São Paulo – Se antes os custos de viagem dificultavam as relações internacionais, agora novos acordos e negociações acontecem no ambiente virtual. Palestrantes do segundo dia do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes discutiram as vantagens competitivas do mundo pós-pandemia e a urgência de adotar os conceitos da quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0.
“Este fórum online é um bom exemplo para mostrar o fortalecimento dos relacionamentos digitais nos últimos meses”, disse o diretor-geral da Orient Planet, Nidal Abou Zaki (foto acima), em transmissão ao vivo de seu escritório nos Emirados Árabes Unidos. “Temos novas regras em jogo, novas leis. Antes precisávamos assinar o mesmo papel de um contrato. Agora assinamos acordos de forma remota. O mundo mudou.”
O secretário-geral da União das Câmaras Árabes e moderador do painel “Uma Nova Ordem dos Negócios Internacionais”, Khaled Hanafy, do Egito, comentou que as transformações dos últimos cinco anos aceleraram ainda mais durante a pandemia. “Em 1995, começamos a falar de globalização e internet”, disse Hanafy. “Agora estamos testemunhando a Indústria 4.0, conceito apresentado pelo economista Klaus Schwab no livro A Quarta Revolução Industrial, de 2016. Mas tudo será muito mais rápido.”
O diretor executivo da C4IR Brasil (Centro para a Quarta Revolução Industrial), o brasileiro Lucas Câmara, comentou que a pandemia trouxe ainda mais urgência para a forma como os países estão regulando as tecnologias emergentes que são os pilares da Indústria 4.0, como internet das coisas, inteligência artificial, robótica e impressão 3D.
De acordo com Câmara, o principal ponto é a necessidade de colaboração entre os países. “Assim como o vírus não vê barreiras geográficas, as tecnologias — especialmente os dados — também fluem livremente entre os países”, falou. “Precisamos deixar o individualismo de lado, encontrar novas métricas de sucesso além do PIB e construir confiança entre as pessoas para que as tecnologias entrem na sociedade de forma adequada.”
A fundadora da InovaHouse3D, Juliana Martinelli, do Brasil, afirmou que a tecnologia da sua empresa, que desenvolveu a primeira impressora 3D de concreto para construção civil da América Latina, tem interesse em colaborar com outros países. “Temos a missão de alavancar o uso dessa tecnologia no mundo”, afirmou. “Estamos abertos para transferir nossa tecnologia e nossos conhecimentos em materiais e maquinários.”
A pandemia aproximou países e acelerou a adoção de ferramentas digitais. O secretário-geral do Estabelecimento Autônomo de Controle e Coordenação das Exportações, Najeeb Al-Azouzi, comentou que a economia do seu país, o Marrocos, também foi afetada de forma inesperada por conta da covid-19. “Para continuarmos fazendo negócios, agilizamos o programa digital para realizar inspeção em produtos alimentícios e levamos feiras agrícolas para o ambiente virtual”, disse.
Afinal, o turismo de eventos e lazer foi um dos mercados altamente impactados. “Como o comportamento do viajante mudará no curto e médio prazo?”, questionou Fazal Bahardeen, CEO e fundador da CrescentRating, de Cingapura. Entre as prioridades atuais está garantir a segurança.” Segundo o executivo, a retomada será dividida em quatro fases: turismo doméstico, “bolhas de viagem” — parcerias entre países vizinhos com níveis baixos de infecção —, turismo regional e, por último, o internacional.
A apresentação de todos os participantes do painel mostrou como a pandemia acelerou a mudança de paradigmas que essa nova revolução impõe aos negócios e à forma como as pessoas interagem, produzem, compram e aprendem. “Tenho muita confiança que a pandemia vai passar”, afirmou o diretor executivo da C4IR Brasil. “O que não vai passar é a quarta revolução industrial.”
Promovido pela Câmara Árabe com parceria da União das Câmaras Árabes e Liga Árabe, o evento online começou na segunda-feira (19) e segue até quinta-feira (22). A apresentação é da jornalista e apresentadora Renata Maron. Além de plenário com debates, ocorre uma exposição virtual onde empresas brasileiras e árabes apresentam seus produtos e serviços.
Acompanhe a cobertura completa do fórum no site da ANBA.
Reportagem de Camila Balthazar, especial para a ANBA