Débora Rubin e Geovana Pagel
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geovana.pagel@anba.com.br
São Paulo – Tudo é superlativo em São Paulo. Do tamanho da cidade ao volume de turistas que desembarcam aqui anualmente – 7,5 milhões, segundo a São Paulo Turismo. E os números não param por aí: são 12,5 mil restaurantes, 550 hotéis, 280 salas de cinema, 71 museus, 120 teatros, 72 shoppings, 34 parques, entre outras atrações. Mas sendo uma cidade cinzenta, de concreto, com poucos dons naturais, São Paulo não tem tradição em turismo de lazer, apenas de negócios. De uns anos para cá, no entanto, a cidade começou a mudar de cara e provar que também pode ser uma metrópole cultural e badalada.
Junte-se a esse processo um esforço da prefeitura de São Paulo em receber cada vez melhor esse turista de negócios e apresentá-lo à cidade que existe do lado de fora do escritório e muito além da avenida Paulista. Nesse sentido, há muita coisa acontecendo – desde taxistas fazendo cursos de inglês para receber melhor o estrangeiro até parceria entre hotéis e teatros e cinemas para dar descontos em diárias.
A "nova" São Paulo já foi tema de matérias de jornais como o The New York Times e o francês Le Monde. Hotéis badalados como o Unique e Emiliano e restaurantes como o tradicional Figueira Rubayat e o moderninho Spot definem a "capital econômica e cultural do Brasil", segundo o The New York Times. Mas a velha São Paulo – do Teatro Municipal, da Pinacoteca, da Estação da Luz – e a prosaica São Paulo – das feirinhas livres, do Mercado Municipal e da 25 de Março – também estão na rota dos turistas.
E como tudo muda muito rápido na cidade, os pontos mais visitados também variam. Segundo a São Paulo Turismo, braço da prefeitura para o setor, após a visita do Papa Bento XVI, em maio, o Mosteiro São Bento, onde ele se hospedou, e o Mosteiro da Luz, onde foi oficializada a canonização de Frei Galvão, viraram os dois novos pontos turísticos da cidade. De todos os lugares mais visitados, no entanto, o primeiríssimo lugar ainda é o Parque do Ibirapuera, um dos poucos refúgios verdes da capital paulista. Depois vem o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e o Museu Paulista – mais conhecido como Museu do Ipiranga.
Sendo a "capital dos negócios", com seus 90 mil eventos por ano, a São Paulo Turismo percebeu que essa pessoa que vem a trabalho é um potencial turista de lazer. A partir dessa idéia, lançou o programa "Fique mais um dia". Como o próprio nome já diz, o objetivo é fazer com que o homem e a mulher de negócios durmam pelo menos mais uma noite na cidade além do previsto e façam algum programa de lazer nesse período extra. Uma noite a mais desses turistas aumentaria em R$ 1 bilhão a receita do setor na cidade, de acordo com o órgão. E geraria 65 mil novos postos de trabalho. O programa foi lançado há menos de um ano.
Segundo Caio Luiz de Carvalho, presidente da SP Turismo, antes mesmo de o programa ser lançado, já se sentiu uma melhoria na taxa de ocupação da rede hoteleira de 2005 para 2006. "Nesse período, houve um aumento de 9,6% em ocupação nos hotéis", diz. Carvalho lembra que o turista de negócios, mesmo ficando pouco, gasta o dobro do que o turista de lazer. "O primeiro deixa em torno de US$ 300 por dia em São Paulo enquanto o que vai a passeio ao nordeste gasta metade disso", diz.
Aline Del Manto, professora de Turismo do Centro Universitário Senac, diz que é possível perceber que o turismo vem crescendo na cidade por meio do recolhimento de Imposto Sobre Serviço. "Nos últimos três anos, a arrecadação do ISS vem crescendo mês a mês, ano a ano. Isso está diretamente relacionado com o uso dos serviços – não só de hotel e restaurante mas também de cinema, teatro, comércio, etc.", diz a professora, que também trabalha na São Paulo Turismo.
Novos visitantes
Para Caio Luiz de Carvalho, o vôo da Emirates Airline, que será inaugurado em outubro – serão seis vôos semanais entre Dubai e São Paulo – não vai trazer um aumento quantitativo para a cidade, mas qualitativo. "Vai trazer para São Paulo um novo tipo de executivo e de turista, com alto poder aquisitivo. Esse vôo representa uma ligação muito bem vinda não só com Dubai mas com muitas outras cidades do Oriente", diz Carvalho.
Nesse sentido a Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo – vem fazendo um trabalho de aproximação com esse novo público que começa a desembarcar aqui no segundo semestre. Segundo Jeanine Pires, presidente da Embratur, são quatro destinos trabalhados com a Emirates Holiday, agência de turismo da companhia aérea árabe: Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Manaus e São Paulo – para este último, a idéia é fazer um trabalho em parceria com a Apex (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos) para divulgar a cidade em eventos e feiras mundo afora.
Segundo Jeanine, uma equipe da Embratur levantou informações sobre os turistas que devem vir do Oriente junto com o novo vôo. "São pessoas que viajam em família e costumam passar longos períodos nos destinos escolhidos. Além disso, buscam hotéis sofisticados, de luxo", conta Jeanine. "São também muito interessados pela cultura do país que visitam e gostam de comprar".
Mais negócios, mais turistas
Em 2006, São Paulo ultrapassou o Rio de Janeiro em número de eventos internacionais, segundo os números da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA). A capital paulista ficou em 18º lugar, com 54 eventos internacionais, na frente do Rio de Janeiro, tradicionalmente a cidade de melhor colocação entre as brasileiras, que ficou em 26°, com 48 eventos.
O Brasil, como um todo, ficou em sétimo lugar com 207 encontros internacionais. Importante lembrar que nesse ranking só entram eventos que seguem os critérios da ICCA – entre eles, ter mais de 50 participantes e já ter sido realizado em outros países. Mas no que depender do São Paulo Convention & Visitors Bureau, em 2008 a cidade estará na 10º posição do ranking.
Fora das regras rígidas da ICCA, São Paulo abriga uma infinidade de eventos. Segundo o São Paulo Convention, a cidade realiza em média um evento a cada seis minutos, contando congressos, simpósios, convenções, conferências e outros do gênero.
Em 2003, a Embratur criou uma diretoria especial para área de negócios e eventos. Segundo Marcelo Pedroso, atual diretor da área, o objetivo é fomentar cada vez mais esse segmento no país. Segundo Pedroso, 29,1% do turismo brasileiro é de negócios. E quem vem a trabalho costuma ficar mais em hotéis que quem vem a lazer: 87% contra 68%. "Estamos traçando um perfil de quem vem a trabalho, até para saber quais são seus interesses, seu perfil de consumo, se ele tem interesse em conhecer melhor o país."
Segundo Pedroso, embora a idéia seja distribuir cada vez mais os eventos em outras cidades brasileiras, São Paulo tem uma infra-estrutura que a põe em pé de igualdade com outras grandes cidades do mundo. Ou seja, ainda há muito espaço para crescer no que diz respeito a eventos.
Uma das áreas que mais atraem congressos na cidade é a médica. A moda, com o sucesso do São Paulo Fashion Week, também é outro tema que traz gente de fora. E até atrações mais irreverentes, como a Parada Gay, que acontece neste fim de semana (dia 10), que leva cerca de três milhões de pessoas para a Avenida Paulista. "São Paulo é uma cidade que dita tendências, moda. Que não tem a palavra intolerância em seu vocabulário", resume Carvalho, da SP Turismo.
Tudo de bom
Antes de convencer o turista de que São Paulo é um bom destino, é preciso convencer seus moradores de que a cidade é boa. Se o paulistano, ou o cidadão que vive aqui, valorizar a cidade, fica mais fácil acolher o visitante. Pensando nisso, o São Paulo Convention & Visitors Bureau lançou em 2006 a campanha "São Paulo é Tudo de Bom", para estimular o amor dos moradores à cidade. A campanha usa celebridades e é veiculada em jornais, rádio, TV e revistas de todo o país.
"É bom lembrar que, embora não muito acostumado ao estrangeiro, o paulistano trata muito bem o turista. São Paulo ficou em quinto lugar no ranking das cidades mais gentis da América Latina", finaliza Carvalho, da SP Turismo.
Que venham os turistas.
Saiba mais:
www.spturis.com
www.cidadedesaopaulo.com
www.visitesaopaulo.com
www.fiquemaisumdia.com.br
