São Paulo – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse, em entrevista à ANBA, que são muitas as oportunidades de negócios para as empresas brasileiras na Argélia e em Omã, países que ele visitou na semana passada à frente de uma delegação empresarial.
O governo argelino, por exemplo, apresentou um plano de investimentos de US$ 286 bilhões para os próximos cinco anos. “Tem muita coisa, tem muita obra sendo feita. Não só obras, há possibilidades de cooperação em muitas áreas para as pequenas e médias empresas. Eles (os argelinos) vão fazer qualificação profissional, vão construir escolas, universidades. Isso tudo, fora a área de infraestrutura, como estradas, barragens, portos”, afirmou o ministro.
Jorge foi recebido por diversos ministros argelinos e omanis e pelo presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika. “Ele [Bouteflika] demonstrou mesmo um enorme interesse e um enorme carinho pelo Brasil”, declarou Jorge. O ministro destacou ainda que “há um grande interesse do governo de Omã nas empresas brasileiras”. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
ANBA – O senhor foi recebido por diversos ministros árabes, inclusive pelo presidente Bouteflika. Quais foram os principais assuntos discutidos?
Miguel Jorge – Nessa missão, nós tínhamos que resolver uma questão específica de responsabilidade do ministro da Agricultura [da Argélia], mas nem foi preciso tratar com o ministro, pois o assunto, a questão do impasse nas exportações do frango processado, foi resolvido diretamente com o pessoal da área técnica. Mesmo assim, houve uma reunião longa com o ministro da agricultura. Nós o convidamos para ir ao Brasil, para ele conhecer as experiências, principalmente ligadas ao Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Na Argélia, o que aconteceu foi um fato que não é comum, mas da maior relevância, que foi o presidente [Abdelaziz Bouteflika] ter ficado três horas com a gente. Isso é uma coisa realmente surpreendente.
Como foi o encontro com o presidente?
Ele se mostrou uma pessoa altamente informada sobre vários assuntos, inclusive sobre o Brasil, sobre a Amazônia. Ele demonstrou interesse especial em falar sobre a Amazônia. Falou sobre livros do Lévi-Strauss [antropólogo e filósofo francês], que ele leu contando detalhes sobre ciência e antropologia. Ele perguntou muito sobre os nossos vizinhos, principalmente o [presidente da Venezuela Hugo] Chávez e [presidente da Bolívia Evo] Morales.
Ele falou sobre a relação deles com o [presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva]. Depois ele falou muito sobre Cuba, sobre a situação econômica, sobre o fato das 500 mil pessoas saírem do serviço público. Ele ficou muito interessado na questão do porto que o Brasil está construindo em Cuba. Depois ele pediu que os [seus] ministros solicitassem informações mais detalhadas do projeto do porto. Foi uma conversa muito interessante. Ele lembra muito bem de fatos passados, quando muitos brasileiros se refugiaram na embaixada da Argélia, e muitos brasileiros viveram na Argélia durante anos como refugiados políticos.
O presidente chegou a falar sobre áreas de interesse para cooperação e investimentos entre os dois países?
O presidente falou muito de agricultura. Também falamos sobre a exploração de petróleo em águas ultra profundas. Explicamos a ele como foi essa coisa da descoberta [do pré-sal], da profundidade. E ele ficou muito impressionado que a Petrobras consegue tirar petróleo a mais de 100 quilômetros de profundidade. Depois falamos sobre a questão do etanol, da Amazônia. A discussão sobre a Amazônia foi exatamente em função disso, de que a nossa produção agrícola está muito longe da Amazônia, quer dizer, não passa por lá.
Como nós temos hoje grande produção de grãos e produção de etanol, ele ficou muito impressionado. Destacamos que hoje nós consumimos mais etanol no Brasil do que gasolina. O que ele demonstrou mesmo foi um enorme interesse e um enorme carinho pelo país. Ficou muito feliz, perguntou sobre futebol, pediu para que nós mandássemos um técnico de futebol para a Argélia, porque eles demitiram o técnico de futebol. Aí eu falei: “Mas presidente, nós também demitimos o nosso”.
O governo da Argélia anunciou um plano de investimentos de US$ 286 bilhões. Como as empresas brasileiras poderão ser beneficiadas?
Tem muita coisa, tem muita obra sendo feita. Não só obras, há possibilidades de cooperação em muitas áreas para a pequena e média empresa. Eles vão fazer qualificação profissional, vão construir escolas, universidades, vão construir escolas técnicas também. Isso tudo, fora a área de infraestrutura, como estradas, barragens, portos. Tem muita possibilidade de participação para as nossas empresas, que já têm uma participação no Norte da África importante.
E no caso de Omã? Quais os principais setores de interesse?
Há um grande interesse do governo de Omã nas empresas brasileiras. Houve um pedido específico para que a missão que estava indo para a Argélia fosse à Omã, que é um país pequeno, mas que tem uma atuação muito forte em algumas áreas. Eles também têm um plano de investimentos em infraestrutura. A nossa Vale tem um investimento enorme lá, de cerca de US$ 1,3 bilhão no porto de Sohar. Eles compraram a participação numa empresa omani de pelotas [de minério de ferro] e estão estudando alguns investimentos com a companhia petrolífera de Omã, com possibilidade de investimentos conjunto em países africanos, como Moçambique e Angola.
Tem também uma empresa de engenharia que participou da missão, a Fidens, que tem duas concorrências importantes no país. São dois projetos grandes, um de US$ 400 milhões e o outro de US$ 1,5 bilhão. E a Embraer está participando de uma licitação para a venda de aviões de patrulha marítima. São aqueles aviões que têm uma barriga enorme, onde vão todos os equipamentos para encontrar navios no mar, para procura e salvamento de barcos. Essa é uma licitação que deve sair nos próximos dois ou três meses.
Em novembro haverá mais uma missão para os países árabes?
Nós vamos para Kuwait, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Catar e Síria. Essa será a última missão grande do ano de 2010. Teremos mais umas quatro ou cinco missões menores com secretários e vice-ministros. Fora as que os outros ministérios farão. O ministro [da Defesa Nelson] Jobim, por exemplo, está na China agora.
Qual a importância dos países do Oriente e Médio e Norte da África para o Brasil em termos de oportunidades de parcerias e investimentos?
As empresas brasileiras já têm como foco três áreas importantes. Uma é a América Latina, que é a mais óbvia, a mais próxima e a mais fácil de operar. Até porque a maioria das empresas já tem algo na América Latina. No caso da África, apenas nos últimos quatro ou cinco anos, só com essa atuação do presidente Lula, é que as empresas acordaram para a África. Só havia umas duas ou três empresas operando na África, agora você tem várias. Os países árabes são difíceis por causa da distância, mas são também um foco interessante para essas empresas.
O senhor afirma isso em função das oportunidades que esse mercado oferece?
Pelas oportunidades e porque nós consideramos, com muita evidência, o fato de que as empresas brasileiras deveriam se internacionalizar. Então nós estamos hoje [no mercado externo] como nunca estivemos antes, se considerarmos os últimos oito anos. Há empresas na área de construção civil que historicamente começaram esse processo. A Odebrecht está há trinta anos em Angola.
Nós temos empresas de alimentos que deixaram de ser importadoras e passaram e ser exportadoras. Tinham lá uns entrepostos de distribuição e começaram a atuar nos países, começaram a comprar empresas locais.
Uma das empresas que está aí [na missão], a [construtora] Queiroz Galvão, há três anos eles não tinham nada na região. Nesse período, mais de 10% do faturamento deles já é com a África. É um avanço incrível.
E qual tem sido o caminho para garantir a abertura de portas para as empresas brasileiras no exterior?
Muitas dessas empresas estão fazendo parcerias. É aquela história: os inimigos são os outros. Isso ajuda a divulgar a “marca Brasil”. Um fator fundamental, que eu acho que teve um a mudança visível nos últimos anos, é o engajamento do Ministério das Relações Exteriores, via não só o ministério, como os embaixadores brasileiros.
Basta ver como foram esses últimos encontros. Ele (embaixador) que organiza os encontros, ele que pressiona, ele participa de tudo com a gente, abre caminho para as empresas. As empresas aprenderam que elas podem procurar o embaixador, que ele é uma ferramenta para elas no país. Ele está disposto a trabalhar porque, para ele, isso também é importante. Há alguns anos não havia demanda de empresas nas embaixadas. Quando as empresas foram, eles estavam lá para ajudar e têm respondido de maneira espetacular.