Doha – Um dos principais instrumentos da estratégia de diversificação econômica do Catar é a Qatar Investment Authority (QIA), fundo soberano alimentado por recursos da indústria do petróleo e gás, especialmente do gás natural liquefeito (GNL), produto do qual o país é grande exportador. Por meio da Qatar Holding, seu braço executivo, e outras subsidiárias, o fundo investe ao redor do mundo e nos mais variados setores.
Em entrevista à ANBA, o CEO da Qatar Holding, Ahmad Al-Sayed, disse que a empresa é “oportunista” e sempre procura por negócios atrativos. Atualmente ela está de olho no Brasil, pois em janeiro, durante visita do emir Hamad Bin Khalifa Al Thani a Brasília, foram assinados acordos de cooperação com a Vale, a Previ, que é o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“No Brasil, nós estamos focados em commodities, recursos naturais, agricultura, estamos conversando sobre isso. Essas são, em geral, áreas que estamos olhando”, afirmou Sayed, acrescentando, porém, que a empresa não descarta “olhar mais de perto” outras oportunidades.
Ele ressaltou que a Qatar Holding já tem algum investimento no Brasil, “mas não muito grande”. “Estamos prevendo aumentar [os investimentos]. O país tem o nosso interesse”, declarou. Segundo o executivo, sua empresa e as parceiras brasileiras estão trabalhando em busca de oportunidades e algo deve surgir em breve. “Estamos otimistas de que nossas equipes vão achar alguma coisa logo”, acrescentou.
Não há, de acordo com Sayed, um volume específico de recursos a ser aplicado no Brasil ou em negócios conjuntos com empresas brasileiras. O total destinado é decidido caso a caso. Os acordos prevêem também a procura por oportunidades de investimentos mútuos em outros países.
O fundo soberano do Catar investe também em áreas como a indústria, imóveis e comércio. Recentemente, por exemplo, a Qatar Holding anunciou a compra da tradicional loja de departamentos inglesa Harrods, do milionário egípcio Mohamed Al-Fayed. A companhia é também uma das maiores acionistas do grupo Volkswagen, para citar mais um exemplo. A QIA tem ainda uma subsidiária só para o ramo imobiliário, a Qatari Diar.
Sayed não revelou qual o total dos recursos do fundo, pois disse que o dado é confidencial. Informações de mercado, já publicadas pela imprensa, porém, falam que a QIA administra algo entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões. Na prática, o que o fundo soberano faz é aplicar em outras áreas o dinheiro obtido com as exportações de hidrocarbonetos, garantindo assim novas fontes de receitas ao país.
O executivo acrescentou que o fundo passou sem estragos pela crise financeira internacional e está dando lucro. “O primeiro-ministro anunciou que nós estamos ganhando dinheiro atualmente, felizmente. Em 2009 fomos muito bem e em 2010, até agora, estamos indo bem”, disse ele, referindo-se ao premiê catariano Hamad Bin Jassem Al-Thani, que é também CEO da QIA e ministro das Relações Exteriores.
Atração de negócios
Na seara interna, segundo a vice-gerente geral da Associação dos Empresários Catarianos (QBA, na sigla em inglês), Sarah Abdallah, o país quer ter uma economia “balanceada”. Ela acredita que o Brasil, que tem uma economia bastante diversificada, pode ajudar com suas experiências.
O Catar quer também atrair empresas brasileiras e isso já está ocorrendo. A construtora Andrade Gutierrez, que toca várias obras no mundo árabe, por exemplo, está instalando um escritório em Doha para prospectar o mercado local, que promete boas oportunidades na área de infraestrutura.
A economia do país, segundo Sarah, suportou bem a crise internacional pois a indústria do GNL, principal fonte local de receita, foi menos atingida do que a área do petróleo propriamente dita. Ela acrescentou que o Catar quer fortalecer o setor privado por meio das pequenas e médias empresas – hoje muitos dos negócios estão nas mãos de estatais – e desenvolver o setor bancário, a indústria e o turismo, especialmente de negócios.
Nesse último item, a Qatar Airways tem um papel fundamental. A companhia aérea tem investido no aumento de rotas e, a partir de 24 de junho, terá um vôo direto para São Paulo. No caso do Brasil, sua principal concorrente será a Emirates Airline, que faz o trajeto entre Dubai e a capital paulista. O CEO da empresa, Akbar Al Baker, afirmou que os grandes diferenciais serão a qualidade dos serviços e a rapidez nas conexões.
Mas, a princípio, a empresa parece querer ganhar a clientela pelo preço. Em anúncio publicado na quinta-feira passada (20) no jornal O Estado de S. Paulo, a Qatar Airways oferecia passagens de ida e volta para Beirute, no Líbano, via Doha, por R$ 1.531,00, valor bastante competitivo no que diz respeito às viagens ao Oriente Médio. “[O vôo] vai criar grandes oportunidades entre os dois países (Brasil e Catar)”, disse o executivo.

