanismo que é uma vara feita de alumínio, com vários módulos, que você consegue encaixar e trabalhar a extensão dessa vara. Ela se acopla à árvore e consegue cortar o cacho de açaí, o cacho do tucumã, o coco, e desce os frutos por um mecanismo de garra, como um elevador que desce os frutos. É superinteressante, uma ideia superinovadora, e estamos buscando apoio para em 2024 poder replicar essa tecnologia”, contou.
Belota mencionou ainda outro projeto implementado em Tapiraí, de transformação do gengibre que a comunidade produz no modelo agroflorestal. “Transformar o gengibre in natura em gengibre em pó, que aumenta muito o shelf life (prazo de validade) e o valor agregado, então aumenta a renda dessas comunidades”, disse.
Por último, o coordenador do projeto contou de outra ideia implementada na Amazônia, esta, para transformar o coco, que antes era tratado como lixo, em óleo de coco extravirgem. “Eles produzem muito coco, vendem muito coco, principalmente nessas ilhas de Belém. Esse coco era um resíduo e a equipe criou uma máquina, uma prensa, para poderem transformar esse coco em óleo de coco extravirgem in natura, prensado a frio, para que as mulheres da associação possam vender esse produto com alto valor agregado e gerar renda”, contou.
O prêmio recebido nesta terça-feira (12) em Abu Dhabi é, para Belota, um reconhecimento importante. “Inscrevemos o projeto Florestas Inteligentes nessa premiação, ganhamos a medalha de bronze, o que para nós foi incrível. É um reconhecimento importante do trabalho realizado pelo projeto”, declarou.
Processo seletivo
Cerca de 200 alunos de todo o Brasil se inscreveram no projeto Florestas Inteligentes em 2022 e em 2023. Após intensa capacitação e hackathons, as ideias selecionadas recebem um capital semente para os estudantes tirarem a ideia do papel e implementar nas comunidades.
“Alunos que às vezes nunca saíram de suas cidades, nunca viajaram de avião têm a chance de conhecer os nossos dois maiores patrimônios biológicos brasileiros e implementar projetos que vão ajudar a conservar essa biodiversidade e ajudar a melhorar a qualidade de vida dessas comunidades”, disse Belota.
Durante três meses a partir da implementação, são mensurados os impactos desses projetos nas comunidades, e então é contemplada a ideia mais impactante, proporcionando visibilidade e reconhecimento, além de uma premiação de R$ 5 mil. “Digo que a premiação é simbólica porque na verdade toda a experiência do projeto já vale muito mais”, declarou.
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